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Semana começa com passagens entre o DF e o Entorno mais caras; veja tarifas

As tarifas das passagens para quem circula entre municípios goianos e o DF subiram no domingo. O reajuste, estabelecido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), é de 5,23% e representa até R$ 0,40 a mais no valor cobrado

Aline Brito*, Augusto Fernandes
postado em 25/02/2019 06:02
O aumento anual gera queixa de usuários e preocupa comerciantes. Moradores de cidades vizinhas temem desempregoAs tarifas dos ônibus que circulam entre cidades goianas vizinhas a Brasília e a capital federal estão mais caras desde ontem. Os novos preços das passagens vão afetar a vida dos quase 1 milhão de moradores de 13 municípios que dependem do transporte rodoviário semiurbano para virem ao DF, seja para estudar, seja para trabalhar. O reajuste, estabelecido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), é de 5,23% (veja tabela de preços abaixo).

Para quem vive em Planaltina de Goiás e Luziânia e quer se deslocar para Brasília e Taguatinga, respectivamente, o peso no orçamento será maior. A passagem das duas linhas subirá R$ 0,40. Nos outros 22 itinerários que terão de se adequar ao aumento, a diferença varia entre R$ 0,10 e R$ 0,35. Por meio de nota oficial, a ANTT explicou que ;a correção ocorre anualmente, sempre no mesmo período, conforme previsto em resolução, e é definida pela composição dos custos e das despesas de transporte, acrescidos da remuneração do serviço;.

A notícia dos novos valores não agradou aos passageiros. Muitos temem pelo próprio emprego, como Joyce Souza, 21 anos, moradora do Jardim Ingá. ;As empresas têm preconceito com os moradores de Goiás. Como a passagem é mais cara, fica mais difícil encontrar trabalho porque os contratantes não querem pagar o valor integral da passagem. Agora, com mais um aumento, a situação se complica;, constatou a técnica de enfermagem.

Joyce é uma das cerca de 110 mil pessoas que utilizam o transporte coletivo do Entorno diariamente. Além da insatisfação com o aumento da tarifa, ela reclamou que a quantidade e a qualidade dos ônibus não correspondem ao valor cobrado pela ANTT. ;Perdi as contas de quantas vezes eu peguei um ônibus cansada, depois de um dia de trabalho, e ele quebrou no meio do caminho. Os trajetos de ir ao trabalho e voltar para casa são mais cansativo do que o próprio expediente. Nós, do Entorno, sofremos demais;, disse a jovem.

Renovação

O apelo da técnica de enfermagem é por novos veículos. Hoje, 769 ônibus estão em operação. Apesar de não ter um cronograma definido para renovar a frota, a ANTT informou que estuda lançar uma licitação para atualizar os ônibus do transporte interestadual. ;Além disso, existe uma proposta aprovada pela diretoria da agência, em janeiro de 2018, para a construção de uma rede para unir o sistema de transporte do Distrito Federal ao sistema semiurbano que liga o DF ao Entorno, com o objetivo de buscar uma maior eficiência a partir da otimização da prestação dos serviços;, garantiu o órgão. O estudo de integração foi encaminhado ao Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil em setembro do ano passado, mas ainda não recebeu nenhuma análise da pasta.

Prefeito de Águas Lindas e presidente da Associação dos Municípios Adjacentes a Brasília (Amab), Hildo do Candango (PTB) reuniu-se, na última quinta-feira, com diretores da ANTT e pressionou a agência para criar um consórcio em que os próprios municípios pudessem gerir o transporte coletivo do Entorno. ;Atualmente, a regulamentação é feita pela ANTT, que, por ser um órgão nacional, está distante da realidade dos municípios e das reais necessidades dos moradores que utilizam o transporte diariamente;, justificou.
Contrário ao novo aumento das passagens, Hildo não poupou as críticas. ;O aumento da passagem não é discutido com a sociedade. Simplesmente jogam o aumento e o povo não está preparado para isso. O reajuste é maior que a inflação. Precisamos buscar formas para que este aumento seja mais justo. Uma correção assim acaba gerando desemprego, pois fica difícil para o patrão se adaptar;, observou.
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia reforçou o alerta. Mesmo assim, ele pede que os empresários não demitam funcionários que moram no Entorno devido à alteração. ;É uma mão de obra fundamental para o comércio de muitas regiões administrativas, não apenas do Plano Piloto. O empresário será bastante onerado, mas deve absorver essa mudança e adotar estratégias para lidar com isso;, destacou.
O aumento da tarifa, segundo ele, pode ser negativo para as pretensões do setor de crescimento da economia do DF neste ano. ;A recuperação que nós imaginávamos certamente será prejudicada. Isso é preocupante porque, até o momento, 2019 não nos deu bons resultados. Mais do que nunca, os comerciantes terão que aumentar as vendas para compensar essa taxa extra.;

Sofrimento

Enquanto as mudanças positivas não acontecem, os passageiros têm de aceitar a situação atual. O tempo de espera nas paradas e de locomoção entre Goiás e o DF, muitas vezes, significa menos tempo em casa com a família. O mecânico Diego Alves, 25, trabalha no Setor de Oficinas Sul, a 35km do Pedregal, bairro do Novo Gama, onde vive com a mulher e o filho de cincos meses. Para conseguir chegar em casa a tempo de cuidar da criança, ele precisa se desdobrar. ;Pego um ônibus para a Santa Maria e, de lá, outro até a minha casa. Saio do trabalho às 18h, e chego em casa às 20h. Se eu for esperar um direto para casa, chego muito tarde e não consigo ficar com meu filho;, lamentou.

Diego Alves mora no Novo Gama e reclama da qualidade do transporte interestadualDiego afirma que o aumento da passagem vai impactar ainda mais no seu salário, já que ele paga uma parte da tarifa do próprio bolso. ;A empresa em que eu trabalho não paga 100% do valor da passagem, então, fico no prejuízo. O que me deixa ainda mais chateado é que os ônibus não têm conforto nenhum e estão sempre lotados. Quando chove, molha tudo por dentro;, queixou-se.

O descumprimento de horários é outra reclamação frequente dos usuários do transporte. O agente penitenciário Fabrício Mendes, 22, tem que sair de casa, em Valparaíso, quatro horas antes de entrar no trabalho, em Sobradinho. ;O serviço é muito desorganizado. Caso houvesse mais linhas, eu não precisaria sair tão cedo. Mas, quando eu perco um ônibus que passa às 10h, por exemplo, pego outro apenas às 10h40.;

Fabrício gasta cerca de R$ 20 por dia para ir ao trabalho e voltar para casa. Os R$ 0,30 que foram acrescentados ao valor da passagem ontem, segundo ele, farão grande diferença no orçamento mensal. ;Pode parecer pouca coisa, mas não é. Os reflexos virão no fim do mês. Se oferecessem um serviço de qualidade, seria justo o aumento. Mas, com um transporte tão ruim, não existem motivos para os reajustes que são feitos todos os anos;, desabafou.

Confira os valores das passagens a partir de 24 de fevereiro

Águas Lindas de Goiás/GO - Brasília: R$ 7,05
Céu Azul/GO - Brasília: R$ 4,50
Cidade Eclética/GO - Brasília: R$ 7,05
Cidade Ocidental/GO - Brasília: R$ 5,50
Cidade Ocidental/GO - Gama: R$ 3,75
Cidade Ocidental/GO - Taguatinga: R$ 6,35
Formosa/GO - Planaltina: R$ 5,05
Jardim Ingá/GO - Brasília: R$ 5,70
Jardim Ingá/GO - Gama: R$ 3,75
Jardim Ingá/GO - Taguatinga: R$ 6,55
Lago Azul/GO - Brasília: R$ 7,60
Luziânia/GO - Brasília: R$ 6,75
Luziânia/GO - Gama: R$ 5,00
Luziânia/GO - Taguatinga: R$ 7,60
Monte Alto/GO - Brasília: R$ 6,40
Monte Alto/GO - Brazlândia: R$ 1,85
Monte Alto/GO - Taguatinga: R$ 5,95
Novo Gama/GO - Brasília: R$ 6,40
Planaltina/GO - Brasília: R$ 7,20
Santo Antônio do Descoberto/GO - Brasília: R$ 6,60
Santo Antônio do Descoberto/GO - Taguatinga: R$ 5,25
Valparaiso de Goiás/GO - Brasília: R$ 4,95
Valparaíso de Goiás/GO - Gama: R$ 3,15
Valparaíso de Goiás/GO - Taguatinga: R$ 5,75

*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

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