Cidades

Corte de árvores na comercial da 208 Sul revolta moradores

A prefeitura da quadra vai entrar com ação judicial de requerimento de suspensão do corte das ávores

Darcianne Diogo*, Caroline Cintra - Especial para o Correio
postado em 19/03/2019 13:59
A luta pela preservação do local ganhou nome e até um grupo no Whatsapp:

Moradores da quadra 208 Sul se mobilizam na manhã desta terça-feira (19/3) para evitar o corte de quatro árvores num lote comercial. O grupo foi surpreendido na segunda-feira (18/3) com o corte de uma árvore, que existia há mais de 50 anos, segundo eles, na ponta comercial da quadra. No momento da derrubada, outras três árvores ficaram danificadas, entre elas, um Ipê Branco. Segundo moradores que presenciaram o ato, não houve consulta prévia com a comunidade e nem o isolamento da área.

Em nota, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) informou que enviou um técnico ao local e foi verificado que o serviço foi autorizado pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e que a área é particular. Procurado pelo Correio, o Ibram informou que, por se tratar de área particular, não precisa autorizar o corte. A empresa apenas comunica ao órgão que pretende derrubar as ávores e isso foi feito pela dona do local, a Quality Participações e Investimentos S.A. Em nota, o Ibram cita o Artigo 31, do Decreto 39.469/2018. O decreto estabelece as regras, critérios e procedimentos administrativos para a concessão de autorização da extinção de vegetação nativa. O Correio entrou em contato com a empresa, mas informaram que os responsáveis estavam em reunião até o fechamento desta matéria.

O prefeito da 208 Sul, Cristhian Imana, disse que também foi pego de surpresa e não recebeu nenhum comunicado prévio sobre o corte. "Um dos moradores me ligou dizendo que o pessoal estava lá para cortar as árvores. Decidimos entrar com uma medida judicial, mas já era tarde demais." O prefeito disse ainda que acionou hoje (18/3) a ouvidoria do Ministério Público (MP) para relatar sobre o caso. Além disso, a prefeitura também ingressará com uma ação judicial de requerimento de suspensão do corte, já que existe a possibilidade de novas derrubadas, segundo informou os moradores.
[VIDEO1]

Indignação dos moradores

O caso despertou revolta de quem passava pela área. Mais de 10 residentes da quadra estiveram no local pela manhã para obter uma resposta sobre a derrubada. A aposentada Edna Francischetti, 75, foi uma das pessoas que acompanhou todo o processo. "Perguntamos aos homens que estavam cortando o que estava acontecendo e eles disseram que iriam construir um comércio, mas nada além disso", ressaltou. Ela, que mora há 11 anos no local, diz não acreditar no que viu. "Nós, que somos moradores, estamos acostumados a viver aqui e a admirar a beleza das árvores, pois elas são uma característica de Brasília. Se vai deixando a pressão imobiliária invadir, acaba a cidade."

Para a professora do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (Ceam/UnB) Mônica Veríssimo, 56, não houve transparência do governo para com os moradores. "Mais um prédio comercial ali aumentaria o trânsito, barulho e lixo. Tem toda uma questão que o governo deveria levar em conta. Faltou sensibilidade do Ibram em nos comunicar. Tenho certeza que a pessoa que aprovou isso não tem conhecimento da história de Brasília", diz ela que é secretária-executiva do Fórum de ONG ambientalistas do DF.

No local, foram deixados galhos quebrados e troncos, o que para os moradores, se tornou um risco. "Os homens que estavam trabalhando não utilizaram nenhum equipamento de segurança, como capacete, luvas, óculos e botas. Eles estavam apenas com o serrote", destaca a mestre em semiótica Sofia Bastos, 23.

"Abraço amigo"

Em 2017 os moradores da quadra 207 Sul passaram por algo parecido, mas conseguiram conter o corte de árvores a tempo. "Nós cercamos toda a área onde seria feito o corte e fizemos o ;abraço amigo;. Com esse ato conseguimos impedir essa ação e o GDF desapropriou a área", disse Edna. A luta pela preservação do local ganhou nome e até um grupo no Whatsapp "O Verde é Nosso". O grupo conta com mais de 50 moradores que são a favor do meio ambiente.
Acionado pelos moradores, o deputado distrital Leandro Grass (Rede), esteve no local na manhã desta terça-feira (19/3) . Segundo o parlamentar, a empresa tinha que, ao menos, informar a população a respeito do que está acontecendo. "A proteção está inadequada. Esse tipo de ação precisa de placa, porque é um processo de obra. Tinha que ter uma informação sobre o que isso significa para a população", ressaltou o deputado.

Na reunião com o grupo de moradores, ele ainda firmou o compromisso de assim que chegar na Câmara Legislativa, solicitar uma explicação do Ibram e da Administração de Brasília. "Vamos também comunicar o Ministério Público e requisitar o que é preciso. Estamos acompanhando. Pesquisei o processo e está sob sigilo. Disseram que tem um documento autorizando, mas queremos saber que documento é esse", disse
Até a mais recente atualização dessa matéria, nossa equipe não conseguiu contato com os empresários.
*Estagiária sob a supervisão de Adriana Bernardes.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação