Cidades

'Onde estão políticas de conscientização?', questiona amigo de jovem morto

Familiares e amigos se reuniram no Campo da Esperança para se despedir do motorista de aplicativo Felype Anderson de Sousa

Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 14/04/2019 08:00
O rapaz, de 22 anos, foi enterrado ontem no Campo da Esperança
Após quatro dias de investigação, agentes da 6; Delegacia de Polícia (Paranoá) tentam encontrar o assassino do motorista de aplicativo Felype Anderson de Sousa, 22 anos. O suspeito de cometer o crime, Alessandro Guerreira Barros, 27, está foragido desde quinta-feira, quando o jovem foi morto, no Itapoã. Ontem, familiares e amigos se reuniram no Cemitério Campo da Esperança para se despedir do rapaz.

Desolada, a mãe de Felype, Leidiane de Sousa, estava acompanhada da noiva da vítima ; que se casaria com ele hoje ;, além dos outros três filhos. Todos estavam extremamente abalados e, por isso, decidiram não falar com a imprensa.

Poucas palavras eram ouvidas de dentro da Capela 3. A cerimônia fúnebre foi guiada pelo pastor Jorge Soares, da igreja Sara Nossa Terra no Itapoã. O motorista de aplicativo congregou o templo por cerca de 10 anos. ;Felype tinha valores, caráter e, sobretudo, humildade. Ele era exemplo de liderança para muitos na igreja, pois era apaixonado pelo que fazia. Sabemos que ele está acolhido nos braços do Pai. Nós, aqui na Terra, não esperamos pela justiça dos homens. Como pastor, gostaria de estar de frente com este jovem (Alessandro) para que ele encontrasse o caminho de Deus;, disse Jorge Soares.

Amigos da congregação de Felype usavam blusas de luto com uma foto do jovem. Outros vestiam uma camiseta do projeto Arena, no qual o motorista chegou a ter uma célula para convidar novos fiéis a participarem da igreja.

O vendedor do Itapoã Gabriel Paiva, 23, também define Felype como um ;líder nato;. Os dois estudaram no Centro de Ensino Fundamental Doutora Zilda Arns, localizado na cidade. ;Posso afirmar que pelo menos 60% das pessoas que vieram ao enterro do meu amigo hoje foram movidas pelo lindo trabalho que ele fez como evangelista. O Felype se destacava por ser alguém que sempre te esperava com uma palavra de conforto e conselhos;, afirmou.

Para Gabriel, o assassinato do motorista de aplicativo significa uma ;perda imensurável;. ;É algo que dói a todos nós, porque não havia um que não adorasse o Felype. No entanto, mesmo com a vida breve que teve, a história dele é uma semente que gerará frutos.;

O amigo de infância também indica que o caso é reflexo de uma onda violência que atinge especialmente Paranoá e Itapoã. ;Não há um dia em que não vemos assaltos, brigas de trânsito e feminicídios. Desde 2014, são incontáveis os amigos que tive de enterrar, que se perderam para a criminalidade que toma conta do país. Mesmo com inúmeras tragédias, onde estão as políticas de conscientização para que a violência não seja parte do nosso dia a dia?;, questionou Gabriel Paiva.

Polícia descarta briga

Um vídeo de câmera de segurança de um comércio na avenida principal do Itapoã, onde Felype de Sousa foi morto a tiros, filmou o momento do crime. Diferentemente do que foi dito por uma familiar que estava no carro do possível atirador, quando o assassinato aconteceu, a vítima e o suspeito não se envolveram em uma briga. Em primeira conversa com investigadores da 6; DP, ela afirmou que o motorista de aplicativo teria empurrado e cuspido no tio dela.

Segundo a delegada-chefe Jane Klebia, as imagens foram indispensáveis para contradizer o depoimento. ;Ele foi pego de surpresa. A filmagem mostra que houve uma pequena discussão e, depois, Felype foi em direção ao carro dele. Quando a vítima estava na porta do veículo, foi atingido pelos disparos;, frisou.
A noiva de Felype também prestou esclarecimentos à polícia. A jovem de 18 anos afirmou que a vítima foi questionar Alessandro sobre como poderiam resolver o acidente. ;Se vira! Se você não sair daqui, vai levar pipoco!”, teria ameaçado o suspeito.

De acordo com a delegada, a noiva pediu a Felype para que fossem embora dali, bastante assustada com a reação de Alessandro. A vítima concordou, mas foi morta. Depois de dar os disparos, o acusado escapou no carro dele e se dirigiu à casa de um familiar, onde teria pego uma bicicleta para continuar a fuga. Até a noite de ontem, o acusado não havia sido preso.

Alessandro estava em regime domiciliar havia seis meses e, desde então, trabalhava em um bar da Asa Sul. Ele cumpriu cinco anos de pena no Complexo Penitenciário da Papuda, condenado por tentativa de homicídio. Este crime aconteceu em 2013, quando o detento atirou no homem que, conforme suspeitava, era amante da namorada dele.

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