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'Finalmente estavam ali, juntinhas', comemora mãe das gêmeas Lis e Mel

Mel recebeu alta nesta terça-feira (21/5) e ficou frente a frente com a irmã Lis pela primeira vez desde a cirurgia de separação das siamesas, em 27 de abril

A história de Lis e Mel teve mais um capítulo feliz nesta terça-feira (21/5). Por volta das 11h, ocorreu um dos momentos mais aguardados desde a cirurgia de separação inédita no DF das gêmeas siamesas: as irmãs se viram pela primeira vez desde 27 de abril, frente a frente, não mais ligadas pela cabeça. O momento emocionou a família e as equipes do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB).

[SAIBAMAIS]Recuperando-se de forma mais rápida, Mel deixou a unidade de tratamento intensivo (UTI) do HCB. Antes de ir para a enfermaria, no entanto, ela fez uma visita à irmã. Colocadas de frente uma para a outra, as duas se olharam durante um longo tempo e, depois, deram-se as mãos, para a emoção da mãe, Camilla Vieira, 25 anos, e de todos que observavam a cena.

;Nós as colocamos sentadas mais perto e pegaram na mão uma da outra. Acho que foi um momento de paz delas. Foi a coisa mais linda. Finalmente elas estavam ali, juntinhas. Elas ficaram se olhando, como se estivessem se reconhecendo;, contou Camilla ao Correio. Até um hábito que as garotinhas tinham quando ainda eram unidas pelo crânio foi retomado: assim que teve chance, Mel tentou tirar a chupeta de Lis.

;Para nós, foi maravilhoso e emocionante contemplar o reencontro delas. A sensação era de que elas estavam se perguntando ;Quem é você?;;, disse o enfermeiro Carlos Eduardo da Silva. Ele ficou responsável por coordenar a equipe de enfermagem durante todo o procedimento de separação. ;Se pararmos para pensar que, depois de uma cirurgia complexa como essa, elas estão saudáveis e ativas, ouvindo música e dançando, parece ser coisa de outro mundo;, completou.

O enfermeiro explicou que o quadro de recuperação das irmãs está dentro do esperado. Agora, a equipe de saúde acompanha o processo de rotação da pele, que, apesar de tranquilo, envolve cuidados para evitar infecções. Carlos Eduardo ressaltou ainda que o próximo passo será a reparação da estrutura óssea. ;A melhora delas é nítida. Ambas movimentam os quatro membros e conseguem sustentar o corpo. Estamos com a sensação de dever cumprido;, disse o enfermeiro, orgulhoso.
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Surpresas

As irmãs não se viam desde a cirurgia. No encontro desta terça-feira (21/5), as meninas ficaram por cerca de cinco minutos juntas, acompanhadas por Camilla e pelo avô paterno, Edilson Neves, 49. Elas sorriram, mandaram beijos, deram tchauzinho e ainda arriscaram palavras como ;mamãe; e ;neném;. Mel estava agitada, mas mudou quando viu a irmã, assumiu um ar calmo e alegre.

A recuperação das duas surpreendeu os funcionários do HCB desde a cirurgia. No dia seguinte à operação, Lis abriu os olhos. Já Mel foi a primeira a ter os antibióticos suspensos e passou a respirar sem aparelhos em 29 de abril. Nesta terça-feira (21/5), deixou a UTI. Mesmo internada na unidade intensiva, Lis apresenta quadro respiratório e neurológico estável. ;Estou superfeliz pelo fato de a Mel ter saído da UTI. Falta a Lis, que, se Deus quiser, logo estará na enfermaria também;, disse Camilla.

A notícia do reencontro das gêmeas logo se espalhou pelos corredores do hospital. Quem não conteve a emoção foi o neurocirurgião responsável pela operação Benício Oton de Lima. ;É difícil explicar o sentimento delas quando foram colocadas juntas. Uma agarrava a outra e brincava. As duas estavam muito felizes. É gratificante ver a recuperação das bebês. A Mel saiu da unidade de terapia intensiva e está ativa, cheia de vontades;, contou o médico, emocionado.

O processo de recuperação está sendo vitorioso, afirmou Oton. Segundo ele, a cada 48 horas, cirurgiões plásticos do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) vão até o HCB para trocar os curativos das bebês. Enquanto isso, os pais se revezam. ;A família está se alternando para ficar com elas. À medida que melhoram, passam para o colo da mãe ou do pai;, relatou Benício Oton.

Preparação

Antes da operação, a equipe do Hospital da Criança passou por uma preparação árdua. Ao longo do processo, ocorreram reuniões, análises de exames, estudos de outros casos e até a construção de um molde tridimensional da cabeça das meninas. Estar forte o suficiente para enfrentar a cirurgia foi necessário para as gêmeas e para todos os envolvidos. O resultado não poderia ter sido melhor. ;A primeira fase pós-cirurgia é a mais temida, porque as meninas são muito delicadas e tiveram de enfrentar um tamanho obstáculo, como se alimentar por meio de sonda;, explicou o neurocirurgião.

O Correio contou a história das gêmeas siamesas em primeira mão, em 29 de abril. As bebês, à época com 10 meses, passaram por uma cirurgia inédita na capital federal e a terceira feita no país. As meninas nasceram em 1; de junho do ano passado, no Hospital Materno Infantil (Hmib), e o caso delas foi o primeiro de gêmeos craniópagos (unidos pelo crânio) registrado no DF.

O procedimento de separação demandou mais de 20 horas, além de 50 profissionais diretamente envolvidos. Na equipe, havia servidores do HCB, cirurgiões-plásticos do Hran, além de cinco profissionais do Children;s Hospital at Montefiore, em Nova York, que acompanharam como consultores.
* Estagiária sob supervisão Mariana Niederauer