Helena Mader
postado em 30/01/2019 06:00
A Operação Circus Maximus, deflagrada ontem pela Polícia Federal, prendeu diretores do Banco de Brasília (BRB), ex-dirigentes da instituição e empresários. Os servidores da entidade financeira são acusados de receber R$ 40 milhões em propina para liberar investimentos em empreendimentos imobiliários. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), as fraudes teriam ocorrido na construção de pelo menos duas empreitadas: o antigo Trump Hotel, no Rio de Janeiro, rebatizado de LSH Lifestyle, e o Praça Capital, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA).
Entre os presos está o diretor presidente do BRB, Vasco Cunha Gonçalves, atualmente licenciado, e os diretores das áreas de serviços e produtos, de recursos de terceiros e financeiro. Além de 14 prisões, os policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão de documentos, aparelhos eletrônicos e telefones celulares no Distrito Federal, Rio de Janeiro, Espírito Santo e em São Paulo.
As investigações contaram com a participação de procuradores da força-tarefa da Operação Greenfield e começaram a partir de delações premiadas de executivos da Odebrecht e do doleiro Lúcio Funaro. Os colaboradores relataram pagamentos de propina a agentes públicos do BRB em troca de aportes de recursos do BRB ou do BRB DTVM ; uma distribuidora de títulos e valores mobiliários coligada ao banco. O dinheiro também saía de fundos de investimentos administrados pelo BRB. A Operação Circus Maximus contou com provas da Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro.
Um dos fundos investigados foi constituído em 2012 para viabilizar a construção do Trump Hotel, no Rio de Janeiro. O negócio era encabeçado pelos empresários Ricardo Rodrigues, Arthur Soares Filhos e Paulo Figueiredo Filho ; neto do ex-presidente João Figueiredo. A empreitada entrou na mira dos procuradores da Operação Greenfield em 2016, depois de receber aportes do fundo de pensão Serpros.
De acordo com o MPF, as irregularidades envolvendo o BRB começaram em 2014. No caso do fundo que financiou o projeto Praça Capital, no SIA, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10; Vara Federal de Brasília, frisou que o empreendimento, ;pelo seu insucesso, causou notável prejuízo aos investidores e beneficiários dos fundos de investimentos, tanto mais pela irresponsabilidade de dirigentes dos fundos de investimentos e gestores que investem milhões em negócios aparentemente fadados a dar prejuízo;.
;As provas indicam que se formou uma estruturada verdadeira organização criminosa ainda hoje em atuação no Banco de Brasília e nas Instituições de regime de previdência (RPPS), que, aliada a empresários que sobreprecificam e multiplicam seus investimentos, são deletérios ao sistema financeiro nacional e a ética nos negócios bancários, em especial bancos públicos;, acrescentou o magistrado, na decisão em que determinou a prisão de 14 acusados.
Campanha
As investigações do Ministério Público Federal citam a negociação de recursos para supostamente pagar dívidas de campanha do ex-governador Rodrigo Rollemberg. Segundo o MPF, Henrique Domingues Neto, sócio da Biam DTVM, teria procurado o empresário Ricardo Rodrigues, delator do esquema, em 2015. Nas negociações, Henrique teria prometido um aporte de R$ 3 milhões nos negócios de Rodrigues, provenientes do instituto de previdência de Santos. Em troca, o colaborador pagaria R$ 250 mil a Ricardo Leal ; posteriormente, indicado como conselheiro no Conselho de Administração do BRB.
Desse montante, R$ 100 mil seriam pagos em espécie para a quitação de dívidas de campanha do ex-governador. Em nota, Rollemberg afirmou que, durante o período em que governou o DF, ;o BRB teve autonomia administrativa e financeira, sem qualquer tipo de intervenção;. Ainda de acordo com ex-governador, Ricardo Leal nunca foi tesoureiro de suas campanhas. O PSB-DF, partido do ex-chefe do Buriti, divulgou nota em que reafirmou a autonomia do BRB durante a gestão de Rollemberg. ;Não houve dívida na campanha eleitoral de 2014 para governador do DF. Todos os serviços contratados foram devidamente quitados antes mesmo da apresentação das contas;, assegura a sigla.
A decisão da 10; Vara Federal de Brasília menciona a possibilidade de o grupo ter atuado em outras áreas do BRB, como cartões, seguros e financiamentos, e cita outros investimentos do BRB com características semelhantes, como a emissão de debêntures do Correio Braziliense, em que pode ter havido irregularidades. O Correio esclarece que a emissão de debêntures mencionada na decisão judicial foi uma operação estruturada, que seguiu todas as regras do mercado financeiro. Ressalta ainda que toda a operação foi balizada em garantias reais e que a empresa não foi alvo de nenhuma medida investigativa relativa à operação. O Correio vai procurar as autoridades para se colocar à disposição e esclarecer qualquer dúvida. Em seis décadas de atuação, o jornal sempre se pautou pela transparência e pela defesa dos interesses da sociedade.
Em nota, o BRB informou que ;apoia e coopera integralmente com todos os órgãos competentes que conduzem a operação;. A instituição garantiu ainda que ;adotará todas as medidas judiciais cabíveis visando preservar o banco e suas empresas controladas;.
Mudanças
Ontem, após a deflagração da Operação Circus Maximus, o governador Ibaneis Rocha anunciou novidades para a gestão do BRB. ;Eu aguardava que isso viesse a ocorrer, porque tinha notícias de que as coisas no BRB não andavam muito bem. Mas posso garantir que, na nossa gestão, os nomes que foram indicados são da mais extrema qualidade;, afirmou o chefe do Buriti. Paulo Henrique Costa, futuro presidente do banco, foi sabatinado pela Câmara Legislativa e aguarda o aval do Banco Central para tomar posse. ;Dei liberdade total a ele na nomeação das diretorias. Espero que o BRB, agora, passe a servir a cidade. Essa é a nossa expectativa;, acrescentou Ibaneis.
Entre os novos projetos para o Banco de Brasília antecipados pelo governador estão a concessão de financiamento para lotes em áreas de regularização e projetos de liquidação de dívidas, especialmente de servidores. ;São diversas iniciativas para reinserir o BRB na vida do brasiliense. Vamos dar outra característica para o banco. Estamos negociando, por exemplo, trazer a folha de pagamento de Mato Grosso para o BRB;, detalhou Ibaneis. Na Câmara Legislativa, deputados aliados do governo articulavam ontem a criação de uma CPI para investigar irregularidades no banco.
Troca no Banestes
Vasco Cunha Gonçalves, que havia se licenciado da Presidência do BRB para assumir o comando do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), deixou o cargo ontem. Em nota, o Banestes informou que designou o diretor de Tecnologia, Silvio Henrique Brunoro Grillo, para exercer cumulativamente o comando da instituição. ;O Banestes aguarda o andamento das investigações pelos órgãos competentes, e maiores informações, assim que confirmadas, serão tempestivamente comunicadas ao mercado em geral;, declarou o banco.