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Opinião: o medo de cada dia

Há um ano, Brasília vivia um dia de angústia, quando o viaduto da Galeria dos Estados desabou, esmagando quatro carros e destruindo um restaurante. Uma cena realmente assustadora. Ninguém morreu ou sequer houve feridos, por pura sorte. E o que se aprendeu de lá para cá?

Anderson Costolli
postado em 06/02/2019 06:03
Obras no viaduto do eixão que desabou em fevereiro de 2018.
Em 2015, rompeu-se a barragem da Samarco, em Mariana (MG), provocando um desastre ambiental incalculável e um número de mortes que deixou o Brasil consternado: 19 vidas foram ceifadas na tragédia, considerada um crime ambiental provocado pela Vale, empresa responsável pelo minério na região. Após o ocorrido, várias vistorias foram feitas em tudo quanto é barragem Brasil afora. Ao que parece, de nada adiantou. Brumadinho está aí para provar isso. Pouco mais de três anos depois, uma tragédia humana ainda maior. Até então, 142 corpos encontrados e 194 pessoas ainda desaparecidas ; a esperança de que estejam vivas é mínima. Nada se aprendeu com a primeira tragédia. Absolutamente nada.

Há um ano, Brasília vivia um dia de angústia, quando o viaduto da Galeria dos Estados desabou, esmagando quatro carros e destruindo um restaurante. Uma cena realmente assustadora. Ninguém morreu ou sequer houve feridos, por pura sorte. E o que se aprendeu de lá para cá? Vamos ver.

Aprender com os erros ; seus ou de outras pessoas ; é o mínimo que se pode esperar de uma gestão, seja ela pública, seja privada. No caso do DF, foram feitas vistorias em vários viadutos após o desabamento. Um dos mais precários é a ponte do Bragueto, que dá acesso à Saída Norte da cidade. Diversas fotos feitas pelos repórteres fotográficos do Correio denunciaram o abandono. É assustador. As obras deveriam ficar prontas até o fim do ano. O próprio elevado da Galeria dos Estados continua à espera da conclusão dos reparos. O novo governador do DF, Ibaneis Rocha, quer tudo pronto ate o fim de março. O Departamento de Estradas e Rodagens (DER) aposta em junho, com uma pequena possibilidade concluir 100% das obras antes do prazo, como deseja o chefe do Buriti.

Diante de toda mazela, o que preocupa mesmo são as vidas que correm risco por onde quer que passam. Afinal de contas, o que não falta são viadutos em Brasília. Pontes, tesourinhas, um túnel, chamado de Buraco do Tatu... Quem passa por ali diariamente sente calafrios, por medo de o pior acontecer. É um medo legítimo, diante do que aconteceu ano passado, a 1km dali.

A situação em algumas edificações é crítica. As passagens de pedestre, aquelas subterrâneas, também estão às traças. Segundo o relatório elaborado pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF), há urgência em diversos lugares. A pressa não é de hoje, ou seja, o risco fica maior a cada dia.

O governador está a par de tudo. Em janeiro, assinou ordens de serviço a fim de garantir os R$ 20,4 milhões previstos para as revitalizações necessárias pelo DF, por meio de licitação. Outras tantas, que também aparecem no relatório do tribunal, serão comandadas pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e do DER. Ao brasiliense, cabe esperar e torcer para que, na prática, o aprendizado não morra na praia. Ou embaixo de um bloco de concreto qualquer.

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