postado em 02/06/2019 04:27
Em 2014, o aposentado Francisco Chagas, 63 anos, começou uma busca pelo neto Rhuan Maycon. A mãe do garoto havia fugido com o menino de Rio Branco, no Acre, onde moravam com o ex-sogro. A saga de Francisco só terminou ontem, de maneira trágica. O menino de 9 anos foi assassinado e esquartejado pela mãe, Rosana Auri da Silva Cândido, 27, com a ajuda da companheira dela, Kacyla Priscyla Santiago Damasceno Pessoa, 28. O crime ocorreu em Samambaia, no fim da noite de sexta-feira. As duas foram presas pela Polícia Civil na madrugada de ontem.
;Eu só queria que ele estivesse vivo;, desabafou o avô paterno. ;Minha mulher e eu cuidávamos dele. Nós que o criamos durante quatro anos. Dávamos de tudo, ele era a alegria da casa. Entramos com uma ação judicial para conseguir a guarda. O processo ainda estava em andamento, mas era favorável a nós. Porém, um dia ela o levou e nunca mais voltou;, afirmou.
Francisco diz que, após a fuga de Rosana, percorreu diversas cidades à procura do neto. ;Sempre que recebíamos qualquer pista, corríamos atrás. Fomos a Goiânia (GO), Trindade (GO) e Anápolis (GO), mas não conseguimos encontrá-lo;, disse. O avô recebeu a notícia da morte do neto nesta manhã, por meio de uma mensagem no celular. ;Ninguém teve coragem de me contar pessoalmente. Meu coração está em pedaços;, se emocionou.
O avô detalhou que o casamento entre o filho dele e Rosana durou pouco. ;Eles eram muito jovens. Meu filho foi embora, mas ela ficou morando com a gente. Depois, sumiu deixando tudo para trás. Saiu de casa só com a roupa do corpo. Os documentos, cartão de vacina e brinquedos do meu neto estão aqui;, lamentou. Francisco disse que não consegue imaginar o que poderia ter motivado o assassinato. ;Ele poderia ter ficado com a gente. Rhuan me chamava de papai. Nós que o criamos;, lembrou.
Motivação
A mãe da criança, Rosana, e a companheira dela, Kacyla, alegam que fugiram do Acre porque Rosana era agredida física e verbalmente pelo pai de Rhuan e pelos avós do menino. A acusada tentou justificar o crime com o argumento de que o garoto fazia com que ela se lembrasse dos momentos de abuso vividos.
Além disso, no depoimento dado aos investigadores da Polícia Civil, Rosana alegou que Rhuan gerava problemas no relacionamento das duas. Elas pretendiam, destacam os investigadores, mudar de casa, no início da semana, e começar uma vida nova sem a presença do menino.
O delegado adjunto da 26; Delegacia de Polícia (Samambaia), Guilherme Sousa Melo, responsável pelo caso, não descarta que as mulheres planejassem, posteriormente, cometer crime semelhante contra a outra criança que morava na casa. Também com 9 anos, a menina era filha de Kacyla e estava no local quando a barbárie foi cometida.
Quando os policiais chegaram à residência, a menina estava dormindo, mas os investigadores acreditam que a garota tenha presenciado o crime ou, ao menos, parte da tentativa das acusadas de se livrarem dos restos mortais. Ao conversar com agentes, ela fez um desenho em que representava uma criança com órgãos saindo do corpo. Ela foi encaminhada a um abrigo. A família paterna, que também desconhecia o paradeiro da garota, virá buscá-la. As duas crianças não estudavam.
Rhuan foi assassinado enquanto dormia, com facadas no peito. Depois de matá-lo, as mulheres desfiguraram o rosto dele, decapitaram e esquartejaram o corpo. Elas planejavam utilizar uma churrasqueira para queimar parte dos restos mortais. A ideia inicial era descartar as partes cremadas no vaso sanitário da casa e triturar os ossos no dia seguinte.
A grande quantidade de fumaça gerada pela churrasqueira, no entanto, fez com que mudassem de planos. Elas decidiram, então, colocar as partes do corpo em uma mala e em duas mochilas escolares. A mala foi deixada por Rosana em um bueiro na Quadra 425, de Samambaia.
Jovens que jogavam futebol no lugar e outras testemunhas acharam a atitude suspeita e apontaram a casa delas ao serem abordados por policiais civis. Na residência, os agentes encontraram as acusadas e as duas mochilas escolares com parte do corpo do menino, além de manchas de sangue.
Premeditado
O crime foi premeditado, de acordo com a Polícia Civil. Na véspera, as duas mulheres compraram a faca usada para matar o garoto. Adquiriram também o carvão, utilizado na tentativa de queimar os restos mortais e facilitar o processo de ocultação do corpo. De acordo com o delegado Guilherme Sousa Melo, tudo indica que as agressões tenham começado há muito tempo.
Um ano atrás, elas teriam cortado o pênis do garoto. Segundo as acusadas, porque ele ;queria ser menina; O Conselho Tutelar foi acionado para apurar o caso.
Havia passagens bíblicas pintadas na parede da casa e os investigadores chegaram a suspeitar que pudesse se tratar de um caso de magia negra. Mas a apuração não encontrou elementos que pudessem embasar a suspeita.