Cidades

Presos no DF integrantes do CV

Dois suspeitos ligados ao Comando Vermelho e acusados de matar policiais no Pará foram surpreendidos pela polícia em Luziânia. Operação nacional resultou na prisão de 937 foragidos por crimes violentos

postado em 29/05/2019 04:30
Representantes da força-tarefa que prendeu quase 1 mil pessoas no país: cerco ao crime


Dois integrantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV) foram presos ontem pela Polícia Civil do Distrito Federal. A ação faz parte da Operação Cronos II, que mirou foragidos por crimes violentos em todos o país. Os dois estavam em Luziânia, município goiano a 60km da capital federal. No total, 27 pessoas foram presas no Distrito Federal e no Entorno.
Com os integrantes da organização criminosa, policiais da Coordenação de Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP), da Polícia Civil, apreenderam quatro celulares. Os aparelhos continham áudios com pedidos de autorização para matar policiais. Além deles, agentes da 23; Delegacia de Polícia (Setor P Sul ; Ceilândia) prenderam o suspeito de matar um jovem de 23 anos e tentar assassinar o pai da vítima, de 49.

Os dois envolvidos com o Comando Vermelho estavam em casa, em Luziânia, quando foram surpreendidos pelos agentes do CHPP, no sábado. Eles são acusados de assassinar três policiais no Pará. Depois do crime, a dupla buscou refúgio no Entorno. Um dos suspeitos, Manoel Barbosa dos Santos Júnior, o Júnior Doido, mandou mensagens a um integrante da célula.

;Tu pode conversar lá com a mulher do tio G, mano? Porque é o seguinte: eu tô com o bonde ali. Tem uma viatura que matou os irmão;, diz parte do áudio, repleto de gírias e erros de português. ;Nós (sic) pode dar esse ataque lá e matar todos esses vermes, dentro dessa viatura; Só que eu tava a fim de que a tia, os tios dessem o aval, tá ligado?;, completou o homem na gravação pelo WhatsApp.

No dia em que Júnior foi preso, ele recebeu o aval para matar os policiais. Mas destaca: a ação só poderia acontecer em 30 de maio. ;Foi dado um prazo pros caras que não podemos matar nenhum segurança pública até dar o prazo que o comando passou. A gente vai se organizando até lá. Quando chegar a hora, quando acabar o prazo, tu já viu, mano. Vamo meter fogo neles;, finalizou.

Investigadores do CHPP obtiveram o material pelos celulares apreendidos, que foram encaminhados para perícia da Polícia Civil. Agentes encontraram com eles peças de ouro, dois documentos falsos e uma porção de maconha.

A ação conjunta foi coordenada pelo Conselho Nacional de Chefes de Polícia Civil (Concpc), com apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria de Operações Integradas (Seopi). A Operação Cronos recebeu esse nome em referência à supressão do tempo de vida da vítima, reduzido pelo autor do crime. De acordo com os dados finais da operação, 937 pessoas foram presas em todo o país.

Células

Segundo o delegado Robson Cândido, diretor-geral da Polícia Civil do DF e presidente do Concpc, apesar do crescimento das prisões de integrantes de facções criminosas, não há crime organizado atuando de forma tão efetiva na capital federal quanto em outras regiões do país. ;Tentaram trazer esta ilusão para dentro de Brasília, no entanto, a Polícia Civil do Distrito Federal monitora isso 24 horas, inclusive pessoas que seriam agregadas de outras faccionadas;, afirmou.

;Aqui, não tem o crime organizado que vemos em outras regiões do país. É natural que pessoas que cometam delitos fujam para outros lugares, incluindo Brasília. Mas aqui o que temos são células que tendem a criar-se por alguns fatores. Mas, inicialmente, conseguimos romper esta situação;, acrescentou Robson Cândido.

27 Total de presos no Distrito Federal e no Entorno durante a Operação Cronos II


Cinco perguntas para Fernando Cesar, titular da Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP)



Pode-se dizer que o crime
organizado está no DF,
que existem células
dessas facções aqui?
Sem dúvida nenhuma. Os trabalhos recentes da Polícia Civil demonstraram que essas facções criminosas tentam se instalar de forma incisiva no Distrito Federal. Elas só não conseguiram ainda se colocar aqui de maneira mais efetiva graças ao trabalho da Polícia Civil. A história de repressão ao crime organizado da Polícia Civil não começa agora. Trabalhamos notadamente nessa questão desde 2001, quando houve rebelião na Papuda, com a transferência de Marcola para cá. A partir dali, identificou-se a necessidade de combater essas facções. Alguns líderes de facções já foram presos aqui.

A Penitenciária Federal de
Brasília, com líderes de
facções, pode fortalecer o
crime organizado no DF?
Um traço marcante nas facções criminosas é o apoio que é prestado, principalmente a essas lideranças. Quando temos a transferência de um líder para uma localidade, consequentemente, se transfere o núcleo de apoio para essa região. Esse núcleo é composto de advogados que se prestam a esse papel, por apoio financeiro para que as famílias desses líderes venham e com a chegada de um núcleo de decisão. Nós nos preocupamos, sim, com a penitenciária. Um fato marcante foi o que ocorreu em Maceió, em que se instalou uma casa de apoio das facções criminosas com a transferências de líderes.

Quais as dificuldades para
combater essas facções?
Hoje, temos alguns mecanismos que complicam esse trabalho. Existe um grande direito absoluto no que diz respeito ao sigilo de comunicação por mensageiros eletrônicos. Mesmo com autorização judicial, você não consegue quebrar esse sigilo. Por quê? Porque as empresas alegam não ter condições técnicas de implementar; por isso, eles não se submetem às decisões da Justiça brasileira. Nós temos, com isso, uma quebra de soberania.

Isso facilita a comunicação
entre os membros da facção e
dificulta a investigação, então?
Facilita. Como uma pessoa hoje fica foragida 11 anos, como um dos que foram presos nesta operação? Adotando procedimentos de segurança para transferência de dinheiro e para se comunicar por meio desses aplicativos. Quantos crimes ele praticou nesses 11 anos?

Com esse contexto, o que
pode ser feito para combater?
Às vezes, falamos sobre a atuação maior dessas facções, mas citamos razões para que isso esteja aumentando. Por que isso ocorre? Porque o Estado foi deixando de cumprir o papel de repressão, deixando as polícias investigativas de lado. O que é possível fazer é o que o DF tem feito: otimizar recursos, aplicar recursos nas áreas mais sensíveis de investigação, mudando as formas de investigação para contemplar mais fatores.

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