Cidades

Saiba o que estão fazendo os candidatos que perderam a eleição ao GDF

Enquanto alguns fazem planos políticos, outros se dedicam a negócios ou pensam em aposentadoria. Nenhum ocupa cargo na administração pública

Ana Viriato, Alexandre de Paula
postado em 14/04/2019 08:00
Fachada do Palácio do Buriti
De produtor rural a consultor em comércio exterior: os nove candidatos que enfrentaram Ibaneis Rocha (MDB) na corrida pelo Palácio do Buriti seguiram caminhos distintos após a derrota nas urnas. Cem dias depois do início da gestão do sétimo governador eleito desde a conquista da autonomia política pelo Distrito Federal, os donos de 1,3 milhão de votos ; somados primeiro e segundo turnos ; têm apenas uma característica em comum: nenhum deles ocupa cargos na administração pública.

Sem mandato pela primeira vez em 14 anos, o ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB) voltou às raízes, no Senado, onde ocupa o cargo de analista legislativo. O socialista está lotado na liderança do PSB, em função comissionada, e recebe, por mês, cerca de R$ 26,2 mil, com os descontos obrigatórios incidentes sobre a remuneração. Na função, dedica-se ao estudo da Reforma da Previdência. ;As análises embasam a posição de deputados e senadores. O PSB não fechou questão. Mas meu entendimento é de que a reforma, do jeito que está, será prejudicial aos trabalhadores mais pobres. Muita coisa precisa ser alterada para aprová-la;, pontuou Rollemberg.

O ex-chefe do Buriti não se livrou totalmente da antiga rotina. Dia desses, dirigiu até o Setor Habitacional Sol Nascente, em Ceilândia, para passar a tarde com lideranças locais. Durante o mandato, o socialista inaugurou diversas obras de infraestrutura na região. Na corrida pela reeleição, a cidade era carta marcada como um dos principais pontos de campanha. Filiado ao PSB desde 1985, Rollemberg ainda participa das reuniões da legenda, e pensa em voltar aos holofotes em 2022. ;Neste momento, não estou preocupado com isso. Mas, muito provavelmente, haverá uma candidatura. Apenas não sei a quê;, comentou.

Terceiro colocado na corrida pelo Palácio do Buriti, o ex-deputado federal e ex-governador Rogério Rosso (PSD) retomou a carreira de advogado e atua nas áreas do direito comercial, internacional e econômico. Ele ainda presta consultoria em empresas ligadas ao comércio exterior. Na última semana, esteve em Nova York a negócios. ;Era o caminho natural, uma vez que passei mais tempo da vida no ramo privado do que no público;, assinalou o pessedista, que entrou na política como pupilo de Joaquim Roriz.

Rosso disse acompanhar a movimentação política na capital, mas ressaltou não ter se sentado à mesa com o governador Ibaneis Rocha (MDB) após o triunfo do emedebista. ;O PSD não é oposição, mas também não faz parte do governo;, afirmou o presidente da sigla no DF. Ao falar sobre a renovação do mandato à frente do partido, desconversou. ;Tenho que ver o que o partido acha. Ainda mais porque estou em uma nova fase da vida;, se esquivou.

Fazenda

Longe da Câmara dos Deputados após quatro mandatos, Alberto Fraga (DEM) dedica-se, hoje, à sua fazenda, na região da Chapada dos Veadeiros (GO), onde passa cerca de três dias por semana. ;Passei muito tempo na política, mas também sou produtor rural. Planto soja e milho, por exemplo;, ponderou. O demista adiantou, ainda, que pensa em advogar, dado o diploma em direito.

Por ora, Fraga não segue outros trilhos na área profissional. ;Estou aguardando até que minha vida na Justiça seja resolvida. Tenho muitos contatos com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Mas, em virtude da situação, prefiro ficar mais distante. Preocupo-me muito com a relação entre governo federal e Congresso Nacional, que precisa ser reparada. Quando estiver livre de pendências, estarei a postos, caso ele precise;, afirmou o ex-deputado, condenado em dois processos por concussão ; exigência de vantagem indevida em razão do cargo ocupado.

Apadrinhado de Bolsonaro na disputa pelo Executivo local, General Paulo Chagas deixou de vez a vida política. O partido pelo qual concorreu, o PRP não alcançou a cláusula de barreira e deixou de existir, e o militar da reserva não pretende se filiar a uma nova sigla. ;Fiz uma incursão para ajudar no momento. Minha contribuição, eu dei: a tentativa de colocar meu conhecimento à disposição do DF. Cumpri a missão;, cravou.

Na reserva desde 2006, Chagas diz não ter mais contato com Bolsonaro e ressaltou que acompanhará o cenário político-econômico como o restante da população. ;Estou sempre me atualizando e debatendo. Mas de longe. Essa participação é fundamental. Cada um de nós é um voto. Precisamos saber o que fazer com ele daqui a quatro anos;, pontuou.

Salas de aula

Estreante na corrida eleitoral em 2018, Fátima Sousa (PSol) voltou à Universidade de Brasília (UnB), onde ministra as disciplinas de Políticas Públicas de Saúde e Metodologias de Pesquisa. Apesar de dedicar-se à carreira educacional, entretanto, ela não pretende se afastar da política. ;Partidos são construídos no dia a dia. Farei no PSol como fiz no PT: contribuindo sempre. Estamos com uma campanha forte de filiação e pretendemos fazer a sigla crescer;, frisou. A professora não descartou testar as urnas mais uma vez. ;Cumpri minha tarefa com os limites relativos ao dinheiro e ao tempo de TV. Mas sempre me coloquei à disposição para as tarefas que quiserem me dar. Isso não vai mudar;, complementou.

Também novato nas urnas, Júlio Miragaya (PT) intensificou as ações na militância petista. Na última semana, participou de um movimento, em Brasília, que pediu a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ;Neste ano, temos o Congresso do partido, que está marcado para o segundo semestre. Nele, serão discutidas as diretrizes que a legenda deve adotar, políticas de aliança. Eu diria que a questão central é organizar a resistência à ofensiva da retirada de direitos, proveniente da Reforma da Previdência;, contou. No lado profissional, realiza consultorias econômicas e preside entidades e associações ligadas ao setor. Ainda integra o Conselho Federal de Economia.

O empresário Alexandre Guerra, que concorreu pelo Novo, voltou aos negócios. Herdeiro da rede de restaurantes Giraffas, retornou ao conselho da empresa, além de participar de outros empreendimentos. ;No Novo, acreditamos que é preciso ser independente da política. Então, nada mais natural do que voltar ao trabalho anterior.; Guerra também se engajou em um movimento chamado Nação Empreendedora, que promove capacitação e networking entre os que estão iniciando no mundo do empreendedorismo. ;É um projeto que conseguiu chamar 350 pessoas em 2 meses e que está aberto para quem quer crescer e interagir;, explica.

Em relação à política, o empresário se mantém ativo na condução do Novo e não descarta voltar a se candidatar nas próximas eleições. ;Eu saí da campanha supermotivado a continuar e feliz com o que conquistamos com o partido. Vejo a candidatura como uma consequência natural do que fazemos. Então, ainda é cedo, mas é, sim, uma possibilidade;, explica. O Correio não conseguiu contato com Eliana Pedrosa (Pros) e Guillen (PSTU).
Quadro com informações sobre os candidatos ao GDF derrotados na última eleição

>> Por onde andam

Alberto Fraga (DEM)
Está se dedicando à fazenda. Último cargo: deputado federal
Número de votos no primeiro turno: 88.840

Alexandre Guerra (Novo)
Voltou a cuidar da rede Giraffas.
Último cargo: nunca ocupou cargos eletivos
Número de votos no primeiro turno: 63.261

Eliana Pedrosa (Pros)
Não foi encontrada para entrevista.
Último cargo: deputada distrital
Número de votos no primeiro turno: 105.579

Fátima Sousa (PSol)
Voltou a dar aulas na UnB.
Último cargo: nunca ocupou cargos eletivos
Número de votos no primeiro turno: 65.648

General Paulo Chagas (Sem partido)
Na reserva, deixou de vez a vida pública.
Último cargo: nunca ocupou cargos eletivos
Número de votos no primeiro turno: 110.973

Guillen (PSTU)
Não foi encontrado para entrevista.
Último cargo: nunca ocupou cargos eletivos
Número de votos no primeiro turno: 1.272

Júlio Miragaya (PT)
Intensificou as ações na militância.
Último cargo: nunca ocupou cargos eletivos
Número de votos no primeiro turno: 60.592

Rodrigo Rollemberg (PSB)
Trabalha no Senado Federal.
Último cargo: governador do DF
Número de votos no primeiro turno: 210.510
Rogério Rosso (PSD)
Retomou a carreira de advogado.
Último cargo: deputado federal
Número de votos no primeiro turno: 169.785

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