Cidades

Morre, aos 96 anos, Gervásio Baptista, o Fotógrafo dos Presidentes

Baptista é autor de uma das mais icônicas fotos de Juscelino Kubitschek, em que o presidente acena com uma cartola na mão no dia da inauguração de Brasília

Bruna Lima
postado em 05/04/2019 12:30

Gervásio BaptistaCom as mãos ágeis, o olhar aguçado e uma câmera, ele presenciou momentos que, em boa medida, se tornaram parte da história brasileira porque foram eternizados em suas fotografias. Com sensibilidade, destreza e domínio técnico, Gervásio Baptista fez da fotorreportagem seu ofício e, assim, mesmo por trás das lentes, tornou-se protagonista do cotidiano nacional, fotografando de presidentes a misses.

Na manhã desta sexta-feira (5/4), o fotojornalista fez os últimos registros do mundo, apenas com os olhos, que se fecharam definitivamente. Aos 96 anos, ele morreu na casa de repouso para idosos Espaço Sênior, onde viveu os últimos anos. Até a ultima atualização desta matéria, não havia informações sobre o velório.

De Salvador para o mundo

A foto icônica de JK feita por Baptista, dono da credencial 001 do Palácio do PlanltoNascido em Salvador, Baptista se dedicou à profissão por mais da metade da vida. No âmbito político, ficou conhecido por registrar diversos presidentes, acompanhando de Getulio Vargas a Dilma Rousseff. É dele um dos cliques mais famosos do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Na foto, o criador de Brasília acena com a cartola na mão, tendo o povo e o Congresso Nacional ao fundo, no dia da inauguração da capital, em 21 de abril de 1960.

Entre outros destaques do fotojornalista está a última imagem pública de Tancredo Neves vivo, tirada no Hospital de Base do DF, em março de 1985, onde o ainda não empossado Presidente da República aparece ao lado da equipe médica. Pelos trabalhos, ficou conhecido como o "Fotógrafo dos Presidentes", sendo dele, inclusive, a credencial de número 001 do Palácio do Planalto.

A carreira, no entanto, não se restringiu a esse universo. Cobriu a Guerra do Vietnã, a Revolução Cubana e acompanhou a queda do ex-presidente argentino Juan Domingo Perón. Só de Copas do Mundo, participou de sete, e registrou 16 concursos de Miss Universo. É, como dizem os colegas (e aprendizes de profissão), uma lenda da fotografia.

Gervásio Baptista na Guerra do Vietnã

Talento precoce

Gervásio ainda era menino quando foi contratado pelo primeiro jornal por onde passou. Aos 12 anos, estreou como fotógrafo-assistente para o Estado da Bahia. Não demorou muito para que o talento, que vinha desenvolvendo desde os 9 anos, fosse percebido pelo dono do periódico e de todo o grupo Diários Associados, Assis Chateaubriand. Pela revista Manchete, Gervásio começou a ser reconhecido no meio, fotografando toda a construção de Brasília.

Pelas mãos do repórter fotográfico passaram das máquinas mecânicas e negativos aos equipamentos digitais. No mesmo compasso, acompanhou as inovações tecnológicas e não fez delas uma barreira para exercer a profissão. Mesmo com a fama, constumava negá-la, assim como fez em uma entrevista que concedeu ao repórter do Correio Renato Alves, em 2015. "Todos a quem fotografei eram mais importantes do que eu. Nunca fui famoso, nunca fui rico e nunca fotografei por dinheiro. Quem faz isso não é um bom fotógrafo. No jornalismo, só ganhei bons amigos", afirmou, na ocasião.

Durante a trajetória profissional, o baiano acompanhou as inovações tecnológicas, trocando a câmera mecânica pela digital

Uma das últimas aparições públicas de Gervásio foi em janeiro, quando compareceu à inauguração de uma exposição fotográfica que retratou a trajetória profissional dele. "O grande legado deste brilhante profissional permanecerá vivo. Ele é dono do acervo mais rico da história do país e, por isso, é uma figura que o Brasil não pode esquecer", disse Ivaldo Cavalcante, responsável por organizar a exposição, realizada na Galeria Olho de Águia, em Taguatinga Norte.

No espaço da galeria, uma biblioteca já levava o nome de Gervásio Baptista desde 2012, quando foi inaugurada. Ivaldo quer, agora, criar uma fundação com o nome ícone do fotojornalismo brasileiro. "Há um acervo riquíssimo que precisa ser recuperado, já que faz parte da história, é um direito patrimonial. Temos grandes fotógrafos em Brasília e acredito que, reunindo os colegas, consigamos concretizar a ideia com a ajuda do governo", espera.

Em nota, o MDB lamentou a morte do fotojornalista. "O Brasil perde o ;fotógrafo dos presidentes;. Ele retratou clássicos retratos dos presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e a última foto de Tancredo Neves no hospital. Ele foi também o fotógrafo oficial de José Sarney. Um dos maiores fotógrafos do país se despede hoje. Deixando em nossas memórias as melhores fotos do jornalismo."

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