Cidades

'Não tenho rancor', diz mãe que teve filho sequestrado há 38 anos

Em entrevista ao Correio, Sueli Silva se emocionou ao falar do filho, contou sua história de superação e disse perdoar a mulher suspeita de sequestrar a criança

Adriana Bernardes, Alan Rios
postado em 26/04/2019 16:28
Sueli Silva aprendeu com as dificuldades da vida a filtrar o que podia tirar de lição de cada obstáculo. ;A vida ensina a gente a olhar, a observar e reter o que é bom. Uma coisa que eu sempre aprendi muito era peneirar o que era bom para mim.; Mas nada disso foi fácil. Além de ter passado 38 anos sem notícias do filho, que foi até tido como morto, Sueli enfrentou outras tragédias em seu caminho.
Em entrevista ao vivo ao Correio nesta sexta-feira (26/4), ela contou que viu a mãe morrer na sua frente, foi abandonada pelo pai e levada ao abrigo pelo avô. Depois disso, teve seu corpo violado em casos de abuso sexual. Quando teve relações consensuais, engravidou e se apaixonou, mas viu o namorado, pai do menino sequestrado, se mudar de país sem saber da gravidez. Em outro relacionamento, teve outra filha, mas a jovem morreu cedo, aos 15 anos.
Mesmo com tantos problemas entre infância e adolescência, ela encontrou formas de ressignificar as ligações com Marta, a dona do abrigo onde Sueli viveu e que agora é a principal suspeita da Polícia Civil de ter sequestrado o filho de Sueli. ;Foi uma pessoa muito importante na minha vida, aprendi muito com ela. Ela acolheu minha família em um momento em que a gente não tinha uma perspectiva de vida, nos deu um abrigo e um lar. Então, sou grata a ela;, disse.
;Tia Marta;, como era conhecida a suspeita, administrava um abrigo infantil no Guará e cuidava de quem não tinha para onde ir. Mas as relações da mulher com as crianças do orfanato eram conflituosas. Seu filho chegou a abusar sexualmente de uma delas e ela defendeu o garoto.
Apesar disso, Sueli também não acha que a dona do abrigo seja uma pessoa ruim. ;Acredito que ela tomou decisões com base no que ela acreditava ser verdade, pensando no que era melhor para mim, para ela e para a instituição.;

A dona do abrigo morreu em 2012, mas antes deixou uma esperança a Sueli, dizendo que o médico que realizou o parto do bebê sequestrado poderia saber seu paradeiro. A partir daí, começaram as buscas mais detalhadas, mas ainda difíceis. Em 2013, Sueli resolveu escrever uma carta ao Ministério Público e aos delegados da 14; Delegacia de Polícia (Gama) contando sua história.

De lá para cá, muitos sentimentos tomaram conta da mãe. O maior é o que está presente hoje, a felicidade que ela teve ao saber que Luís Miguel, nome que deu ao filho em 1981, está vivo. "É bonito como a mãe!”, exaltou. O reencontro presencialmente ainda vai ocorrer, em Brasília. Enquanto isso, ela segue ansiosa.;Eu sempre sonhei com o momento em que falariam que encontraram meu filho, e isso aconteceu;, comemora.
Assista à entrevista completa:
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