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Safra da goiaba no DF deve ser a melhor em 10 anos

Em média, o comércio da fruta movimenta R$ 223 milhões por ano e é fonte de renda para cerca de 90 produtores rurais em Brazlândia

Jéssica Eufrásio
postado em 11/03/2019 06:00
Festa da Goiaba em Brazlandia. Nicho importante da produção frutífera no Distrito Federal, a goiaba se consolida, a cada ano, na agricultura da capital do país. Se as expectativas para 2019 se concretizarem, esta será a maior safra dos últimos 10 anos. Em média, o comércio da fruta movimenta R$ 223 milhões por ano e é fonte de renda para cerca de 90 produtores rurais em Brazlândia, que concentra cerca de 98% do que é plantado e colhido no DF.

A safra da fruta ocorre em dois períodos do ano: entre fevereiro e abril e de setembro a novembro, quando há colheita menor. A previsão da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) é de que a produção deste ano alcance 12 mil toneladas ; 32,6% a mais do que em 2018, quando registrou 9 mil toneladas. A quantidade é praticamente a mesma de 2017 (9,1 mil).

A crise hídrica do DF nos últimos dois anos impactou a rotina dos produtores. No entanto, os resultados devem melhorar devido à antecipação das chuvas e do maior volume de água deste ano, segundo a extensionista rural da Emater-DF, Magali Fortes. ;Houve mais água que o esperado. Além disso, o número de produtores aumentou e alguns já colherão em 2019;, ressalta.

Magali acrescenta que, com o racionamento de água, muitos responsáveis pelas plantações abriram mão, temporariamente, do plantio de folhagens para investir nas goiabas. ;As hortaliças demandam bastante água. Sem falar que aqui há boas condições produtivas para essas frutas;, explica. Ainda segundo ela, Brazlândia se fortaleceu no ramo devido à imigração japonesa. ;Muitos vieram de São Paulo com o intuito de plantar goiabas. A produção delas se consolidou antes até que a do morango.;

Cleiton Kiyowaka, 36 anos, entrou no ramo há pouco tempo. No entanto, a história da família com o cultivo das frutas data de mais de duas décadas. ;O diferencial das goiabas é o custo-benefício. Começamos como um teste. Hoje, temos mais de 7 mil pés na nossa chácara;, comentou o produtor. A safra obtida pela família é colhida durante todo o ano. ;O bom delas é que a perda acontece, mas é pouca, e a demanda é sempre grande. Vendemos para o público, a indústria e o governo;, destacou Cleiton, cuja família também investe na plantação de morangos e folhagens.

Empregos

Na região de cultivo da fruta no DF, a plantação de pés de goiaba gera, aproximadamente, 300 empregos diretos e 600 vagas de mão de obra temporária. As principais variedades da cidade são a pedro sato, para consumo in natura, e a paluma, mais voltada à indústria. Além delas, há outros tipos, como a sasaoka e a ogawa, além das duas novas que têm sido desenvolvidas por aqui: a tailandesa e a cortbel, que só apresentará uma safra razoável para comercialização daqui a um ou dois anos.

Para o presidente da Associação Rural e Cultural Alexandre de Gusmão (Arcag), Takao Akaoka, os produtores de Brazlândia estão mais engajados. Ele conta que, por permitirem a colheita por décadas, a característica das goiabeiras fez com que elas se tornassem mais visadas. ;Dá para colher o ano todo. Em área, a goiaba é o maior destaque da cidade. Ela só perde para o morango em número de produtores e em popularidade;, comenta.

Takao acrescenta que o boom da colheita será percebido deste ano em diante. ;A plantação subiu bastante entre 2012 e 2014. Estão começando a colher agora. A produção não alcançou o auge ainda. Daqui a dois ou três anos, tempo que leva para começarmos a colher bem, ela vai dobrar;, acredita.

Frutas rendem festas populares


De sexta-feira até ontem, produtores se reuniram em Brazlândia para vender dezenas de subprodutos da goiaba, assim como acontece com o morango, principal produto da agricultura local. Essa foi a quarta edição da Festa da Goiaba. Nos três dias, cerca de 7 mil pessoas passaram pelo salão da Associação Rural e Cultural Alexandre de Gusmão (Arcag).

Organizada pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), em parceria com a Arcag e a Administração de Brazlândia, a festa ocorre sempre em março, no período de maior colheita da fruta. O momento é propício para aumentar o lucro dos produtores.

Dono de uma chácara com 620 pés de goiaba, Gildasio Mendes de Oliveira, 64 anos, escolheu trabalhar com a fruta depois de analisar o mercado, onde ela era mais vendida e a qualidade do alimento. ;Formei-me em gestão comercial e quis botar em prática o que aprendi. Comecei investindo em 600 pés. Um ano e meio depois, estava colhendo e tendo retorno financeiro;, contou.

Gildasio vende as frutas há oito anos e conta com a colaboração do filho e de duas outras pessoas que ajudam a cuidar do cultivo e dos negócios. ;Vivo da agricultura e trabalho com outros itens. Um dos meus principais compradores é o governo. Forneço 28 tipos de alimentos usados nas merendas das escolas;, completou o morador do Incra 6, em Brazlândia.

A produção de morangos e, agora, de goiabas, também virou negócio para a vendedora Beatriz Marques, 23. A família dela é dona de uma chácara na região rural do Rodeador, onde planta morangos. A venda de subprodutos elaborados com a fruta fez tanto sucesso que a família resolveu investir, também, nas goiabas. ;Nesse caso, compramos as frutas do nosso vizinho e levamos os alimentos que fazíamos com morango para a goiaba;, contou.

Beatriz e a prima Rafaela Moura trabalharam juntas em um estande na Festa da Goiaba com alimentos feitos das duas frutas. ;Fazemos tudo em família. Desde a colheita e compra até a venda de bolos, geleias e sorvetes;, completou Beatriz.

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