Aline Brito*
postado em 01/03/2019 13:18
A espera por uma cirurgia chegou ao fim para 573 crianças que estavam na lista da rede pública de saúde, aguardando por atendimento. O mutirão realizado pelo Hospital da Criança de Brasília efetuou operações de pequeno porte durante todo o mês de fevereiro e ultrapassou a meta, que era fazer 508 cirurgias.
Marcos Paulo Policarpo, 2 anos, é um dos garotos contemplados com procedimento cirúrgico. Há mais de um ano ele esperava pela cirurgia de correção de hipospadia ; condição rara em que a abertura do órgão genital masculino fica na parte de baixo, não na ponta. O desvio foi descoberto assim que Marcos nasceu e, desde então, a família corre atrás de vaga na rede pública para corrigir o problema.
A preocupação do pai, Ailton Borges, 34 anos, aliviou quando recebeu a ligação do hospital, chamando a criança para realizar o procedimento. ;Todos da família ficaram muito alegres com a notícia. Eu ficava sempre pensando se realmente iam chamar e me preocupava com os danos que esse problema poderiam causar na vida do meu filho;, contou Ailton.
Apesar de não saber ao certo o que estava acontecendo, Marcos sempre se mostrou uma criança alegre e sorridente. ;Ele não tem ideia do problema que tinha e pelo que passou, afinal, ele é muito novo para entender. Mas todas as vezes que vamos ao hospital e até mesmo no dia da cirurgia, ele não tirou o sorriso do rosto;, mencionou o pai.
Agora, Ailton tem um motivo a menos para se preocupar em relação ao futuro do filho. ;Pai nunca deixa de se preocupar e tudo é motivo para angústia, mas depois da cirurgia meu coração fica mais tranquilo e tenho certeza de que meu filho terá um futuro repleto de saúde e normal, igual ao de qualquer outra criança saudável;, comentou.
Para tornar possível o projeto, cerca de 150 profissionais do Hospital da Criança se envolveram na iniciativa. Desde a atendente que entrou em contato com a família para marcar o dia da cirurgia até o cirurgião que a operarou se mobilizaram para conseguir zerar a fila de crianças na espera por procedimentos pequenos.
Segundo Renilson Rehem, superintendente executivo do hospital, sem essa força de vontade, não teria sido possível realizar tantas operações em curto prazo. ;Para conseguir resultados assim, as pessoas precisam se envolver. Tem que existir uma integração do time, só assim a gente consegue fazer de 20 a 30 cirurgias por dia, igual fizemos aqui;, comemorou Renilson. Para marcar o fim do projeto, os profissionais que participaram foram homenageados durante reunião da equipe do hospital.
Emoção
Umas das cirurgias mais comuns no mutirão foram de hérnia umbilical ; quando o intestino se projeta pela musculatura abdominal no umbigo. Ana Clara Ferreira, 8, estava esperando há um ano aguardando a reparação cirúrgica. Quando recebeu a notícia de que seria operada, Ana Clara e a mãe, Francielen Ferreira, 43, não contiveram a emoção. ;Nós choramos muito. Até na hora de entrar para a sala de cirurgia ela ainda estava chorando, mas não era de medo, era de felicidade por finalmente se livrar deste problema que tanto a incomodava;, contou Francielen, emocionada.
A criança sofria com dores e desconforto por conta da hérnia umbilical. Ao fazer a consulta pré-operatória, foi diagnosticada outra hérnia, dessa vez na virilha. ;Ela sempre reclamava de dores. Era um desespero. Foi um ano sofrendo, sem saber ao certo quando veria minha filha livre desse incômodo;, disse Francielen. Na sala de espera do centro cirúrgico, a mãe de Ana Clara aguardava ansiosa o retorno da filha. ;Estou com o coração na mão. Toda cirurgia causa uma certa preocupação. Não vejo a hora de abraçar minha pequena de novo;, disse a doméstica.
Para Haniel Marciel Alquime, 9, entrar numa sala de operação é motivo de medo. ;Ele não estava querendo ir fazer a cirurgia. O pai dele precisou conversar com ele para tentar acalmá-lo;, revelou a mãe, Anézia Alquime, 42. O garoto também precisava reparar a hérnia umbilical. O diagnóstico veio há mais de um ano e deixou a família apreensiva. ;Essa cirurgia vai ser um alivio para a família. Apesar de ele nunca reclamar de dor, eu percebia que ele ficava muito nervoso. Eu e o pai dele também ficávamos muito apreensivos com medo de nunca o chamarem para operar;, confesso a mãe.
Por se tratar de um procedimento caro, Anézia nunca cogitou levar o filho à rede particular. ;Eu não tenho condições de arcar com os gastos de uma cirurgia, então a única opção era esperar;, afirmou. ;Esse mutirão veio em boa hora. Conheço casos de pessoas que esperaram por anos, considerando isso, o tempo que eu esperei para a cirurgia do meu filho não foi tão grande;, comemorou Anézia.
De acordo com Renilson Rehem, a expectativa é de estender o mutirão para março. ;Pretendemos continuar com essa força tarefa para o próximo mês e abranger outros tipos de especialidades;, comentou o superintendente. ;Agora que estamos com novas salas no centro cirúrgico, podemos fazer esse esforço. O objetivo do hospital é justamente esse, beneficiar o maior número de crianças possível;, completou.
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer