Cidades

Opinião: Vai à Rodô, Ibaneis

Ana Dubeux
postado em 24/02/2019 09:09
Rodoviária do Plano Piloto em Brasília

Tomo de empréstimo o título de um livro famosinho sobre pessoas que fizeram e fazem um sucesso extraordinário pautadas por uma lógica simples e por princípios que parecem óbvios, porém são ignorados pela maioria. E faço isso porque quero falar sobre algo que parece banal demais, trivial no dia a dia das pessoas, prosaico até. Desprezar o cotidiano nunca esteve entre meus planos. Adoro observar a vida passar. Os políticos deveriam fazer o mesmo. Aprenderiam um bocado de coisas longe de seus gabinetes climatizados.

Estive na Rodoviária do Plano Piloto por seis horas na semana passada, em dois dias diferentes. Lá de cima da plataforma, olhando para o horizonte, é possível pegar emprestado o olhar de Lucio Costa sobre o projeto de Brasília. Admirei a grandiosidade dessa arquitetura, que, para muitos, pode ser fria, mas sempre foi acolhedora para mim. Gosto do céu grande, do sol a pino na seca, das cúpulas e das torres do Congresso, dos palácios.

Enquanto acesso a plataforma inferior, lembro-me de um dito popular que diz: "Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento". Fazia certo tempo que não caminhava pela rodoviária. Não via os camelôs, os passos apressados, a marginalidade, o caos, as filas, toda a gente de Brasília e arredores. Não posso dizer que estranhei as escadas rolantes quebradas. É assim desde que o mundo é mundo, como se diz por aí.

Por que a Rodoviária do Plano Piloto, o lugar mais frequentado pelos brasilienses, é tão desprezada, sucateada e malcuidada? Porque ela tornou-se o óbvio que ignoramos. Porque os políticos passam em seus carros de vidros escuros e sequer olham pela janela. Depois de eleitos, esquecem as feiras e as rodoviárias. Esquecem-se do povo e de suas necessidades. A rodoviária não é apenas um cartão-postal abandonado por governos diversos. Ela é um equipamento urbano de extrema necessidade; é um projeto tombado; é um bem público. Não basta que seja funcional, é preciso ser segura, limpa e acolhedora para todos que nela transitam.

Um amigo gostava de me alertar sobre a nobreza de um espaço de artigo nesta página de Opinião. Dizia-me que deveria ser dedicado aos assuntos políticos e econômicos. E não a esses problemas "comezinhos" do cotidiano, como trânsito, violência e falta de infraestrutura ao nosso redor. Lembrei-me dele ao escolher o tema desta conversa. Entre a reforma da Previdência e crises de governo, fico com as mazelas da Rodoviária do Plano Piloto, meu amigo. E tenho um convite: vai na Rodô, caro governador Ibaneis! Não ignore as necessidades óbvias da cidade que o elegeu.

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