Cidades

Opinião: Gratidão não prescreve

Ana Dubeux
postado em 28/04/2019 13:20
Mulher com galhos luminosos saindo do coração claream o seu rosto.Há ligações que não se quebram, cadeias que não se rompem, lembranças que não se apagam. E pode parecer um tanto enigmático este início de artigo de domingo, especialmente para uma semana tão pródiga em acontecimentos. Poderia, de fato, transcorrer linhas e linhas sobre esse universo estranho (para dizer o mínimo) que se tornou a política nacional capitaneada pelo clã Bolsonaro, mas o fato é que gostaria de dizer mais sobre o que me parece caro e raro. Sobre ausências sentidas, verdades que trancamos no peito e sentimentos que duram para sempre.

Nesta semana, li um texto lindo de uma amiga sobre a saudade que sente do pai e um trecho da entrevista do ex-presidente Lula falando sobre a dor de não ter se despedido do amigo Sigmaringa Seixas. Lembrei de uma frase do meu pai que sempre me acompanhou. Ele disse assim: ;Gratidão não prescreve;. Desde então, aprendi que nesta vida precisamos escolher de que lado queremos estar: dos gratos ou dos ingratos.

Nunca entendi os ingratos, mas eles são muitos. São daquela mesma linhagem dos invejosos, dos que não perdoam o sucesso ou a felicidade alheia. Em um minuto, viram as costas a quem lhes fez um bem. Para isso, basta que sejam, em algum momento, beliscados por uma mesquinharia qualquer. Confesso: sou dada ao perdão, como boa cristã, mas tenho problemas em esquecer uma ingratidão.

A frase de meu pai tornou-se, para mim, um mantra. No meio deste mundo tão disruptivo e veloz, em que todo dia alguém tem ideias brilhantes capazes de romper sistemas, quebrar protocolos e hierarquias, inventar palavras e conceitos novos, eu ainda vejo todos os dias pessoas se curvarem a gestos e sentimentos imutáveis: um abraço, uma mão estendida, um colo, um carinho, uma palavra, qualquer intenção solidária, um muito obrigada... É isso que ainda muda o mundo ; ou, pelo menos, a vida de quem está a seu lado e a sua própria.

Se eu pudesse te dar um conselho, seria: fique com os seus amigos, com os ensinamentos dos seus antepassados, com o amor da sua família. E espalhe tudo que tem de bom por aí. Porque, nesse tempo tão sombrio, em que boa parte de nós gostaria de enfiar a cabeça na terra e só retirar quando este inverno rigoroso de ideias estapafúrdias acabar, só nos resta soprar bons ventos e semear algo que de fato seja capaz de germinar alguma coisa boa.

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