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Veja como vai funcionar a inversão de trânsito na faixa exclusiva da EPTG

Mudança de sentido nas faixas exclusivas da EPTG começam a valer a partir de 18 de março. Tráfego na via deve voltar à configuração atual após compra de BRTs e ônibus com portas do lado esquerdo

Jéssica Eufrásio
postado em 28/02/2019 06:00
Entregue em 2010, corredores nunca foram usados como o planejado, pois coletivos não têm portas à esquerda
Nove anos após a conclusão das obras dos corredores centrais da Estrada Parque Taguatinga (EPTG), que custaram R$ 244 milhões, as paradas de ônibus enfim devem ser usadas pelos passageiros. Mas, em vez de os coletivos rodarem com portas pelo lado esquerdo, eles vão circular na contramão. Ou seja, diferentemente do planejado, a rodovia vai se adequar às empresas do setor. O Governo do Distrito Federal dará mais um ano para as concessionárias comprarem os veículos destinados à pista construída exclusivamente para atendê-las. Até lá, são necessárias mais obras para a inversão no trânsito, anunciada para começar em 18 de março como uma medida provisória.

Quem transita pela EPTG viu, desde meados de janeiro, tratores nas extremidades das faixas exclusivas. Agora, há cones ao longo do trajeto. Dois caminhos em formato de X foram abertos no canteiro central: um próximo ao Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), outro perto de um dos viadutos que levam a Taguatinga Centro. Com a nova estrutura, durante os horários de pico, uma das faixas exclusivas ficará liberada para motoristas de veículos de passeio; a outra, do lado oposto, será liberada para motoristas de táxis, ônibus e escolares.

Responsável pela execução dos trabalhos junto ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) e à Secretaria de Obras e Infraestrutura, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) informou que as mudanças valerão de segunda a sexta-feira, das 6h às 9h, no sentido Plano Piloto, e das 17h às 20h, no sentido Taguatinga. Por meio de nota oficial, a pasta comunicou que, fora dos horários de maior fluxo, o tráfego na EPTG funcionará de acordo com a configuração atual.
O secretário de Obras, Izídio Santos Júnior, explicou que a modificação visa dar utilidade às paradas de ônibus do canteiro central (leia Entenda o caso). ;Essa obra existe há muitos anos e ainda não fizeram a licitação. O governo pretende fazê-la, mas é um processo demorado. A ideia surgiu a partir de um estudo encomendado pelo governador (Ibaneis Rocha), que avaliou a necessidade da intervenção enquanto novos ônibus não forem comprados;, declarou Izídio.

À frente da Semob, o secretário Valter Casimiro disse, no entanto, que a aquisição não se dará por meio de licitação por não envolver uma obra pública. Ele comentou que o processo ficará sob responsabilidade das cinco empresas de ônibus do DF, obrigadas a ter veículos com a configuração adequada. ;Imaginamos que será de seis a 12 meses para termos esses coletivos em circulação. O contato de operação com as operadoras determina que, na troca da frota, elas devem adquirir veículos com portas dos dois lados;, ressaltou Casimiro. Até o fechamento desta edição, as empresas não haviam se manifestado sobre a declaração do secretário.

Apesar das recentes intervenções, o projeto ainda está em fase de estudos e testes, segundo o DER-DF. De acordo com o superintendente de obras do departamento, Cristiano Cavalcante, a previsão é de que um plano detalhado seja apresentado oficialmente na segunda quinzena de março, assim que a Operação EPTG estiver em execução. ;A conclusão dos estudos coincide com o início do funcionamento (do sistema);, reforçou Cristiano.

Ele acrescentou que a verba para os trabalhos saiu dos cofres dos órgãos envolvidos: ;Todo o trabalho tem sido feito pela administração direta, com recursos do Departamento de Trânsito do DF, Batalhão de Policiamento Rodoviário, DER-DF e da Semob;. Com a compra dos veículos apropriados, os cruzamentos em X serão fechados e apenas algumas linhas de ônibus continuarão a transitar nas marginais da Estrada Parque. Nenhum órgão informou quanto destinará às novas obras na EPTG.
Das 6h às 9h, a pista sentido Taguatinga-Plano Piloto funcionará com quatro faixas e veículos de passeio poderão trafegar na faixa exclusiva. Das 17h às 20h, o procedimento será o mesmo, mas na direção contrária

Alterações

As alterações valem só para a via principal da EPTG. O trânsito nas marginais não passará por mudanças. Pela manhã, das 6h às 9h, a pista sentido Taguatinga-Plano Piloto funcionará com quatro faixas e veículos de passeio poderão trafegar na faixa exclusiva. Ônibus, táxis e escolares, no entanto, cruzarão o X perto de Taguatinga Centro e circularão na via exclusiva.

Das 17h às 20h, o procedimento será o mesmo, mas na direção contrária. Motoristas que trafegarem no sentido Plano Piloto-Taguatinga terão quatro faixas para circular, incluindo a exclusiva. Enquanto isso, coletivos, táxis e escolares rodarão na faixa exclusiva da pista oposta.

Izídio Santos ressaltou que haverá anteparos ao longo das pistas reservadas a ônibus, com tachões e cones fixados no asfalto para garantir a sinalização e a segurança tanto de motoristas que estiverem na mão inglesa quanto dos condutores que trafegarem nas três demais faixas. O superintendente do DER-DF acrescentou que os itens usados na via são provisórios. Além disso, a EPTG contará com guinchos, veículos de fiscalização, além de mecanismos para controle da velocidade máxima ; que será de 60km/h nas vias exclusivas e monitorada pelos tacógrafos dos coletivos.

Paliativo

Enquanto o Executivo aposta em uma melhora de 20% do fluxo na EPTG, a mudança pode ter impactos diferentes na rotina de passageiros e condutores. Para o coordenador do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes da Universidade de Brasília (Ceftru-UnB), Pastor Willy González, também são necessárias medidas para incentivo do uso de transportes coletivos. ;Trabalhar a inversão do sentido em horário de pico é importante, mas, se não fortalecerem o sistema público, as pessoas recorrerão mais ao transporte individual, ao automóvel, o que não resolve nada;, avalia o especialista.

Pastor Willy diz haver três formas de lidar com o cenário: ignorá-lo ; o que, segundo ele, aconteceu ao longo dos anos e resultou na migração para meios de transporte particulares ;; intervir de forma não agressiva, mas controlando o problema; ou modificar tudo drasticamente. De acordo com o professor, dessa vez, o GDF escolheu a segunda opção. ;É algo importante, mas paliativo. Quando você atende essa exigência do horário de pico, você tem uma demanda maior pelo transporte privado. As vias podem ficar congestionadas, mas acredito que estão trabalhando nesse sentido;, pondera.

Entenda o caso

Falhas na execução

As obras de ampliação da EPTG ; então denominada Linha Verde ; começaram em 2008, no governo de José Roberto Arruda. Além do problema da falta de ônibus com portas do lado esquerdo, um relatório de auditoria do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) apontou diversas falhas na execução do contrato firmado com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no âmbito do programa Brasília Integrada. Em janeiro daquele ano, o GDF efetuou um empréstimo com a instituição de fomento para a realização das obras na Estrada Parque Taguatinga, entregues em 2010.

O relatório do TCDF apresentou uma lista de irregularidades que comprometem a durabilidade das obras e a segurança dos usuários. Entre elas, há problemas com pavimentação, sinalização, drenagem pluvial, além de inadequações referentes a gastos e quantidade de material. ;A função social primordial do projeto, que é a melhoria do transporte público coletivo, está bastante comprometida. Isso porque a obra se encontra em um estágio inacabado, agravado pela omissão do poder público quanto às licitações referentes aos ônibus biarticulados, comprometendo a efetividade do programa auditado;, ressaltou o documento de abril de 2011. O processo está em fase de reinstrução pelo corpo técnico do TCDF e não passou por decisão final do plenário da corte.

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