Bruna Lima
postado em 12/05/2019 08:00
Para a maioria das mães, acompanhar um filho em uma UTI entraria na lista dos piores cenários para se estar no dia em que é celebrada a maternidade. No caso de Camilla Neves, de 25 anos, essa condição veio em dobro e, mesmo assim, não deixa de ser o maior motivo de comemoração. É no Hospital da Criança de Brasília José Alencar que ela vai passar o primeiro Dia das Mães ao lado das filhas Lis e Mel, as gêmeas siamesas separadas há duas semanas graças a uma cirurgia inédita no Distrito Federal (DF), procedimento que durou mais de 20 horas e mobilizou uma equipe de 50 profissionais.
;Esse dia é meu graças às minhas filhas, então, não faz sentido não estar pertinho delas. Mesmo porque eu não consigo deixá-las;, explica Camilla. É ela a ponte entre Lis e Mel, que experimentam a estranha sensação de não dormir e acordar ao lado uma da outra. Desde o momento em que foram anestesiadas para a cirurgia, as irmãs não se viram mais. As duas se recuperam em quartos separados, a fim de evitar qualquer transmissão de infecção. ;Elas passam o tempo todo procurando a irmã. Dá para notar o quanto uma sente falta da outra, e eu fico contando da maninha, tentando acalmá-las. Mas qualquer hora dessas eu tenho a impressão de que a Lis vai fugir do quarto atrás da Mel e, desta vez, não vai ter quem separe;, brinca.
O sorriso no rosto e o brilho nos olhos escondem qualquer traço de cansaço da mulher que não perdeu a serenidade e encarou com responsabilidade o desafio de enfrentar cada novo passo dessa história sem precedentes no DF. Camilla viu sua vida se transformar em um piscar de olhos. A surpresa começou a partir da gravidez não planejada, fruto do relacionamento da estudante de farmácia e servidora pública com o supervisor comercial Rodrigo Neves, 30, iniciado em 2014. O susto foi multiplicado com a notícia de que seriam pais de duas crianças. A felicidade tomou conta do casal, mas logo foi misturada ao desespero: na décima semana de gestação, descobriram que as gêmeas eram siamesas.
A gravidez extremamente rara (uma a cada 2,5 milhões) apresentou, a cada nova etapa, mais riscos, desafios e vitórias. Para a servidora, a força, a coragem e o sucesso que superaram todas as expectativas têm nome: ;Deus. É ele quem dá o sustento e que colocou anjos ao nosso lado para nos ajudar;.
Nos corredores do hospital, Camilla é a dona dos passos apressados e certeiros de quem sabe onde quer chegar. Confiante, se reveza entre os leitos, num vai e volta sem fim. Apesar dos braços agora sustentarem metade do peso por vez, foi das costas que se retirou a maior sobrecarga. Toneladas de aflições, incertezas, agonia e espera foram praticamente dissipadas. ;Fica só a preocupação normal de mãe e a vontade de ver as duas juntas novamente. Só que agora unidas pelo amor;, diz.
O reencontro é um dos momentos mais esperados. E não só pelas pequenas e pelos pais, mas pelos médicos, enfermeiros, funcionários e amigos que a família conquistou dentro do hospital. Todos estão na expectativa. Pessoas que se uniram, trabalharam, estudaram, rezaram e choraram com o casal Neves. ;Vou estar muito bem acompanhada e espero também minha família e minha mãe para compartilhar comigo o maior presente que poderia ganhar: finalmente ter minhas duas filhas e não duas em uma;. Assim fica fácil concordar: nesse Dia das Mães, não há outro lugar em que Camilla poderia estar.