Cidades

Ibaneis mira o comando do MDB na sucessão de Jucá

Com a crise no partido e discursos de abrangência nacional, o governador do Distrito Federal busca protagonismo para comandar a executiva da sigla. Para isso, porém, será preciso mudar o estatuto

Alexandre de Paula
postado em 27/03/2019 06:00
O chefe do Buriti é um dos organizadores do Fórum de Governadores
Em meio à perda de importância de caciques do MDB nacional, o governador do DF, Ibaneis Rocha, ganha forças para galgar posições mais relevantes na direção da sigla. Com declarações que repercutiram nacionalmente nas últimas semanas e cenário de incertezas na legenda, o chefe do Executivo local é cotado para assumir a Presidência nacional do MDB e comandar a renovação do partido, desgastado com políticos envolvidos em escândalos de corrupção e prisões.

Atualmente, o MDB é comandado pelo ex-senador Romero Jucá, que tem mandato até setembro de 2019. Derrotado nas eleições do ano passado, o emedebista pode deixar o cargo antes e ceder espaço para a renovação. Jucá assumiu a sigla em 2016 no lugar do ex-presidente da República Michel Temer, preso pela Operação Lava-Jato na última semana.

O desgaste com a prisão de nomes como o ex-deputado Eduardo Cunha e a rejeição ao governo Temer se refletiram nas urnas em 2018, quando o MDB perdeu força. O partido tinha sete governadores até então. Hoje, são três. A sigla ficou, ainda, sem a presidência do Senado, disputada por Renan Calheiros. Com os caciques fora dos holofotes, nomes novos como o de Ibaneis e dos líderes da sigla no Congresso ; o deputado federal por São Paulo Baleia Rossi e a senadora por Mato Grosso do Sul Simone Tebet ; ganharam protagonismo.

Ibaneis nunca escondeu a possibilidade de assumir a direção nacional da legenda nem o desejo de participar com destaque da política nacional. ;Se houver um consenso e for esse realmente o rumo, eu vou assumir mais esse papel para renovar uma sigla a qual me filiei e acredito que pode e deve ser renovada;, disse, em fevereiro deste ano.

Na semana passada, às vésperas da prisão do ex-presidente Michel Temer, o governador fez duras críticas à situação da sigla em reunião interna da legenda e defendeu a necessidade de renovação. ;Não me sinto na condição de estar no mesmo partido em que está Eduardo Cunha;, afirmou Ibaneis. ;Ou vocês querem um partido novo, ou vocês não me querem no partido. Acho que o MDB tem de enfrentar suas feridas, porque, se não, vamos definhar;, alertou.

Dias depois, o governador fez outra declaração com grande repercussão, desta vez em relação à transferência de Marcola, líder do PCC, para a Penitenciária Federal de Brasília. O emedebista criticou o Ministro da Justiça, Sérgio Moro, pela decisão. ;Moro não conhece nada de segurança;, disse. A afirmação colocou o governador novamente nos holofotes nacionais.

Articulação


A articulação de Ibaneis para conseguir destaque nacional começou antes mesmo da posse, destaca o cientista político da Universidade Católica de Brasília (UCB) Creomar de Souza. ;Ele e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), foram os que melhor souberam aproveitar bons quadros do governo Temer, tanto tecnicamente quanto em influência política. Ibaneis demonstrou desde o início uma percepção muito apurada desse espaço que estava aberto;, comenta.

Ao lado de Doria e do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), Ibaneis organiza, desde a transição, o Fórum de Governadores para discutir temáticas relativas aos estados. Ontem, em reunião extraordinária do evento, eles se reuniram com o ministro da Economia, Paulo Guedes, no Palácio do Buriti.

Para o especialista, o número reduzido de parlamentares e lideranças políticas do DF é um ponto que pode atrapalhar Ibaneis na caminhada nacional. Um empecilho para chegar à Presidência do MDB é o próprio estatuto da sigla, que veda membros do Executivo em cargos de chefia. Isso, no entanto, pode ser mudado pela convenção partidária e há um movimento dentro da legenda para a alteração.

Fazer um bom governo à frente do DF é fundamental, explica Creomar, para que Ibaneis se perpetue na política e busque cargos mais altos. ;Se ele tiver pretensões, por exemplo, para estar em uma chapa majoritária para a Presidência nas próximas eleições ou mesmo para se reeleger, vai ter de mostrar uma agenda positiva e políticas públicas que melhorem a vida do cidadão;, avalia. ;Essa ambição nacional é dependente dos avanços no GDF;, completa.

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