postado em 31/05/2019 04:07
;Estou aqui para lutar pelo futuro;, disse uma estudante entrevistada pelo Correio durante a manifestação em defesa da educação, na Esplanada. E, de fato, a luta não é mais de direita contra a esquerda; o que se desenha é uma frente ampla contra o atraso. Segundo a UNE, o movimento reuniu 30 mil pessoas em Brasília; e, segundo a Polícia Militar, 1,5 mil. Novamente, a disparidade é muito grande e intriga.
Pelas imagens que vi, no olhômetro, acho difícil que só 1,5 mil pessoas tenham ocupado o espaço aberto da Esplanada. Houve manifestações em 21 estados. É a segunda, e os estudantes estão prometendo a terceira para 15 de junho. Parece que eles estão acordando das redes sociais e caindo na real.
Não adianta tirar uma selfie e mandar para os amigos. Para mudar a realidade, é preciso sair das redes sociais e expressar o inconformismo nas ruas. Em várias partes do mundo, a democracia está ameaçada. Como bem diz o livro do cientista social Yascha Mounk: é o povo contra a democracia. A situação exige atenção e atitude.
Durante o século 20, os estudantes se mobilizaram e desencadearam muitas transformações. É alentador vê-los novamente nas ruas, nas avenidas e nas praças para lutar por um ideal relevante. E isso porque as redes sociais favorecem o que o psicólogo norte-americano Christopher Lasch chamou de ;eu mínimo;: a cultura do narcisismo, o culto ao consumo e às frivolidades.
Estamos vivendo em um mundo marcado pela ausência de projetos construtivos, que desemboca em uma agenda do ódio. Por isso, é muito bom que os estudantes estejam mobilizados a partir da educação. Ela pressupõe o respeito às diferenças, a valorização da democracia, a consciência coletiva e a cultura da paz.
Sou a favor das manifestações criativas em detrimento das violentas. Gostei quando, no ato anterior, alguns estudantes alertaram aos que começaram a xingar o presidente de que isso não ficava bem em movimento a favor da educação.
Isso dá esperança não apenas à educação, mas também ao Brasil. Assisti a muitos movimentos que começaram desacreditados e desdenhados e, em momento seguinte, embalaram e provocaram transformações importantes. Lutar pela educação é lutar pelo futuro de cada um e do país. É daí que podem sair os líderes de que o Brasil precisa: líderes ilustrados, imbuídos de consciência coletiva, projetos construtivos, civilidade, generosidade, respeito à vida, ideais nobres e espírito de luta.
O que se ensaia é uma frente ampla contra o obscurantismo. ;Se tirarem os nossos sonhos, não vamos deixá-los dormir;, disse uma das manifestantes, em cartaz.