Cidades

'Não sabíamos se ele atiraria em mais alguém', conta aluna de Valparaíso

Estudante é procurado por assassinar a tiros o coordenador do Colégio Estadual Céu Azul, em Valparaíso (GO). Ambos tiveram uma discussão pela manhã e, à tarde, o garoto voltou uniformizado para matá-lo. Suspeito fugiu do local após atingir a vítima duas vezes

Sarah Peres - Especial para o Correio, Walder Galvão, Bruna Lima
postado em 01/05/2019 06:00
O crime ocorreu por volta das 15h durante um dos intervalos de aula: desespero tomou conta do colégio
"É tiro", brincaram os alunos do Colégio Estadual Céu Azul, em Valparaíso, antes de perceber que o barulho, de fato, se tratava de disparos. Os tiros eram para o professor e coordenador da unidade de ensino, Júlio César Barroso de Sousa, 41 anos. O clima de descontração dos adolescentes que voltavam para as salas depois da aula de educação física, na tarde desta terça-feira (30/4), foi substituído por terror e pânico. O suspeito, de 17 anos, é aluno da escola e continuava foragido até o fechamento desta edição.

O assassinato ocorreu por volta das 15h, na cidade goiana localizada a 35km de Brasília. ;Estava perto de onde tudo aconteceu. Pensei que era uma bombinha ou alguma coisa do tipo, mas, quando vi o sangue escorrendo no chão, meu corpo começou a tremer;, contou uma estudante de 16 anos. Logo após os tiros, o tumulto tomou conta da escola. Desesperados, alunos se trancaram dentro de salas e alguns fugiram em direção à rua.

;Todo mundo começou a gritar. Peguei a minha mochila e corri. Não conseguia pensar em nada, só lembrei do ataque em Suzano (SP);, relatou outro estudante, de 17 anos.

Segundo testemunhas, o crime ocorreu durante um dos intervalos; por isso, vários alunos circulavam pelo pátio do colégio, próximo ao local onde Júlio foi baleado. ;Não sabíamos se ele atiraria em mais alguém. Passamos um momento muito tenso e triste;, lamentou uma jovem.

Ameaça


Funcionários e alunos do Céu Azul relatam que, antes do assassinato, o suspeito havia se envolvido em uma discussão com uma professora, pela manhã. Em meio à briga, ele a xingou. O coordenador viu a situação e interveio, alertando que o jovem seria transferido de unidade. De acordo com a Polícia Civil de Goiás, o estudante respondeu: ;Posso até sair da escola, mas isso não fica assim.;

Homenagem: 'À memória de um grande amigo e excelente profissional'

Um funcionário do colégio contou ao Correio ter acompanhado toda a situação. ;No primeiro horário, esse aluno brigou com a professora. O professor, que também é coordenador, resolveu tirar o menino da escola devido à gravidade da situação. Júlio disse que, se ele voltasse, chamaria a polícia;, relatou.

Apesar do alerta, o jovem voltou à escola para cumprir a ameaça feita a Júlio César. Vestindo o uniforme da escola, ele entrou pela porta da frente e, sem levantar suspeita e armado com um revólver na cintura, caminhou tranquilamente até a sala dos professores. Lá, o jovem encontrou o coordenador, iniciou uma breve discussão e atirou. ;Ao ver que o adolescente estava armado, Júlio César tentou correr da sala, mas não conseguiu. O autor deu ao menos quatro disparos, mas nem todos pegaram na vítima. O primeiro projétil que atingiu o educador pegou na cintura. Depois que ele estava caído, o estudante de aproximou e, a curta distância, deu o tiro fatal na cabeça do coordenador;, detalhou o delegado Rafael Abrão, do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) da Delegacia de Valparaíso.

Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Samu) chegou ao local 20 minutos após os disparos, mas não conseguiu salvar o educador. O estudante fugiu. ;O acusado é descrito como uma pessoa até tranquila, mas que é mais na dele, quietinho mesmo. Só que a maioria tinha conhecimento do envolvimento dele na criminalidade. Neste momento, todos os nossos esforços estão centrados em capturá-lo;, afirmou Rafael. O adolescente tem passagem na polícia por ato infracional análogo a roubo cometido em 2017.

Indignação

;Agora, a gente só quer justiça. Sei que não vamos ter ele de volta;. Esse é o desabafo de Francilene Alves de Oliveira, 39, cunhada de Júlio. Abalada, ela chegou ao colégio acompanhada da irmã, mulher da vítima, por volta das 19h. ;Ele era uma pessoa muito boa, não consigo acreditar que isso aconteceu;, lamentou. A companheira de Júlio César não conseguiu conversar com o Correio. ;Queremos mais seguranças nos colégios, não podemos mais ver esse tipo de caso acontecendo;, reclamou Francilene.

De acordo com a cunhada, a vítima gostava de dar aula e, além do Colégio Estadual Céu Azul, ensinava em outras unidades de ensino. O professor começou a trabalhar na escola de Valparaíso neste ano. Alunos o descreveram como uma pessoa boa, mas rígida. ;Ele sempre cobrava muito da gente, especialmente que apresentássemos as tarefas. Júlio era muito gente boa;, contou uma aluna de 16 anos. Casado e pai de dois filhos, de 6 e 4 anos, ele morava com a família em Santa Maria. Júlio César buscava as crianças, todos os dias, em uma creche de Valparaíso.

Representantes da Secretaria de Educação de Goiás (Seduc) foram à casa da família para dar a notícia da morte do educador. Em nota, a pasta lamentou a morte do coordenador e confirmou que o aluno de 17 anos da instituição deu os disparos. Uma equipe formada por psicólogo, assistente social e integrantes da Superintendência de Segurança Escolar ficará responsável por prestar apoio à comunidade e à família de Júlio César. ;A Seduc reitera que tem feito todos os esforços no sentido de contribuir para a cultura da paz;, destacou.

A vítima


Estudante é procurado por assassinar a tiros o coordenador do Colégio Estadual Céu Azul, em Valparaíso (GO). Ambos tiveram uma discussão pela manhã e, à tarde, o garoto voltou uniformizado para matá-lo. Suspeito fugiu do local após atingir a vítima duas vezes

Júlio Cesar Barroso de Sousa


; Tinha 41 anos
; Morava em Santa Maria
; Era casado e tinha dois filhos
; Ingressou como educador no Colégio Estadual do Céu Azul neste ano


Memória


2018


28 de agosto

Um adolescente de 14 anos esfaqueou outro de 13 dentro do Centro de Ensino Fundamental 19, na QNN 18/20, em Ceilândia. A dupla se desentendeu, e o mais velho deu facadas na região do peito e do pescoço do mais novo.


24 de setembro

Um jovem de 17 anos foi baleado duas vezes por dois jovens na Escola Classe Vila Nova, em São Sebastião. Segundo testemunhas, a discussão entre ele e os autores começou nas imediações do colégio. A vítima foi atingida no braço, peito e tórax.


3 de dezembro

Uma desavença entre duas mulheres terminou em tragédia na Escola Municipal do Pedregal, bairro do Novo Gama (GO). Jéssica Oliveira entrou na unidade de ensino e assassinou, a facadas, Fernanda Xavier, 21 anos. Ambas eram mães de alunos da instituição. A briga entre as duas começou pelas redes sociais.

Estudante é procurado por assassinar a tiros o coordenador do Colégio Estadual Céu Azul, em Valparaíso (GO). Ambos tiveram uma discussão pela manhã e, à tarde, o garoto voltou uniformizado para matá-lo. Suspeito fugiu do local após atingir a vítima duas vezes

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