Cidades

Primeiro dia de aula é sinônimo de frio na barriga para pais e filhos

Segundo estimativa da Secretaria de Educação, aproximadamente 171 mil estudantes encheram as salas de aulas do Distrito Federal na segunda-feira.

Aline Brito*, Mariana Machado
postado em 29/01/2019 06:00
alunos de volta às aulas

O ano letivo começou na segunda-feira (28/1) para a maioria dos colégios particulares. Segundo estimativa da Secretaria de Educação, aproximadamente 171 mil estudantes encheram as salas de aulas do Distrito Federal na segunda-feira. Alguns, como a pequena Júlia Souza, de apenas 2 anos, pisaram pela primeira vez na vida num ambiente escolar. De mochilinha nos ombros e vestindo uniforme, a pequena está se adaptando à nova rotina. Na hora da saída, pai e mãe foram buscar tanto ela quanto o irmão mais velho, Gabriel Souza, de 7 anos.

A mãe, a advogada e professora Ana Paula Correia, 33, deixou a dupla cedo no colégio. ;É difícil com os dois (filhos). No caso dele, a gente vê que está crescendo cada vez mais rápido e no dela, não vou negar que o coração apertou um pouquinho, porque é muita mudança;, comenta. ;Foi um pouco complicado para a Júlia. O pai a trouxe no colo e, na hora de ir embora, a pequena o agarrou e não queria soltá-lo. A gente tem que ser forte, não pode olhar para trás nem chorar, porque senão ela chora também. Dói, mas eles se acostumam;, avalia Ana Paula.

A servidora pública Rafaela Nascimento, 40, conta que chorou um pouco ao se despedir da filha, Júlia Nascimento, de 3 anos. ;Meu marido também ficou emocionado. A gente fica preocupada, porque é um desligamento dela com os pais, mas sabemos que faz parte do aprendizado. Ela está começando a falar, então o convívio com os coleguinhas vai ser bom para o desenvolvimento dela;, afirma. Independente, a Juju, como é chamada carinhosamente por Rafaela, logo fez amiguinhos. ;A professora disse que ela foi superbem, vamos torcer para continuar assim;, ri a mãe.

A família agora vai precisar de determinação para equilibrar os novos horários. Moradores de Águas Claras, os pais deixam a menina na escola, na Asa Sul, antes das 8h, e seguem para o trabalho, também no Plano Piloto. Ao meio-dia, é hora de buscar a garotinha e deixá-la no Guará, na casa da mãe de Rafaela. ;De tarde nós voltamos ao trabalho e só à noite buscamos a Juju e voltamos para casa. A rotina vai ser muito doida;, acredita Rafaela.


Novo ritmo

O recomeço das aulas traz para muitas famílias a sensação de que só agora o ano começou. A psicóloga Daianna Tavares, 36, levanta cedo para deixar o filho, Jonathan Tavares, 15, na escola que fica na Asa Sul. Como o garoto tem dificuldades de locomoção, a mãe precisa chegar ainda mais cedo. ;Gasto meia hora para montar o andador dele e chegarmos na sala de aula, que fica um pouco distante. Moramos no Cruzeiro e pegamos um pouco de trânsito;. Como o rapaz, que começou na segunda-feira o ensino médio, terá agora aulas pela manhã e pela tarde, Daianna se prepara para o novo ritmo acelerado.

Mas nem só as mudanças na rotina são aspectos que preocupam os pais. A segurança dentro e fora do ambiente escolar são motivo de atenção. Morador da Octogonal, o gerente de projetos Daniel Strehl fica de olho no filho, Christopher Strehl, de 9 anos. Ele conta que foram registrados recentemente casos de roubo de veículo e até tentativa de sequestro nas proximidades da escola do menino, que fica na 911 Sul. ;Por ser perto do Parque da Cidade, acredito que se torne mais perigoso. No ano passado foram dois casos de assalto;, relatou.



Mesmo já acostumada a ver o filho Gabriel Souza na escola, o dia foi especialmente difícil para Ana Paula, que também precisou se despedir da caçula Júlia Souza


Segurança

Para alertar pais, professores e alunos, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) iniciou uma série de ações nos centros de ensino. A primeira a receber as atividades educativas foi o La Salle de Águas Claras. Os alunos puderam ver uma série de demonstrações, como o trabalho feito pelo Batalhão de Policiamento com Cães (BPCães). Segundo o major Lobato Marques, representante do Comando de Policiamento Escolar, mais de 600 escolas terão as atividades. Além disso, 150 oficiais do Batalhão Escolar farão a segurança nas redondezas dos colégios durante as primeiras semanas de aula. ;O objetivo é dar um estalo nos pais para que eles estejam mais atentos à segurança dos jovens;, explica.

Polícia Militar fará ações nas escolas públicas e particulares do DF com palestras, demonstrações e distribuição de cartilhas alertando, pais, professores e alunos sobre segurançaDe acordo com Marques, os principais delitos que acontecem nessas regiões são de furtos a aparelhos eletrônicos, uso e porte de drogas, tráfico e violência. ;Este ano estamos focando na orientação e prevenção. Alertamos os pais para acompanhar o que os filhos fazem;, afirma o major. Além das atividades lúdicas, os policiais fazem palestras e distribuem cartilhas de segurança. A partir de 11 de fevereiro, as ações continuam na rede pública de ensino (leia para saber mais).

A professora Fernanda Simões, 44 anos, defende mais policiamento, especialmente onde há muitos estudantes. ;Vi casos de agressão, de rixa entre alunos. Então, deveria ter batalhão policial todo dia. Com mais policiamento, poderia evitar até esse tipo de violência entre os alunos e com os alunos também;, disse Fernanda.

Trânsito

A volta às aulas também significa mais carros nas ruas e, consequentemente, mais congestionamentos. Segundo o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), durante o período letivo, há um aumento de, em média, 25% de veículos nas ruas em relação ao período de férias. São, aproximadamente, 350 mil veículos a mais circulando pelo DF. Com isso, a rotina das famílias com filhos nas escolas é impactada.

O bancário Christian Silveira e a professora Katiana Sousa moram no Sudoeste e têm duas filhas, uma de 7 anos e outra de 10, que estudam em uma escola da 912 Sul. Para eles, o trânsito denso ocasionado pelo início das aulas atrapalha a locomoção. ;Nos primeiros dias é tranquilo, porque nem todos os alunos voltam das férias no início. A partir da segunda semana, vai ficando mais complicado;, afirmou o casal.

A aula inicia às 7h30, a rotina da casa muda para cumprir os horários estipulados pela escola, sempre pensando no fluxo do trânsito e no tempo de deslocamento. ;Temos que dormir mais cedo e acordar mais cedo. As crianças são as que mais sofrem, porque o relógio biológico delas fica todo desregulado;, conta Christian. Mas, mesmo saindo de casa com antecedência, às vezes eles não conseguem chegar a tempo. ;O trânsito é imprevisível. Qualquer acidente, qualquer carro parado causa um atraso de 20 minutos a meia hora;, diz o bancário.

O Detran recomenda aos pais que tenham atenção ao trânsito, principalmente às faixas de pedestres e travessia de crianças. Além disso, o uso de cadeirinha, assento de elevação ou outros dispositivos são indispensáveis. Estacionar em local permitido e de forma regular também é uma das principais recomendações. ;Às vezes, os pais pensam que será rápido, estacionam o veículo de qualquer jeito e acaba aglomerado muitos carros em frente à escola, o que atrapalha o fluxo e prejudica o campo de visão de outros motoristas;, apontou o assessor de comunicação do Detran, Glauber Peixoto. Aos que optam por contratar o serviço de transporte escolar, Peixoto recomenda que sejam verificadas as credenciais do veículo e do motorista.

Equipes da Diretoria de Educação do Detran realizaram, no início da tarde desta segunda-feira, primeiro dia do período letivo, ações educativas próximo a escolas da 911 e 912 Sul. Além disso, as equipes de fiscalização prestaram apoio no trânsito, uma vez que no início da tarde, quando os alunos do período matutino estão saindo e os do período vespertino estão chegando, o fluxo de veículos em regiões onde se concentram escolas fica mais denso.

* Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira


Para saber mais

A partir do dia 11 de fevereiro, os alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal voltam às salas. Segundo a Secretaria de Educação, cerca de 460 mil estudantes são aguardados nas 678 unidades escolares. Ao todo, são 26 mil professores na rede.

150
policiais militares escalados pelo Batalhão Escolar para fazer a segurança dos alunos

171 mil
alunos voltaram às aulas na segunda-feira (28/1)

12 mil
professores retornaram para o ano letivo

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