Cidades

Grávida denuncia Saúde após peregrinar por hospitais e perder bebê

Mesmo alegando fortes dores, Andreia Rodrigues Brito, de 23 anos, foi mandada de volta para casa todas as vezes que procurou as unidades. Decidiu, então, fazer uma ecografia em uma clínica particular, que indicou a morte do feto. O marido registrou boletim de ocorrência, alegando negligência

Bruna Lima - Especial para o Correio
postado em 29/01/2019 07:00

De acordo com a família, o hospital não informou a causa da morte do bebê

Em menos de duas semanas, Andreia Rodrigues Brito, de 23 anos, grávida de nove meses, procurou a rede pública de saúde por quatro vezes, sentindo fortes na barriga. Em todos os casos, foi mandada de volta para casa, sob a justificativa de que o quadro não apresentaria riscos à saúde do bebê. Desconfiada de que haveria algo de errado com a criança, resolveu fazer uma ecografia, no sábado (26/1), em uma clínica particular. O exame indicou que já não havia batimentos cardíacos e, só então, Andreia conseguiu realizar a cesariana. Ainda assim, depois de ficar mais de um dia com o bebê morto na barriga.

Esse é o relato da mãe, que já aguardava ansiosa pela chegada de Caleb, o segundo filho dela com o marido, Gabriel Carvalho, de 20 anos. Em um vídeo gravado por familiares enquanto esperava pela cirurgia, Andreia desabafa, emocionada. "O que eu vou fazer, meu Deus. As coisinhas dele tudo arrumadinha (sic), esperando ele chegar. Tá difícil demais. Saber que não vou poder cuidar dele, amamentar ele. Por conta de irresponsabilidade, isso não é certo não."

A saga à procura de atendimento começou depois que a mãe descobriu, por meio de uma ecografia de rotina, que o bebê estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço. "A médica disse que isso não era grave. Mas que se ela sentisse qualquer dor, que deveria ir imediatamente ao hospital para verificar se a criança não estava em sofrimento", detalha a mãe da grávida, Aldenira Brito de Sá.

A família conta que foram três idas ao Hospital Regional do Gama (HRG) e outra ao Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), onde foi informada de que o caso só poderia ser recebido, de fato, no Gama, segundo determinação da Secretaria de Saúde. "Mesmo sabendo que o cordãozinho estava no pescoço dele, liberaram ela. Disseram que eram contrações falsas e pronto, sem o menor cuidado", alega o marido, Gabriel.

Cansada de sentir dores e continuar sem respostas, Andreia resolveu pagar outra ecografia, por conta própria. Só assim veio a notícia. "Na hora que a médica passou o gelzinho na barriga dela e colocou o aparelhinho, já mudou de feição. Ela falou: ;Oh, Andreia, eu não estou achando o coraçãozinho do seu neném;. Só de lembrar a cara da minha filha", lamenta a mãe, chorando muito.

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Da clínica particular, Andreia seguiu direto ao HRG, na manhã de sábado (26/1), com os resultados que indicavam a morte do bebê. Somente nesse momento foi internada e, mesmo assim, precisou aguardar até a tarde de domingo (27) para retirar o feto. De acordo com a sogra, Rosilda Carvalho, que ficou como acompanhante no hospital, as equipes queriam dar remédios para induzir a saída do feto naturalmente, mesmo com os exames indicando a impossibilidade de que a paciente tivesse um parto natural.

"Ela tem o útero fechado, só podia ser a cesária. E teve que ficar lá prolongando o sofrimento porque o médico disse que ela não era prioridade, como nunca foi, pelo visto. Esse hospital (HRG) está um caos. É um horror, assim como toda a saúde pública", desabafa a sogra.

De acordo com a família, o hospital não informou a causa da morte do bebê. Por isso, decidiram levar o feto ao Instituto de Medicina Legal para que a polícia possa indicar o que, de fato, aconteceu. O caso foi registrado na Polícia Civil, que vai investigar se houve ou não negligência médica.

O que diz a Saúde

Em nota, a Secretaria de Saúde afirma que a paciente recebeu "toda a assistência da equipe multiprofissional". Também, que a cesariana feita para retirar o bebê ocorreu dentro da normalidade. Quanto aos procedimentos anteriores ao diagnóstico do óbito, a pasta alega três atendimentos emergenciais à paciente, em que "o médico verificou que o batimento cardiofetal estava dentro do esperado (140bpm), solicitou ecodopler fetal e liberou a paciente para retorno após realização do exame."

A família, no entanto, nega. Segundo eles, a própria Andreia resolveu pagar uma ecografia porque estava preocupada e foi quando descobriu que o bebê estava morto.

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