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Comércio do DF espera vender 1,6 milhão de ovos na Páscoa este ano

Quedas da inflação e dos juros tendem a incentivar gastos dos brasilienses com itens relativos à data cristã. Cenário é propício para a produção artesanal de chocolate, que deve gerar renda para 200 domicílios no Distrito Federal


Mesmo com a crise financeira, o brasiliense não economiza no chocolate. A capital deve consumir  1,6 milhão de ovos de Páscoa este ano, 100 mil a mais do que em 2018. É como se metade dos moradores do Distrito Federal comprasse um desse item criado em função do feriado cristão. Percentualmente, as vendas devem crescer 6,6% em relação ao ano passado. Parece pouco, mas é uma oportunidade e tanto para uma renda extra. Ao menos 200 domicílios devem investir na produção artesanal.

As embalagens de ovos de Páscoa já tomam prateleiras e corredores inteiros de lojas. O feriado cristão — que, neste ano, cai em 21 de abril — costuma ser um momento de expectativa para o varejo. Elas apostam no crescimento das vendas devido à queda dos juros e da inflação, que aumentaram o poder de compra dos consumidores, de acordo com o Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF).

Os preços dos ovos de chocolate devem variar entre R$ 8 e R$ 750, sendo que 95% das compras serão feitas com cartão de crédito, ainda de acordo com o Sindivarejista-DF. A notícia ruim é que a previsão de contratações temporárias no comércio será menor. Enquanto em 2018, 800 pessoas conseguiram serviço graças à Páscoa, neste ano a estimativa é de que o número não passe de 600. Caso seja confirmada, a queda será de 25%.

Para o presidente do Sindivarejista-DF, Edson de Castro, a ampla faixa de valores atingirá todos os tipos de consumidores. “Até quem compra menos ovos de chocolate. O dólar está mais estável, a inflação caiu. As coisas estão mais propícias ao crescimento”, avalia. Em relação à cautela do empresariado para as contratações temporárias, Edson explicou que a conjuntura é reflexo das incertezas quanto à mudança de governo e do aumento do número de pessoas que venderão ovos artesanais. “Muita gente perdeu o emprego e, hoje, há várias lojas de chocolate ou sites dando treinamento na própria internet. São caminhos para as próprias pessoas complementarem a renda”, completa.


Independência

Com formação inicial em publicidade e propaganda e dificuldades para conseguir um emprego fixo, Gabriela Silva, 26 anos, decidiu ingressar em um curso de confeitaria. Graduada há um ano e meio, ela passou a trabalhar com a produção dos doces e, em 2019, venderá ovos de Páscoa pela primeira vez. Ela espera lucrar R$ 4,5 mil com 100 doces de fabricação caseira.

A confeiteira investiu no ramo após perceber um aumento da demanda. “As pessoas estão procurando mais produtos artesanais que industrializados. No mercado, o valor que você paga não compensa a quantidade de chocolate que tem. Além disso, os itens de fabricação caseira ficam mais individualizados e você pode montar do jeito que gosta. A procura cresceu bastante”, conta Gabriela.

A história de Felipe Luís Fernandes, 28, é parecida. Recém-formado em administração, o jovem não se sentia realizado na área. Ele produzia doces para consumo próprio e reuniões de família, mas decidiu estudar confeitaria no fim de 2013 para se especializar. No começo do ano seguinte, lançou produtos para a Páscoa. Graças ao sucesso imediato, ele abriu uma empresa na garagem de casa. Em 2019, o empreendedor criou outra linha de produtos: chocolates veganos, sem glúten e sem lactose. “Ano passado, muita gente me procurava falando que estava fazendo dieta ou que tinha alguma restrição alimentar. Senti a necessidade de oferecer mais produtos para esse público”, observa.

Além disso, Felipe apostará nas barras de chocolate, mais acessíveis para quem deseja presentear muitas pessoas. No ano passado, o confeiteiro sentiu os reflexos da crise econômica, mas, agora, está mais confiante e com expectativa de vender ao menos 250 ovos. “Nosso mercado não sofre tanto, mas notei que as vendas diminuíram, porque as pessoas passaram a comprar menos”, acrescenta.

Sem deixar de comprar doces para a família, Alexandre Regis Meneses, por exemplo, não encontrou outra opção para o pagamento além do cartão de crédito neste ano. “Os preços não subiram tanto, mas parece que o dinheiro está rendendo menos. São muitos ovos, e o valor final fica alto. Por isso, decidi que vou pagar no crédito. É bom, porque posso parcelar em dois meses e não fico tão apertado”, analisa o motorista.

Produção em massa


No ramo da indústria alimentícia, o período da Páscoa deve provocar impactos pequenos, e as principais atingidas serão as panificadoras e confeitarias, segundo o sindicato do setor em Brasília, o Siab. “A venda gera um aumento de renda neste período, só não conseguimos especificar o volume disso, mas existe movimentação da categoria. Será algo mais observado no comércio. Quem fabrica sempre aposta nessa época, pois as vendas são muito sazonais. É um período em que há, sim, aumento nos lucros sem ninguém fazer muito esforço, mas a indústria do DF, especificamente, não é muito afetada”, diz o presidente da entidade, Paulo Sérgio Dias.

Com esse cenário, a contratação não tende a ser significativa, especialmente pelo fato de as fábricas no DF serem menores, de acordo com Paulo Sérgio. “Talvez não exista uma variação muito significativa. As indústrias são pequenas. Sem contar que existe uma informalidade muito grande com as pessoas que começaram a produzir”, explica. “As pessoas não estão gastando muito, pois estão preocupadas com a economia e a política. Tudo isso gera expectativa, e a geração de emprego se daria mediante o aumento da demanda”, acrescenta.

Personalização

De olho na oferta de um diferencial e há 18 anos no mercado de doces em Brasília, Maria Amélia Campos começou a produzir ovos de Páscoa há três anos. Com um produto diferente dos disponíveis nos supermercados, o sucesso foi inevitável. “A princípio, eu não queria fazer, mas a procura era muito grande. Muitos clientes pediam e começamos a produzir ovos personalizados e gourmets. Tive um retorno muito bom”, conta. Ela espera que as vendas continuem a aumentar em 2019. “O ano passado foi melhor que 2017, então espero que esse padrão se repita.”

Em relação aos preços dos doces, Maria Amélia afirmou que não houve grandes mudanças. “Os que ficam mais caros são aqueles em que usamos ingredientes menos comuns e mais caros. Começaremos as vendas neste fim de semana”, destaca. A aposta deste ano são os ovos gourmetizados e algumas tendências da gastronomia. Segundo ela, o que mais tem chamado a atenção dos consumidores são os itens recheados com biscoito de chocolate e baunilha e bolo red velvet.  “Nosso diferencial não está no chocolate, mas na personalização. Damos opções de sabores para os clientes e montamos como eles pedem. Isso é o que mais chama a atenção”, pontua.

*Estagiária sob supervisão de Renato Alves