Fernanda Bastos*
postado em 28/03/2019 06:00
Moradoras de Ceilândia, jovens mulheres estão se unindo para produzir produtos de beleza e moda a preços acessíveis e de alta qualidade. Ao procurar por mercadorias que desejavam e encontrar itens com valores muito altos, elas perceberam a oportunidade de transformar o consumo de roupas e de outros acessórios de beleza na região administrativa.
De acordo com a artesã Nathália Marinho Cerqueira, 20 anos, a cidade onde mora teve influência decisiva na construção do seu ateliê, Mãe Natureba. ;Eu acredito que, se não disponibilizo minha arte para o lugar onde eu moro eu não posso vender para outros;, destaca. A proposta do negócio é ser acessível, oferecendo tanto aulas e oficinas como produtos artísticos mais baratos. A jovem vende colares, pulseiras, mandalas, pinturas e bordados. ;A extensa vegetação, as plantações de amora, manga e abacate, das quais eu moro perto, influenciaram alguns dos meus desenhos;, conta.
Já a tatuadora e curadora de brechó Larissa Cristina Rodrigues da Silva, 22, teve como principal influência o desperdício de roupas para fundar o brechó Altlet. Para ela e as amigas Gabrielle e Evelyn ; sócia-fundadora e curadora de produção e criadora, respectivamente ; a troca de roupas pode contar com a estilização das peças, que ficam com cara de novas. ;Não podemos deixar as roupas se destruírem se dá para reutilizar e transformar;, destaca.
As peças, vendidas por valores entre R$ 5 e R$ 60, são cuidadas desde a obtenção pelas três empreendedoras. Um dos diferenciais da marca é a reutilização de todos os elementos. ;Estamos no meio do cerrado, que está sendo destruído e, se não cuidarmos pelo menos da roupa que usamos, vamos cuidar do quê? Tudo que usamos, o papel da placa, as etiquetas de preço, a arara das roupas, foi encontrado na rua e reutilizamos;, aponta a empresária.
Nascida em Planaltina, Larissa se mudou para Ceilândia aos 17 anos e afirma que a cidade influenciou sua vivência como mulher na área da cultura. E, para retribuir esse conhecimento, a curadora do brechó acredita que é preciso fazer o dinheiro obtido nas vendas voltar para a cidade. ;A maioria das pessoas de quem compramos as roupas são idosas que vivem em Ceilândia. Dessa forma, ajudamos pessoas daqui e retornamos o dinheiro para o mercado na esquina, para a produção de eventos, para a troca de outras roupas;, destaca. As peças mais vendidas pelo brechó são tops de diversas cores e tamanhos, para todos os tipos de corpo.
Força
Seguindo o mesmo pensamento, a moradora da M Norte Gabriella Silva Mendes, 21, participa de um coletivo de mulheres negras e empreendedoras que trabalham com o que a terra provém. Em razão da falta de produtos que supram suas necessidades, ela começou a produzir os próprios cosméticos por meio da cosmetologia natural. Com a fabricação de cremes e sabonetes que variam de R$ 4 a R$ 35, a estudante de ciências sociais criou a marca Afrogaia, que já expôs em feiras e eventos na região. ;Essa força vem daqui, dos coletivos da Cei;, destaca.
Para Kamilla Stephany Dias Gomes, 21, nascida e criada em Ceilândia, a força para realização do sonho de criar uma marca de roupas veio da família, de amigos e de seguidores nas redes sociais, onde a jovem se tornou conhecida por falar de diversos temas relacionados a beleza e sobre a cultura na periferia.
Com o público já consolidado e as rendas obtidas no trabalho como vendedora, conseguiu lançar a própria marca, a Kza Company. ;Eu sempre quis ter uma marca de roupas, acessórios e afins que tivesse a minha identidade e a identidade da rua, principalmente de Ceilândia, onde nasci e me criei. Queria retratar a quebrada com uma pegada estilosa, do jeito que eu gosto;, conta Kamilla.
O objetivo da Kza é dar visibilidade à moda das ruas. Nesse contexto, Ceilândia é pura inspiração, que vem das pessoas, das festas e do convívio diário. O diferencial da marca consiste na modelagem, com cortes estilosos e estampas diferentes. Toda a equipe é da região administrativa e as peças, pensadas para o público do ;rolê street; da cidade. ;Não é apenas uma marca. Eu quero, por meio dela, que as pessoas olhem para as roupas que eu lançar, se inspirem e tenham fé e determinação para fazer aquilo que elas sonham em tirar do papel;, ressalta.
* Estagiária sob a supervisão de Mariana Niederauer
* Estagiária sob a supervisão de Mariana Niederauer