Cidades

Em áudio enviado à vítima, autor de feminicídio admitiu 'amor doentio'

Depois da mensagem, Maciel da Silva acabou assassinando Jacqueline Pereira a facadas, na casa onde ela morava

Juliana Andrade, Sarah Peres
postado em 08/05/2019 12:15

A vítima foi morta em casa, em Santa MariaAntes de matar Jacqueline dos Santos Pereira, 39 anos, Maciel Luiz Coutinho da Silva, 38, enviou a ela uma mensagem de áudio de aproximadamente 10 minutos na qual afirmou ter um sentimento "doentio" pela ex-mulher. A mensagem ameaçadora antecedeu o décimo feminicídio no Distrito Federal este ano, na última segunda-feira (6/5). Jacqueline acabou morta a facadas dentro de casa, deixando três filhos; dois deles com menos de 18 anos.

"O amor que eu sinto por você é doentio mesmo. Na minha cabeça, todo mundo que se aproxima de você, te quer, as suas amigas querem tirar você de mim... Isso na minha cabeça. Queria que não fosse assim, mas, de alguma forma, eu te coloquei na minha vida como única e principal", disse Maciel em áudio de WhatsApp.

Jacqueline foi assassinada a facadas pelo ex-companheiroMaciel não aceitava o término do relacionamento com Jacqueline. Devido às perseguições que sofria do ex-marido, a vítima registrou ao menos duas ocorrências relacionadas à Lei Maria da Penha. A Justiça concedeu duas medidas protetivas que o proibiam de se aproximar dela. No momento da morte, ela estava com as determinações guardadas no bolso.

No áudio, Maciel prometeu parar as perseguições e disse que não faria mal à mulher. "Eu preciso me afastar mesmo. Essa medida protetiva que você fez é até boa, pois, dessa forma, poderei me manter o mais longe de você possível. Não vou te perseguir, ir atrás de você, não vou brigar com você mais. (...) Tenha a certeza que não vou te procurar no seu trabalho ou em lugar nenhum", afirmou Maciel. Ele havia sido orientado pela Justiça, na sexta-feira (3/5) que, caso descumprisse as regras da medida, acabaria preso.

"Eu te perdoo"

Maciel continuou, na mensagem, com um pedido de perdão e, em sua lógica confusa, disse perdoar Jacqueline. "Eu te perdoo por você ter ido na delegacia, por esse processo, por tudo. Se eu for preso, eu vou te perdoar também", afirmou. "Eu sei que estou errado. Desculpa por esse amor que eu sinto por você, é muito forte, mas com a distância, ele vai enfraquecer. (...) Meu castigo vai ser sofrer por ter perdido você, uma mulher maravilhosa. Eu tentava te esconder, te fechar, para que você não se afastasse de mim. De alguma forma, na minha cabeça, te perder acabou me consumindo", acrescentou.

Por fim, ele disse que, por terem filhos juntos, não faria mal a ela. "Tudo foi indo e se transformou nesse amor... (a ponto) de eu achar que minha vida não vale nada por perder você. Não penso em fazer besteira com a sua vida, não. Nós temos filhos que ainda precisam da gente. Cuida bem dos nossos filhos, eles vão precisar muito de você. Se cuida também."

"Estou pronta pra tudo"

Ainda na segunda-feira (6), quando se preparava para voltar do trabalho para casa, onde acabaria morta, Jacqueline demonstrou a uma amiga o medo que estava sentindo, por meio de uma conversa de WhatsApp. "Vou ver o que vai dar. A partir de agora, estou pronta para tudo. Pronta para tudo: matar ou morrer", disse à amiga, também por mensagem de áudio.

Na tarde daquele dia, Jacqueline foi atacada a facadas pelo ex-companheiro, onde ela morava, no Conjunto P da Quadra Central 1 de Santa Maria. Maciel fugiu em uma motocicleta, pegando a BR-040 e parou na altura de Valparaíso, onde acabou atropelado por um ônibus.

Falta de controle emocional

Para a psicóloga Lia Clerot, homens com esse tipo de comportamento têm a necessidade de estar no controle de tudo, inclusive da pessoa com quem se relacionam, o que demonstra, na verdade, falta de controle emocional. "Na cabeça deles, a mulher é uma propriedade. Eles carregam um sentimento de posse, por isso ficam emocionalmente desequilibrados e não aceitam, de forma alguma, o fim da relação ou do casamento", analisa.

Para ela, isso é uma consequência do fato de as mulheres, historicamente, serem vistas como submissas aos homens. "Isso mudou, e as pessoas precisam entender que quando entram em um relacionamento, elas não são donas da outra, e sim companheiras", comenta. A psicóloga ainda ressalta que a mulher precisa ficar atenta aos sinais de ciúmes exagerado e, ao perceber qualquer ameaça, procurar ajuda.

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