postado em 23/05/2019 04:09
Culpa e remorso são o que a diarista Rosângela Viana, 38 anos, descreve sentir depois de perceber que a tentativa do filho em protegê-la terminou em morte. Na noite de terça-feira, o namorado dela, Edson Alves dos Santos, 35 anos, chegou embriagado em casa, no Paranoá, e começou a agredi-la. O primogênito, Breno Viana, 21, ouviu os pedidos de socorro e partiu em defesa da mãe. Enquanto tentava contê-lo, o jovem recebia socos, tapas e mordidas, até conseguir imobilizá-lo com um golpe conhecido como mata-leão. ;Eu nunca ia imaginar que as coisas fossem acabar assim. Meu filho está em choque e eu não consigo me perdoar pelo que aconteceu com ele e com o Edson;, lamenta a diarista.
Mesmo tendo sido agredida inúmeras vezes durante o relacionamento, que durou pouco mais de sete meses, Rosângela não acredita que o namorado seria capaz de tirar a vida dela. ;Não me entra na cabeça que ele seria capaz de me matar algum dia. A gente nunca acha. Mas, lá no fundo, sei que estava me enganando, porque a dependência do afeto, do sentimento, falava mais alto. Eu tento explicar para mim mesma como consigo gostar de alguém que me maltrata, mas ainda não encontrei resposta;, conta. Ela registrou duas vezes queixas por violência doméstica contra Edson, que chegou a ficar preso por 19 dias. Quando ele saiu da cadeia, Rosângela pediu para que a medida protetiva fosse revogada e reatou o namoro.
As marcas das agressões ainda estão no corpo da mulher. No Dia das Mães, o homem a mordeu na perna. O motivo sempre era ciúmes. Liberdade era algo que Rosângela não tinha. Deixou de sair com as amigas e de conversar com qualquer homem, pois era briga certa.
Em um dos episódios, Edson perseguiu, armado com um facão, o vizinho, que, mesmo casado, era considerado uma ameaça ao relacionamento dele com Rosângela. Além das passagens por agressão, o namorado foi indiciado por furto e briga em trânsito. ;Quando bebia, ele ficava agressivo e acontecia todo tipo de besteira. Por isso, eu pedi para ele ir embora, mas ele se negou e começou tudo de novo. Ele disse: ;eu só saio daqui, morto;. Dói demais;, revela.
Briga
Em depoimento, Breno disse que voltava para casa quando ouviu gritos e, ao abrir a porta, viu a mãe sendo puxada pelos cabelos. O jovem, então, teria tentado separar os dois, quando levou um soco na boca. Ao conseguir se virar, disse que aplicou o golpe conhecido como mata-leão e que chegou a aliviar a imobilização por três vezes, buscando o diálogo, mas Edson continuava as agressões e ameaçava vingança. A polícia foi acionada e vizinhos foram até o apartamento tentar ajudar na imobilização, momento em que Edson teria parado de lutar. Quando os militares chegaram, ele já estava roxo e com o pulso fraco. O Corpo de Bombeiros foi acionado e, ao chegar ao local, constatou a morte.
Após escutar todos os envolvidos, a 6; Delegacia de Polícia (Paranoá) investiga o caso como legítima defesa. ;A partir da análise dos fatos, avaliamos que a prisão em flagrante não seria necessária. Breno é réu primário, um estudante e trabalhador, sem indícios de que possa causar qualquer prejuízo à sociedade. Porém, ainda que o depoimento dele e das testemunhas corroborem para uma ação em legítima defesa, se chegou a um fim extremo, o que não deve ser incentivado em nenhum sentido;, pondera a delegada-chefe, Jane Klebia.
A prioridade para Rosângela, agora, é dar suporte ao filho e encontrar um caminho diferente do vivido nos últimos meses. ;Vou ter que buscar a força que eu não tive para sair desse relacionamento. Se eu tivesse conseguido, nada disso teria acontecido. Então, só gostaria de dizer às mulheres que vivem o que eu vivi: se a gente deixa passar a primeira atitude de possessão, a primeira ameaça, o primeiro tapa, e vai perdoando, se prendendo mais, pode ser um caminho sem volta. Ainda dá tempo de parar.;