Cidades

Quadrilha do 'golpe do boleto' chegou a faturar R$ 19 milhões

Eles usavam dado de boleto original para fazer um novo documento, alterando código de barra e valor. Ao enviar para a vítima, alegavam erro de cálculo

Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 19/03/2019 19:58
Policias apreenderam computadores, celulares, mineradora de bitcoin, documentos, além de R$ 300 mil em espécie, carros, lancha e jet-ski
Uma quadrilha faturou ao menos R$ 19 milhões com golpes aplicados por meio de falsificação de boletos bancários, no Distrito Federal e em Goiás. Doze pessoas foram presas ontem. Mas há outras investigadas, incluindo um servidor Superior Tribunal de Justiça (STJ), suspeito de aumentar os ganhos do bando por meio da compra e venda de moedas virtuais.

A investigação que apurou os crimes em série resultou na Operação Ecommerce 2. Agentes cumpriram mandados em 25 endereços do Plano Piloto, de São Sebastião, do Guará, Recanto das Emas e em municípios goianos, como a capital do estado, Aparecida de Goiânia, Anápolis e Hortolândia. Uma equipe apreendeu um computador no STJ. O equipamento funcional era usado pelo servidor investigado.

Além de prender os principais suspeitos e recolher material que será usado como prova, os agentes apreenderam R$ 300 mil em espécie; 10 veículos de luxo; uma moto aquática; uma lancha; e mais de 150 telefones celulares.

O delegado Wisllei Salomão, chefe da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf), explica que os investigadores chegaram aos 12 presos ontem após uma análise dos aparelhos e documentos apreendidos na primeira fase da Operação Ecommerce, deflagrada em junho de 2018. À época, dois homens foram presos no Cruzeiro, onde chegava a maioria da mercadoria obtida pelos golpes com boleto.

;Trata-se de um grupo que enganava as vítimas falsificando boletos de pagamentos. Não necessariamente de compras da internet, mas de contas como as de luz. Eles obtinham os dados deste documento para a fraude. Todas as informações eram mantidas, menos o valor de pagamento e o código de barras;, explica o diretor-geral da Polícia Civil do DF, Robson Cândido.

De acordo com os investigadores, a quadrilha usava um valor pouco abaixo do boleto original. Se a vítima comprava R$ 5 mil, o novo documento vinha R$ 4,8 mil. ;Os estelionatários interceptavam o boleto da vítima. Por meio de perfis falsos em sites de compras da internet, adquiriam outros objetos, como celulares. Com o novo boleto e valor, iniciava-se a terceira fase do golpe;, detalha o delegado Rodrigo Carbone, da Divisão de Proteção ao Consumidor, ligada à Corf.

;Com as mudanças, eles enviavam o documento para o e-mail da pessoa, alegando erro de cálculo. Assim, a vítima pagava pelo último boleto. Só que ela estava, na verdade, adquirindo objetos para os criminosos e ficando no prejuízo;, acrescenta Carbone.
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Lavagem de dinheiro

Os objetos adquiridos por meio das fraudes eram revendidos em lojas físicas e também pela internet. Os criminosos tiveram uma loja de pescaria em um shopping da Asa Norte, que também serviu para movimentar o dinheiro ilegal. Segundo apuração da polícia, as empresas eram abertas e fechadas frequentemente. O objetivo era dificultar o trabalho da polícia para a identificação desses crimes.

Por causa das movimentações monetárias com dinheiro virtual, o delegado-chefe Marcelo Portela, da Direção de Proteção ao Consumidor (DPCon), destaca que o esquema de fraude se ;mostrou muito maior e com uma articulação elaborada;. ;Além de lavagem com dinheiro físico, eles também realizavam este crime usando bitcoins;, comenta.

Portela lembra que usar bitcoins não se caracteriza delito. ;Mas, comprar ou vender a moeda para perfis falsos é considerado crime. Esses estelionatários têm vasto conhecimento em informática e usavam este meio para dificultar o rastreamento deste dinheiro. Não existe um banco que mantém o controle da criptomoeda;, salienta (leia Para saber mais).
O servidor do STJ é investigado pela suposta relação com a quadrilha. ;Vamos averiguar se o servidor tinha conhecimento sobre o trabalho fraudulento do grupo e se participava da lavagem de dinheiro por meio de bitcoin. Não há qualquer evidência que ele usou o status de servidor para cometer qualquer crime ou que há a relação com qualquer outra pessoa do tribunal;, frisa o delegado Portela.

Por assessoria da assessoria de comunicação, o STJ informou que a suspeita não diz respeito às atividades e que vai aguardar a conclusão da investigação para verificar a possibilidade de tomar providências contra o funcionário.

Os presos foram autuados por associação criminosa, estelionato, lavagem de dinheiro, falsificação de documento público, invasão de dispositivo e clonagem de cartões de crédito. Quanto ao último delito, policiais ainda investigam se eles usaram os cartões para compras on-line.
Computadores e celulares apreendidos. Atrás está a mineradora de bitcoin, encontrada em um dos endereços dos suspeitos

Mineradoras virtuais


O bitcoin é uma criptomoeda que só é usada para transações na internet. Diferentemente do real, por exemplo, a emissão dessa moeda não tem controle. Por exemplo, o real tem código de controle das cédulas e é mantido pelo Banco Central. O bitcoin não tem um banco que o administra.

O bitcoin é criada descentralizadamente por computadores de todos o mundo. A moeda é mantida por pessoas que ;emprestam; a capacidade de máquinas para produzir bitcoins e registrar transações ; como uma mineradora.

A mineradora de bitcoin também é usada para decifrar os códigos matemáticos criptografados destas moedas. Um dos objetivos é encontrar em qual local o bitcon está mais barato para poder comprá-lo.


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