postado em 27/05/2019 04:07
O poder das manchetes
Manchetes são poderosas. E vivemos tempos em que elas se proliferam de maneira avassaladora. Como jornalista, deveria valorizar esse movimento, potencializado, em grande parte, pelas redes sociais. Mas confesso que o impacto alcançado por textos tão curtos, de menos de uma linha, me assusta.
O equilíbrio entre noticiar um fato importante de maneira objetiva e atrair a atenção do leitor para o que se escreve exige cuidado. Mesmo as mãos mais habilidosas podem se perder no exagero. E a velocidade, fator intrínseco a esse processo nos dias de hoje, faz suar tal qual piloto de Fórmula 1 ao tomar decisão crucial no cockpit. Pesa uma responsabilidade sem tamanho.
Melhor que seja assim, inclusive. Deixar de lado esse compromisso seria fracassar. Gosto de refletir sobre como chegamos a esse ponto. Aqui e agora. Sem pretensões existencialistas, de desvendar o hic et nunc e a finitude do ser humano. São pensamentos mais práticos mesmo, momentos em que tento deixar a razão sobrepor as emoções.
Para não deixar o leitor perdido ; peço desculpas pelos rodeios, foi o caminho que as ideias percorreram e talvez tenha faltado habilidade para expressá-las ;, lembro que o tal ponto (de partida) eram as notícias. Mais precisamente, as manchetes.
Aprendemos na faculdade a identificar minimamente aquilo que merece destaque. O interesse público, os acontecimentos inesperados, a atualidade. A leitura constante e as experiências diárias na redação consolidam esse conhecimento e ampliam o leque. E aí chega a hora da reflexão.
Sinto-me como na música de Renato Russo. ;É sangue mesmo, não é Merthiolate / E todos querem ver e comentar a novidade / É tão emocionante um acidente de verdade / Estão todos satisfeitos com o sucesso do desastre. / Vai passar na televisão;.
A canção é da época em que o antisséptico ardia ; quem já sofreu com a aplicação do líquido sobre a ferida aberta certamente entenderá. Nosso jeito de valorizar manchetes, porém, não mudou. É por isso que, no meio das minhas pausas filosóficas, vejo de maneira cada vez mais clara a importância de iniciativas de checagem de fatos, por exemplo.
Ao lado do bom jornalismo, que tem na informação precisa uma forma de empoderamento social tão relevante quanto a educação de qualidade, trata-se da luz no fim do túnel tão buscada nesses dias de referências excessivas e difusas. O ensinamento dos quadrinhos vale para a vida: ;Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades;.