Bruna Lima
postado em 01/04/2019 06:00
Quando chove, alaga e ainda há uma enxurrada de lama. Se faz sol, sobe a poeira. Esse é o cotidiano da Vila São José, em Vicente Pires. Mesmo com a rede de drenagem praticamente concluída e parte das ruas pavimentadas, moradores reclamam que a situação piorou. Na principal via que corta a região, o asfalto cede com a passagem da água, que chega com força das ruas de cima e inunda casas e comércios. Os buracos, tapados provisoriamente com terra vermelha, reaparecem com o passar da correnteza e dos carros. Enquanto isso, construções em outros trechos diretamente ligados à vila podem prolongar a continuidade dos problemas.
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Moradora da área há 19 anos, a empresária e cozinheira Nair Dias, 66 anos, acredita que as obras trouxeram mais transtornos do que resultados. ;O asfalto era grosso, parecia um tapete. Substituíram por esse, fininho, que não aguenta água;, diz.
Parte da correnteza e o que ela arrasta vai diretamente para as casas, que foram construídas em uma espécie de vale. O lote do chacareiro Osias Andrade, 59, serve como entrada para esse problema. ;Toda a água que desce da rua vem para cá, por ser o lote mais baixo;, conta. Para tentar resolver o problema, Osias comprou manilhas que pretendia instalar na chácara, mas, com o início das obras do GDF, interrompeu o processo por acreditar que, com elas, a questão seria solucionada. ;Por mais que, por enquanto, seja só transtorno, sei que o serviço não é fácil e está sendo bem-feito;.
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A Secretaria de Obras e Infraestrutura do DF confirma o estágio avançado das intervenções na Vila São José, o que não se traduz em efetividade imediata do sistema, como observa o subsecretário de Acompanhamento e Fiscalização de Obras (Suaf), Marcelo Galimberti. ;Mesmo que as instalações das manilhas estejam prontas, ainda não há funcionalidade, já que o sistema precisa estar interligado e isso requer a conclusão das construções de drenagem, pavimentação e abertura das bocas de lobo nas demais áreas;, explica. Ele afirma, ainda, que a manta asfáltica aplicada é provisória e serve para dar mais conforto à população.
Para resolver o problema das águas que vêm do Pistão Norte, em Taguatinga, entram na Vila São José e ganham força ao longo da Rua 8 de Vicente Pires, é preciso, primeiramente, concluir toda a obra ao longo da via, que tem mais de 4,6 quilômetros de extensão. Por causa da declividade da rua, que tem uma diferença de 125 metros ; o equivalente a um prédio de 41 andares ;, a força do acumulado de chuvas chega a atingir 60 metros por segundo. O canal da Rua 8 deverá se encontrar com o da Rua 3. A coleta das tubulações desse trecho vai ser lançada em uma das 22 bacias de contenção que estão sendo construídas na cidade. Com tudo pronto, a expectativa é de que a velocidade com que a água desce seja reduzida para dois metros por segundo.
Desistência
O governo espera entregar as obras da Rua 8 em outubro. No entanto, um entrave fez com que parte das obras parasse há mais de três meses. A construtora vencedora da licitação do lote 8, um dos quatro trechos que parcelam a Rua 8, rompeu o contrato com o GDF. A segunda colocada, a GAE Construtora, chegou a se instalar para assumir os trabalhos, mas, alegando falta de rentabilidade, também está passando o serviço adiante. A Secretaria de Obras tem de chamar, agora, a empresa que ficou em terceiro lugar. O trâmite deve demorar, no mínimo, um mês. Caso nenhuma das selecionadas queira concluir a obra, a alternativa é fazer uma nova licitação, o que pode levar mais de um ano de processo.
Enquanto isso, moradores da região arcam com falta de estrutura e custos para consertar veículos. É o que afirma a atendente Larissa Machado, 22. ;Os carros ficam atolados;, reclama. Grandes buracos abertos para instalar as tubulações tomaram uma das faixas da pista, que é de mão dupla, por isso, os veículos precisam se revezar na travessia. Por falta de calçadas e rampas, quem também divide o espaço com os carros são as rodas do cadeirante Marcos Rabelo, 30. ;São muitos buracos e nenhuma acessibilidade. Na hora de pedir um Uber, é outra complicação, porque muitos rejeitam ao saberem que a corrida sairá de Vicente Pires;, lamenta.
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O motivo que leva à desistência por parte das empresas construtoras seria a existência de uma pedra encontrada no local onde deveriam passar as tubulações. Como o contrato firmado segue o regime de empreitada por preço unitário, ou seja, por serviço executado, interferências como essa não estão previstas na licitação ; já que deveriam ter sido detectadas pela análise geotécnica antes do início das obras. Nesse caso, a alternativa das empresas é solicitar um valor adicional ao contrato. Para o especialista na área Dickran Berberian, engenheiro geotécnico e professor da Universidade de Brasília (UnB), apesar da limitação, o problema pode ser facilmente contornado com sondagens feitas pelas próprias empresas. ;Não há razão para paralisar, já que a cidade carece das melhorias. No entanto, a solicitação de um aditivo para solucionar o problema precisa ser rigorosamente fiscalizada;, pondera.
O subsecretário Marcelo Galimberti afirma que essa análise exige pelo menos três meses. ;Há um esforço muito grande para dar celeridade ao processo, respeitando a legalidade. Mas é necessário que a população entenda que o que está sendo feito agora é o processo inverso. Vicente Pires nasce de cima para baixo, quando deveria ter sido o contrário;, diz Galimberti, se referindo à construção sem planejamento da cidade.