Cidades

Artigo: Jornalismo que emociona

Ana Dubeux
postado em 05/05/2019 08:00
Gêmeas siamesas Mel e Lis, separadas em cirurgia no Hospital da Criança, em Brasília

O bom jornalismo, muitas vezes, exige paciência. O imediatismo, o furo, a informação para ontem e a pressa de veicular uma notícia precisam ceder espaço a uma certa calma. Trabalhar uma pauta com atenção, pesquisar a fundo, identificar as melhores fontes e esperar o momento certo para publicar. Foi assim, com extrema cautela e respeito ao tempo necessário, que esperamos 10 meses para divulgar a história das gêmeas siamesas Lis e Mel, unidas pelo crânio e separadas, em uma cirurgia bem-sucedida, há uma semana.

A repórter Hellen Leite abraçou o caso desde o início. E contou, em primeira mão, como uma equipe multidisciplinar de mais de 50 pessoas trabalhou, estudou e planejou, meticulosamente, um procedimento cirúrgico que durou 20 horas e se tornou uma das mais incríveis e emocionantes histórias da medicina brasiliense. Todos os créditos para a incrível equipe de trabalho do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar.

Desde que tomou conhecimento da história, Hellen passou a acompanhar o passo a passo dessa jornada. Enquanto a cirurgia não era programada, ela estudou o caso, comparou com outros semelhantes, entrevistou médicos, falou com especialistas de vários lugares. O resultado dessa apuração foi presentear nosso leitor com um valoroso banquete de informações científicas e humanas.

Hellen e os demais repórteres que entraram no caso mais tarde escreveram lindamente uma reportagem humanizada e sensível, sem arroubos de sensacionalismo barato, destacando, além da ansiedade familiar, o trabalho de toda a equipe do hospital. Foi a primeira cirurgia de separação de siamesas unidas pelo crânio em Brasília e a terceira do Brasil. Médicos dos Estados Unidos que vieram para ajudar a equipe contam que, até hoje, participaram de apenas 10 procedimentos desse tipo no mundo, incluindo a realizada no DF. Cada movimento na sala de cirurgia foi orquestrado e planejado. E agora tudo isso servirá de referência para a comunidade médica.

É uma alegria poder compartilhar uma notícia dessas. Um hospital público e novo virando referência na capital, no Brasil e no mundo. Uma repórter jovem empenhada em contar uma excelente história com farta emoção. Uma família com o coração em paz. Duas crianças com um futuro bem mais promissor. Brasília no mapa da medicina de ponta. Ou seja, tudo bem, assim como deveria estar sempre. Enquanto você torce com a gente pela plena recuperação de Lis e Mel, eu vou torcendo por mais pautas edificantes como essa.

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