Cidades

Em 48 horas, 5 pessoas morrem e 23 ficam feridas em acidentes de trânsito

Duas das vítimas foram atropeladas, sendo que, em um dos casos, o motorista estava alcoolizado. Em uma batida entre dois caminhões, um dos condutores foi carbonizado. Ao todo, 23 pessoas ficaram feridas nesta sequência de acidentes

Alan Rios, Patrícia Nadir - Especial para o Correio
postado em 20/02/2019 06:00
Uma carreta pegou fogo e o motorista morreu queimado após bater na traseira de outra, parada na pista da direita da BR-020, em Samambaia
Ao menos cinco pessoas morreram e 23 ficaram feridas em acidentes de trânsito no Distrito Federal, em 48 horas. A média é inferior a uma morte por dia. No mais recente caso fatal, no começo da tarde de ontem, a vítima, Débora Rutkoski Cavalcante, 14 anos, estava em um carro que atropelou uma menina de 9 anos, na DF-015, no Paranoá. Após atingir a criança, o Ford KA bateu em uma árvore. A passageira adolescente sofreu uma parada cardiorrespiratória. Socorristas tentaram reanimá-la, sem sucesso. A criança atropelada teve corte na cabeça e algumas escoriações. O motorista sofreu uma fratura na perna esquerda. Os dois foram encaminhados ao Hospital Regional do Paranoá.

Duas das vítimas foram atropeladas, sendo que, em um dos casos, o motorista estava alcoolizado. Em uma batida entre dois caminhões, um dos condutores foi carbonizado. Ao todo, 23 pessoas ficaram feridas nesta sequência de acidentes
O dia começou com uma batida entre duas carretas, na BR-060, em Samambaia. Um dos veículos pegou fogo e o motorista morreu carbonizado. O outro não se feriu. Ele estava em um caminhão Volvo modelo FH440, carregado de areia e parado na pista da direita devido a problemas mecânicos, que foi atingido na traseira pela carreta VW 19300CTC, que levava mercadorias variadas e onde estava o motorista que ficou preso e não conseguiu escapar das chamas. O acidente aconteceu por volta das 2h. O trânsito foi totalmente fechado para o combate ao incêndio e parcialmente liberado às 6h30.

Ainda em Samambaia, um pedestre morreu atropelado por um ônibus da empresa Urbi, na noite de segunda-feira. O acidente ocorreu em frente a um supermercado. Outro acidente com ônibus deixou um morto e 19 feridos, na tarde de domingo. O coletivo levava 22 garis de uma empresa prestadora de serviços do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), quando tombou, na BR-020, em Planaltina. Passageira, Crisângela da Cruz Silva, 41 anos, morreu no local. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o motorista tentou frear e, como a pista estava escorregadia devido à chuva, o veículo deslizou e caiu em um barranco. Um dos feridos, uma gari, estava em estado grave, até a noite de ontem.

Bebeu e dirigiu


Ainda no domingo, o ciclista Luiz Deo de Castro, 60 anos, morreu atropelado no Recanto das Emas. O motorista do carro que atingiu a bicicleta estava sob efeito de álcool. Mesmo com o teste do bafômetro atestando a presença de 0,21 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões (mg/l), o condutor não foi preso em flagrante por estar abaixo do índice (3,4 mg/l) que resulta em um processo criminal.

A primeira parente a saber da morte de Luiz foi a irmã dele, a corretora de imóveis Peggia Castro, 57. Segundo ela, a vítima havia passado o domingo na casa de uma das filhas, no Riacho Fundo 2. No momento do atropelamento, ele voltava para casa, em Samambaia. ;O meu irmão adorava andar de bicicleta. Rodava toda essa Brasília sob duas rodas. Naquele dia, não foi diferente. Infelizmente, ele teve a vida interrompida em uma tragédia;, desabafou.

Luiz Deo morava com a mulher, de 58 anos, com quem era casado havia mais de uma década. Ele tinha sete filhos, todos de um relacionamento anterior. O homem deixou ainda 13 netos e oito irmãos. ;A nossa família está arrasada, ainda sem acreditar nesse episódio. A minha irmã mais velha, de 82 anos, está sob o efeito de remédios. É duro aceitar;, comentou Peggia.

Uma passageira de 14 anos morreu após o carro em que estava atropelar uma criança e atingir uma árvore; vítima atropelada teve só escoriações

Excesso de velocidade


As imprudências no trânsito aumentaram em rodovias federais que passam pelo DF, em janeiro. Agentes da PRF aplicaram mais de 8,8 mil multas no mês, 260 a mais do que no mesmo período do ano passado. A infração mais cometida foi de excesso de velocidade. Porém, a que mais aumentou foi a de motoristas sem cinto de segurança. O número de acidente também subiu: passou de 120 em janeiro de 2018 para 136 em 2019. Por outro lado, os acidentes graves diminuíram 22%.

Excesso de velocidade também é a infração mais flagrada nas vias da capital: agentes do Departamento de Trânsito (Detran-DF) aplicaram 1.718.289 de multas em 2018. Estacionar em local proibido e avançar o sinal vermelho do semáforo ou o de parada obrigatória aparecem em segundo e terceiro lugar, respectivamente, entre as infrações mais cometidas. Em quarto, estão os motoristas que transitam em faixa exclusiva para ônibus e táxis. Dirigir sem cinto de segurança aparece em quinto.

Com uma frota de 1.773.290 veículos (registrados até dezembro), a violência no trânsito da capital é turbinada pelo consumo de bebidas alcoólicas: 9,8% dos motoristas admitem dirigir alcoolizados, segundo pesquisa do Ministério da Saúde. O hábito é maior entre os homens. Outra pesquisa, da Universidade de Brasília (UnB), revelou que 25% dos alunos da instituição dirigem após beber. No ano passado, 21.584 motoristas brasilienses foram multados por dirigirem embriagados. Desses, 1.788 foram presos em flagrante. Em 2008 ;quando a Lei Seca entrou em vigor ;, houve 2.633 multas e 936 detenções.

Especialista em trânsito e professor da UnB, Hartmut Günther diz que a fiscalização é uma forte ferramenta no combate à irresponsabilidade no trânsito. ;Precisa responsabilizar quem realmente são os responsáveis. E precisa conscientizar mais ainda a população;, ressalta. Para o especialista, os números são um alarme para os riscos que potencializam a ocorrência de mortes no trânsito, como chuvas, uso de celular, excesso de velocidade e alcoolemia ao volante, além de não usar capacete, cinto de segurança e cadeirinha para crianças. ;Normas básicas de segurança não podem ser esquecidas;, aconselha.


Para saber mais


Prejuízos bilionários


Os milhares de acidentes de trânsito graves registrados a cada ano no Brasil não afetam apenas familiares e amigos das vítimas. As tragédias também geram impacto econômico. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que, só em 2015, a violência no trânsito nas rodovias federais, estaduais e municipais custou R$ 40 bilhões ao país. De acordo com o levantamento, só nas rodovias federais, foram R$ 12,3 bilhões em gastos ; 64,7% correspondendo a cuidados com saúde e perda de produção devido às lesões ou mortes, e 34,7% associados aos veículos.

Em 2017, segundo estatísticas do Ministério da Saúde, foram mais de 181 mil internações em todo o país apenas em razão de acidentes de trânsito, o que provocou um custo de quase R$ 260 milhões ao Sistema Único de Saúde. A pasta detalha que este tipo de acidente é responsável por boa parte das internações hospitalares e pela maioria dos atendimentos de urgência e emergência nas unidades públicas de saúde do Brasil.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os acidentes de trânsito rodoviários custam, em média, 3% do Produto Interno Bruto (PIB) para a maioria dos países. Acidentes rodoviários são a principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos, segundo instituição. A OMS estima que cerca de 1,25 milhão de pessoas morrem anualmente, em todo o planeta, por conta de acidentes de trânsito.


Memória


Redução de fatalidades

Em seis anos, o número de mortes no trânsito das capitais brasileiras caiu 27,4%, de acordo com levantamento do Ministério da Saúde, divulgado em setembro. Em 2010, foram registrados 7.952 mortes, contra 5.773 em 2016, o que representa uma diminuição de 2,1 mil óbitos no período. Apesar da redução, o Brasil está longe da meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU). A intenção do país, em 2020, é não ultrapassar o número de 19 mil vítimas fatais por ano.

Vários fatores contribuíram para essa redução: a campanha Paz no Trânsito; a aprovação do Código de Trânsito Brasileiro, em 1997; a instalação de radares e pardais para controle de velocidade; a exigência do cinto de segurança; a vigência da Lei Seca; a obrigatoriedade de se transportar crianças em cadeirinhas; o reajuste dos valores das multas; e o agravamento de algumas condutas, como dirigir falando ao celular e ultrapassar em local proibido.

No DF, o programa Brasília Vida Segura visa reduzir o número de vítimas. Das intervenções realizadas por meio do projeto, está a redução do limite de velocidade na Estrada Parque Península Norte (EPPN), via principal do Lago Norte, onde a velocidade caiu de 70km/h para 60km/h e a ciclofaixa recebeu nova sinalização em novembro. Em Ceilândia, na Via N3, também houve redução do limite de velocidade. A Secretaria de Mobilidade, instalou nas vias do DF, no ano passado, balizadores e barreiras de contenção, faixas de pedestre, bolsão para motociclistas.

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