Cidades

'Faltou uma amizade verdadeira naquele momento', diz amiga de Natália Costa

Jovem investigado muda versão e admite que entrou no Lago Paranoá com a universitária encontrada morta na segunda-feira. Mas ele diz não se lembrar de nada porque estava alcoolizado e nega que a conhecia

Bruna Lima, Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 04/04/2019 06:00
Familiares acompanham cortejo do corpo de Natália, sepultado ontem à tarde, no Cemitério Campo da EsperançaÚltima pessoa a ver a universitária Natália Ribeiro dos Santos Costa com vida, o jovem de 19 anos investigado pela polícia mudou a versão sobre os últimos minutos na companhia da garota, que tinha a mesma idade. Ele admitiu ter entrado no Lago Paranoá com a estudante, fato registrado por câmeras de segurança. No entanto, disse não ter visto ela se afogar. Alegou que estava ;muito bêbado;.

Os dois participavam de um churrasco no Clube Almirante Alexandrino (Caalex), no Setor de Clubes Norte, na tarde de domingo, quando se afastaram dos amigos e caminharam até a margem do Paranoá. Bombeiros resgataram o corpo de Natália na manhã seguinte. Em um primeiro depoimento, na tarde de segunda-feira, o suspeito contou ter ido com a vítima só até um parquinho infantil e uma ducha.

O rapaz voltou a depor ontem, na 5; Delegacia de Polícia (Área Central), responsável pelo caso, sabendo que câmeras de vigilância filmaram ele e Natália dentro do lago. Diferentemente de segunda-feira, quando chegou à unidade policial algemado, descalço e escoltado por policiais civis, dessa vez ele estava livre, calçado e na companhia de um defensor público.

A tese de amnésia alcoólica é sustentada pela defesa, feita pelo defensor público Carlos André Praxedes. ;Por alguma razão ele ficou tentando entender o que estava acontecendo, meio desnorteado, sem ao menos saber se era uma brincadeira. Afetado pelo efeito do álcool, teve uma reação diferente da que poderia ter sido adotada;, justifica.

O defensor ainda afirmou que o jovem procurou por Natália no dia seguinte e compareceu espontaneamente à delegacia. Carlos se referiu à ida do cliente à 6; Delegacia de Polícia, no Paranoá, onde amigas de Natália registraram ocorrência de desaparecimento dela, na tarde de segunda-feira. Logo depois, o corpo da menina foi encontrado.

Carlos alegou que a forma como o jovem foi tratado comprometeu o depoimento. ;Esse relato estava sob profundo abalo emocional e psicológico. Se trata de um jovem imaturo e traumatizado, que foi algemado e fotografado. Houve excessos, mas, agora, o caso está sendo conduzido pela 5; DP com a devida cautela e neutralidade. Estamos à disposição da equipe para qualquer novo esclarecimento;, garantiu Carlos.

Além de depor pela terceira vez, o jovem, estudante do curso técnico de Gestão da Tecnologia da Informação do Senac fez um segundo exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML). Os médicos compararam a moldagem dentária da vítima com o hematoma no corpo do garoto, o que servirá como mais uma ferramenta às investigações. Assim como na segunda-feira, ele não quis dar entrevista, nem ninguém da família, moradora da Asa Norte.

Imagens

A reportagem do Correio assistiu ao vídeo que mostra o momento em que a jovem aparentemente se afoga no lago. Em pé e, depois, sentado, o morador da Asa Norte observa, a poucos metros de distância, o que acontecia na água, antes de ir embora sem prestar ou acionar o socorro ().

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Dor, revolta e cobrança

Um misto de tristeza, revolta e apelos pelo esclarecimento da morte marcaram o velório e o enterro da universitária Natália Ribeiro dos Santos Costa, ontem à tarde, no Cemitério Campo da Esperança. A família não acredita na versão do jovem investigado pela polícia. Os parentes falam em assassinato e o desmentem. Dizem que, diferentemente do que ele afirmou em depoimento, conhecia a vítima. Inclusive se relacionou com ela. Cerca de 200 pessoas compareceram à despedida.

A mãe de Natália, Edivânia Ribeiros dos Santos, rezou junto a amigos e familiares na capela. ;Deus é quem vai dar força para aguentar, mas quero que todos envolvidos sejam responsabilizados. Justiça é só o que resta;, desabafou. Apesar de o caso ainda estar sob investigação, Edivânia acredita que a filha foi assassinada. ;Ele (o suposto autor) vai pagar. A minha filha partiu para sempre. Por que tanta maldade?;, questionou.

Fernanda Pereira, 20, conheceu Natália no ensino médio. ;Era só a gente o tempo todo. A minha amiga se destacava na escrita, era muito inteligente;, contou. De acordo com ela, a vítima tinha bom coração e cuidava de todos, principalmente nas festas. ;Essa história não faz sentido. Faltou uma amizade verdadeira naquele momento;, lamentou. Nenhum dos amigos que estava com ela no churrasco de domingo compareceu à cerimônia.

Uma prima dela, Solange Ribeiro, 39, disse que acompanhou a retirada do corpo no Instituto de Medicina Legal (IML) e viu outros indícios que a fez acreditar que a garota foi agredida. ;A boca e o nariz estavam pretos, muito diferente de alguém que se afogou;, afirmou.

Antes da descida do caixão, outra prima da vítima, Maria Ribeiro, 32, fez um discurso emocionado, ressaltando características marcantes de Natália, como o amor e a alegria à vida. Por fim, ela pediu a elucidação do caso o mais rápido possível. ;Queremos que o juiz, o promotor e o delegado falem com a mãe. Que os culpados vão para a cadeia, porque é lá que merecem estar. Aqui tem uma família chorando, mas sabemos que Deus vai fazer justiça. Natália Costa não vai para o esquecimento.;

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Trabalho e estudo

Nascida e criada no Paranoá, Natália iniciou a carreira de modelo fotográfica e, com o tempo, foi ganhando visibilidade, conquistando 45 mil seguidores no Instagram. De acordo com a família, a jovem fazia ;bicos; para completar a renda. Com o dinheiro dos trabalhos e ajuda de familiares, ela pagava o aluguel e as mensalidades da Universidade Paulista (Unip), onde estudava letras até o fim do ano passado. Recentemente, foi aprovada para o mesmo curso na Universidade de Brasília (UnB), onde as aulas começaram há duas semanas.

A estudante morava sozinha em uma quitinete há aproximadamente um ano, próximo à casa em que antes vivia com a mãe e os dois irmãos mais novos ; um menino de 8 anos e uma menina de 3 ; filhos do segundo casamento da mãe. A renda da família vem dos aluguéis de imóveis pertencentes a Edivânia e da aposentadoria do padrasto da vítima, que exercia a função de vigilante.

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