postado em 31/05/2019 04:07
Após 24 dias, o fumacê voltou a ser produzido e aplicado no Distrito Federal. O veneno serve como aliado no combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Ontem, em meio à epidemia da doença na capital, os carros saíram da base, no Parque de Serviços da Administração Regional de Taguatinga, e seguiram para as regiões administrativas com maiores índices de infestação: Taguatinga, Vale do Amanhecer, Jardim Roriz, Planaltina, Brazlândia, Samambaia, Santa Maria, Varjão e Fercal.
O Ministério Público do Trabalho da 10; Região (MPT-10) havia suspendido o serviço do fumacê em 6 de maio, por causa do descumprimento de medidas de segurança e higiene. A ação ocorreu durante o crescimento significativo dos casos no DF: 21 mortos pela doença, além de 21.360 pacientes diagnosticados com dengue, sendo que 97,2% deles são moradores da capital.
Na manhã de ontem, o Governo do Distrito Federal (GDF) protocolou um novo pedido para a suspensão da medida, anexando documentos indicando o cumprimento das normas exigidas pelo órgão. ;Entendemos ser possível realizarmos uma nova inspeção para verificarmos as adequações materiais, pois os documentos já demonstravam um enorme avanço e melhoria quanto às requisições do ministério. No local, conversamos com trabalhadores, verificamos que tudo foi higienizado, adaptado e identificado;, destacou a procuradora Renata Coelho, do MPT-10.
Durante a tarde de ontem, a procuradora voltou ao Núcleo de Controle Químico, no fundo de uma garagem da Administração Regional de Taguatinga. O espaço foi reformado pela Secretaria de Saúde e aprovado. A equipe da procuradoria também fez uma prova oral com os funcionários para saber se todos estavam treinados. Depois do teste, eles foram considerados aptos para voltar ao trabalho.
Renata Coelho frisou que a epidemia de dengue na capital foi considerada MPT-10, no entanto, ponderou que a interdição do serviço se mostrou necessária para a segurança do servidor. A procuradora também afirmou ser necessário ter atenção ao dizer que as normas de saúde e segurança para o exercício de uma atividade de risco são burocracias. ;Esse discurso permite que tragédias como a de Brumadinho (MG) aconteçam. Esstas regras não se discutem, se cumprem. Nenhum gestor público pode julgar, a seu critério, quando cumprirá ou não estas normas;, afirmou Renata Coelho.
O subsecretário de Vigilância em Saúde, Divino Valero Martins, disse que a decisão de interditar o serviço do fumacê não causou prejuízo ao combate do Aedes aegypti. ;O Ministério Público tem o seu papel. Em contrapartida, o governo não ficou parado durante este período. Intensificamos as ações, mas com foco no controle larvário do mosquito. Com a liberação do serviço do fumacê, vamos recuperar o tempo em que a ação ficou parada;, salientou.
O veneno será aplicado em dois períodos do dia: das 5h às 7h e das 18h às 20h, com três ciclos em cada região. ;Assim, esperamos diminuir o surgimento de novos casos no DF. Para alcançarmos o objetivo e aprimorarmos luta contra o mosquito, vamos trabalhar com dois índices. O epidemiológico, que indica onde há o maior número de diagnosticados; e com o entomológico, o qual mostra a densidade dos mosquitos;, explicou o subsecretário.
Demissões
A interdição do serviço do fumacê durante a epidemia de dengue no provocou uma crise na Secretaria de Saúde. A situação acarretou na queda de dois integrantes da pasta em maio. No dia 23, o então diretor da Vigilância Ambiental, Petrônio da Silva Lopes, pediu exoneração. Na última segunda-feira, a subsecretária de Vigilância à Saúde, Elaine Faria Morelo, deixou o cargo ao ser exonerada pelo governador em exercício, Paco Britto.
Entenda o caso
Improviso, sujeira e riscos
O fumacê era produzido de forma improvisada, no fundo de uma garagem da Administração Regional de Taguatinga, no Núcleo de Controle Químico. Servidores do Ministério Público do Trabalho da 10; Região (MPT-10) encontraram inseticidas vencidos que eram misturados a venenos ainda dentro da validade. Tudo era feito em cima de uma bancada improvisada, em meio à sujeira e falta de ventilação. Ainda, o manuseio do venenos e a borrifação nas ruas eram feitos por trabalhadores sem qualificação técnica comprovada. O flagrante levou à interdição do espaço, em 6 de maio.