Mariah Aquino*
postado em 04/05/2019 07:00
O teatro de bonecos está presente em todo o Brasil, como forte forma de manifestação da cultura popular. Em Brasília, o grupo Mamulengo Fuzuê propaga o hábito dos brincantes desde 2007. Durante este mês, o conjunto se une ao grupo de forró Caco de Cuia para formar o projeto Cuia de Mamulengo, que se apresenta neste domingo na feira dos agricultores do Monjolo, no Recanto das Emas, às 11h.
;Temos o mamulengueiro Thiago Francisco e a Maisa Arantes faz a rabeca, a parte musical;, explica Joelma Bonfim, membro do projeto. ;O pessoal do Caco de Cuia faz a trilha sonora. Quando a brincadeira acaba, o forró continua. Nos adaptamos muito ao lugar em que vamos nos apresentar, então a duração varia. Às vezes, se nos apresentamos no intervalo em escolas e precisamos adaptar ao tamanho do intervalo, mas se estamos em um lugar mais tranquilo, sem essa limitação, pode chegar a 1h40 ou duas horas de apresentação.;
O projeto tem patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura e do Governo do Distrito Federal. ;O FAC é regionalizado, é uma das regras. Então a região da qual enviei o projeto, de onde eu moro, inclui o Recanto das Emas e Riacho Fundo I e II;, ressalta Joelma para explicar a escolha dos lugares em que se apresentarão em maio. Além da Feira do Monjolo, o Cuia de Mamulengo passará pelo restaurante comunitário do Riacho Fundo II, às 12h, no dia 10, e na feira permanente do Riacho Fundo I, às 11h, no dia 26.
;O forró e o mamulengo têm muito público aqui. O público de Brasília é nordestino, quem não é de lá é filho ou parente de nordestinos em sua grande maioria;, afirma Joelma, que toca triângulo e é backing vocal. Thiago Francisco, brincante do grupo, explica como a prática dos teatros de bonecos é conhecida pelo Nordeste: ;Cada região tem um nome específico. No Rio Grande do Norte é João Redondo, na Paraíba é Babau, em Pernambuco é o Mamulengo.;
Thiago Francisco vive da profissão há doze anos. O projeto Mamulengo Fuzuê surgiu da convivência com outros brincantes, com quem ele aprendeu e se apaixonou pelo ofício. ;Tenho um amigo que diz que basta você ver e se encantar;, ele relembra. Thiago começou a acompanhar e observar do lado de fora da toga (ou empanada), que é como é chamada a estrutura em que o brincante entra para criar a história. ;Fui vendo como os bonecos eram feitos, pegando o triângulo, até que entrei na empanada e comecei a fazer meus bonecos.;
Apelo social
Joelma reforça a importância de projetos como o Cuia de Mamulengo, que misturam brincadeira a música e teatro. ;Estes projetos, quando são apoiados, têm uma função muito importante de preservar a cultura popular, não deixar com que as brincadeiras fiquem no esquecimento, fazer com que elas sejam uma coisa constante;, ressalta.
Levar o mamulengo, acompanhado do forró, para a feira, é uma maneira de avivar o espaço. Joelma cita a iniciante Feira do Monjolo, no Recanto das Emas: ;Ela fica próxima ao lugar em que os agricultores produzem, está começando por agora e tem um público grande. Quando uma feira não tem o afeto do público, ela está praticamente morta.;
;Todo mundo que vai ao teatro vai à feira, mas nem todo mundo que vai à feira vai também ao teatro;, questiona Thiago Francisco. Nesse sentido, o brincante ressalta a urgência de levar manifestações culturais para populações carentes dessa demanda lúdica e educativa. ;O mamulengo tem personagens que são tipos sociais, é fácil se identificar;, descreve. ;A gente está lá com as pessoas da comunidade, que se identificam com aquilo ali, faz parte da bagagem e da identidade cultural deles. Quando você fixa um lugar, você restringe, tem gente que não pode ir, a feira não tem isso.;
"Todo mundo que vai ao teatro vai à feira, mas nem todo mundo que vai à feira vai também ao teatro;
Thiago Francisco, brincante
Resgate das origens
Em uma região com forte influência cultural nordestina como o Distrito Federal, o grupo musical Caco de Cuia existe desde 2005 com a proposta de difundir a cultura popular com um repertório rico composto por xaxado, baião, forró pé de serra e xote. Para eles, é essencial fazer o resgate de grandes mestres da música como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, João do Vale e Jackson do Pandeiro.
Brincadeira também é coisa séria
O projeto Mamulengo Fuzuê surgiu da convivência com mestres do teatro de bonecos, palhaços e artistas relacionados à cultura popular. O grupo atua não só em Brasília, mas percorre todo o Brasil em busca da difusão dos costumes relacionados à arte de contar histórias com bonecos. Um mamulengueiro é acompanhado de sua toga ou empanada, a estrutura em que entra para criar narrativas, divertir e gerar identificação do público.
Projeto Cuia de Mamulengo
; Feira dos agricultores do Monjolo (Recanto das Emas)
Domingo, às 11h.
; Restaurante Comunitário do Riacho Fundo II
Sexta, 10 de maio, às 12h.
; Feira permanente do Riacho Fundo I
Domingo, 26 de maio, às 11h.
; Entrada franca. Livre para todos os públicos.
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira