Cidades

Contadores de histórias promovem o contato com o mundo dos contos de fadas

Os profissionais de contação de histórias são personagens fundamentais na viagem lúdica ao mundo dos contos infantis

Aline Brito*
postado em 26/03/2019 06:00
Os contadores de Historias Keila Branco e Augusto Dias se apresentam em escolas por todo o DF contando historias para jovens e criancas

Contar histórias é uma arte que tem papel essencial na vida das crianças. Narrar um conto é a expressão viva da oralidade cultural, uma ponte entre o imaginário e a realidade. Além disso, fortalece os laços emotivos e sociais. Os profissionais de contação de histórias são personagens fundamentais na viagem lúdica ao mundo dos contos infantis e, para embarcar nesse passeio, é necessário dois componentes: uma boca para contar e um ouvido para ouvir. Contadores de história no Distrito Federal oferecem à criançada uma excursão única para a diversão.

;Cadê a história que estava aqui?; é um dos projetos que possibilita aos alunos de escolas da rede pública do DF uma passagem para o universo dos contos de fadas. Criada pelos brasilienses Queila Branco e Augusto Dias, com suporte do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura, a iniciativa busca passar de boca em boca, de ouvido a ouvido as histórias dos livros infantis. O casal percorre colégios públicos desde 2016.

A animação das crianças é perceptível para quem observa a apresentação do casal. Sentadas no chão do pátio da escola, com os olhos brilhando, as crianças assistem, atentas, às versões de histórias conhecidas popularmente, como João e Maria e a Princesa e o Sapo. O envolvimento das pessoas que presenciam a contação acontece desde o instante em que as palavras ;era uma vez; são pronunciadas. Risadas, entusiasmo, palmas, semblantes apreensivos, alegres e surpresos são notáveis nos rostos de cada um.

Como disse o poeta e fabulista francês Jean de La Fontaine, ;se quiser falar ao coração dos homens, há que se contar uma história. Dessas onde não faltem animais, ou deuses e muita fantasia. Porque é assim ; suave e docemente que se despertam consciências;. E é exatamente assim que o projeto ;cadê a história que estava aqui; chega aos corações de quem participa, por meio do lúdico, da fantasia. ;Da minha boca para o seu ouvido, do seu ouvido para o seu coração;, assim, com essa frase, Queila finaliza todas as apresentações.

O desejo de Queila de contar história surgiu com a maternidade. Os filhos da professora tinham dificuldade para dormir, e ela decidiu utilizar os contos infantis para tratar esse problema. ;Eu senti a necessidade de contar histórias para os meus filhos à noite, antes deles dormirem. Isso os auxiliava no processo do sono e despertava o interesse pela leitura;, conta Queila. Hoje com 14 e 16 anos, os filhos dela são leitores assíduos e ;têm muita história pra contar. Além de terem mais consciência do que é ser humano;, afirma Queila.

Em 2007 a professora ingressou em um curso de contação de histórias e se profissionalizou. ;Hoje eu conto histórias profissionalmente. O curso trouxe novos horizontes e me mostrou outras possibilidades de expandir aquilo que eu fazia com meus filhos diariamente. A partir daí eu vi a oportunidade de alcançar muitas crianças;, disse a contadora de histórias. Para o projeto, Queila uniu o amor pelos contos com a paixão do marido, Augusto Dias, pela música para montar o espetáculo. Juntos há 21 anos, destes, 11 anos foram contando histórias. ;Foi bacana juntar a habilidade da música com a contação de histórias. Estamos há mais de 10 anos na estrada, percorrendo escolas e levando a magia para crianças e adolescentes;, comenta Queila.

O projeto


No primeiro ano de atuação, o projeto atendeu 5 mil crianças da rede pública de ensino. Este ano, no primeiro trimestre, as regiões administrativas que estão sendo contempladas são Riacho Fundo 1 e 2 e Recanto das Emas. O intuito do circuito é visitar todas as regiões administrativas e levar o encantamento à realidade das crianças. ;No projeto, nós apresentamos os contos tradicionais às escolas e os tratamos como obras-primas da infância, como encantamento das narrativas populares;, explica Queila Branco.

Ao todo, sete histórias fazem parte do repertório do projeto. Para cada apresentação, um conto é escolhido de acordo com a faixa etária dos ouvintes. Nos centros de educação infantil, geralmente, são feitas narrações dos Três Porquinhos e Patinho Feio, nos centros de ensino fundamental são apresentadas versões da Rapunzel e João e Maria, por exemplo. ;Ler é exercitar muitas habilidades e a contação de histórias ajuda a formar novos leitores. Então nós temos o cuidado de escolher os contos que mais se adequam à idade de quem vai assistir à apresentação, para que consigamos atingir cada criança em sua particularidade;, afirma Queila.

As apresentações são compostas por elementos visuais que ilustram a aventura contada e com efeitos sonoros tocados pelo músico Augusto Dias. ;Esses recursos servem para prender a atenção de quem assiste. Claro que a entonação usada para contar a história também é fundamental;, esclarece a contadora de histórias. ;No conto do Patinho feio, por exemplo, têm pessoas que se emocionam. As reações das crianças ao escutarem essa história são as mais diversas. Esse é o intuito, tocar o coração de quem nos assiste;, comenta Augusto.

Elizeu Pereira dos Santos, 5 anos, assistiu à apresentação das histórias dos três porquinhos e do Patinho feio. Durante o espetáculo, realizado no centro de ensino infantil 304 do Recanto das Emas, o pequeno estudante não desgrudava os olhos da contadora e interagia, entusiasmado, com a história. ;As duas histórias que eles contaram eu amei. Achei muito legal a música e os bonecos que eles usaram. Eu queria que eles contassem mais histórias;, disse Elizeu.

A exibição inspirou o garoto a espalhar a magia dos contos de fadas. ;Eu tenho uma irmã, que ainda está na barriga da minha mãe, quando ela nascer, eu vou contar muitas histórias pra ela;, garante a criança.

Para o segundo trimestre deste ano, existe a expectativa de ampliar o projeto e levar para outras regiões administrativas. ;A história não gosta de ficar aprisionada no livro, gosta de andar de boca a ouvido. O DF tem muitos contadores de história, as pessoas estão começando a perceber que a contação é uma arte cênica muito acessível;, destaca Queila Branco. Há previsão de sessões em escolas do Cruzeiro.

*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

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