Cidades

Maratona pela UnB continua

Mais de 15 mil candidatos disputam 2.105 vagas na Universidade de Brasília. No último dia de prova, os inscritos terão de responder a questões de ciências exatas e da natureza. No primeiro dia, abstenção foi de 8,10%

postado em 02/06/2019 04:27
Ontem, os inscritos fizeram uma redação e resolveram itens de ciências humanas e linguagens
Terminou com tranquilidade o primeiro dia do vestibular da Universidade de Brasília (UnB), quando os candidatos tiveram cinco horas para fazer uma redação e responder a questões de língua portuguesa, língua estrangeira, geografia, história, artes, filosofia e sociologia. Os escritores Carlos Drummond de Andrade, Gonçalves Dias, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Mia Couto; o rapper Emicida; e as bandas The Beatles e Queens; os compositores Beethoven e Luiz Gonzaga estavam entre as referências usadas no teste, que abordou questões sociais da atualidade, como cotas raciais, igualdade e democracia; mas também históricas, como feitos das mulheres, holocausto e nazismo. O tema do texto dissertativo foi Muros: um símbolo do medo.

Do total de 15.175 inscritos, 1.229 faltaram ao primeiro dia de provas. O índice de abstenção foi de 8,10% ; menor que o do ano passado, de 9,06%. Agora, os interessados em ingressar na UnB se preparam para a segunda metade do desafio: os testes de biologia, física, química e matemática, que serão aplicados hoje, a partir das 13h. A recomendação da banca organizadora, o Cebraspe (Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos), é chegar com pelo menos uma hora de antecedência. Esse cuidado é importante para evitar ser barrado, caso de Flávio Silva Rocha, 18 anos.


Ele estava entre os 1.985 inscritos que deveriam fazer a prova no Bloco de Salas de Aula Sul (BSAS) do câmpus Darcy Ribeiro da UnB, que concentra o maior número de candidatos. Por lá, os portões foram fechados às 13h13. Nem o tempo de tolerância foi suficiente para que Flávio pudesse entrar: ele chegou com 20 minutos de atraso e ficou de fora. O jovem contou que saiu de casa às 10h30, dependeu de transporte público para chegar.

Nível mais fácil
O professor de história do cursinho Exatas Átila do Espírito Santo avalia que o nível do primeiro dia de prova este ano foi mais baixo que o de edições anteriores. ;Não ofereceu dificuldade grande. Muito pelo contrário;, diz. ;Em termos de conteúdo, foi inferior ao ano passado e foi mal distribuído: não caiu nada de história antiga, pouca coisa de Idade Média. Caiu mais holocausto, nazismo e guerra fria;, destaca. ;De história do Brasil, só caiu era Vargas. Não apareceu nada de República Velha, nem de ditadura militar, nem de Brasil Império, só alguns itens de Brasil Colônia;, diz. A mesma sensação de que a prova foi mais ;fácil; este ano foi compartilhada por professores de outras disciplinas do Exatas.


Na luta por uma chance
Aluno do 3; ano do ensino médio Hemerson Nóbrega Júnior, 17, achou interessantes as questões de artes. ;Caiu uma sobre a música Bohemian Rhapsody, do Queens, que achei legal;, diz. Ele afirma que vai revisar cálculos e fórmulas para a prova de hoje. ;Espero sobreviver à segunda etapa.; A estudante do 3; ano do ensino médio Cássia Naara, 17 anos, prestou vestibular para ciências políticas.

;Nas disciplinas de geografia e história, foram abordadas questões atuais, como o governo do presidente dos EUA, Donald Trump. Também caíram história do Brasil, cultura racial, democracia, igualdade social e cotas raciais em universidades públicas;, elenca. ;Achei genial eles terem colocado essas temáticas sociais na avaliação, pois precisamos discutir isso;, opinou.


Enzo Rodrigues, 17, está no 3; ano do ensino médio e considerou a avaliação fácil. De acordo com ele, a prova estava recheada de questões sobre racismo, algo que tirou de letra. ;Eu soube me desenvolver bem e estou com expectativas de ser aprovado em engenharia química.;

Sem parar de estudar
Ivonaldo Vladimir Saldanha Bizarro, 45, está em busca do quarto diploma. Graduado em medicina veterinária, direito e odontologia, ele quer estudar medicina. ;As questões de hoje foram muito interessantes e complexas, pois utilizaram conhecimentos integrados. Houve maior enfoque em artes, mas os conteúdos ficaram equilibrados. Amanhã, como é ciências da terra e exatas, acho que vou me sair melhor.; Ivonaldo considerou o tema da redação complexo, mas bom por permitir várias abordagens. ;Pude tratar do muro simbolizando o medo, do muro físico como barreira física, e o aspecto da barreira psicológica;, explicou.


Gabriel Ramos Muniz Braga, 19 anos, cursa ciências sociais na UnB e direito no UniCeub, no entanto, descobriu uma nova paixão: medicina. ;Na verdade, é mais um teste de aptidão física do que mental;, afirma, sobre o vestibular. Preparado, o estudante levou água, chocolate e uma sacola plástica repleta de salgadinhos para o teste. A estratégia dele tanto para ontem quanto para hoje é a sinceridade. ;Acho que é preciso ser honesto consigo mesmo, entender que eu posso não saber tudo e que não preciso marcar todas as questões. Faço a prova também sem muitas expectativas;, explica.

Expectativa
Arthur Marques, 18 anos, chegou para a prova, no BSAS, acompanhado da tia-avó, a aposentada Enildes Vida e Silva, 61, moradora de Taguatinga. ;Para mim, se ele passar no vestibular, será um sonho realizado;, relata. Arthur estuda de olho em uma vaga em medicina há um ano e meio. ;Treinei um modelo para ser seguido em qualquer tema da redação, fiz muitos exercícios;, explica.

O vestibulando de medicina Matheus de Sousa Calassios, 21, morador do Núcleo Bandeirante, espera um bom resultado na prova, apesar da grande concorrência. ;Estudo há cinco anos para isso;, afirma. Ele também contou com apoio familiar e foi fazer o vestibular acompanhado da mãe, Cláudia Pereira de Sousa, 42, estudante de biomedicina. ;De 1 a 10, o meu grau de nervosismo é 11. Parece que sou eu quem está prestando o vestibular, mas fico do lado de fora só na oração;, comentou Cláudia.

A dissertação
Para desenvolver um texto expositivo-argumentativo sobre o tema Muros: um símbolo do medo, os candidatos contaram com imagens, manchetes de jornais e textos como referência. Serviram como inspiração aos estudantes o texto Murar o medo, de Mia Couto; o poema O medo, de Carlos Drummond de Andrade; e duas fotos, que mostravam muros na divisa entre Espanha e Marrocos e outro, entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte. Os últimos materiais motivacionais foram as seguintes manchetes de jornais: ;França constrói muros junto à ;selva; de Calais para impedir acesso de imigrantes (2016);, ;Governo do Rio de Janeiro constrói muros para conter favelas (2009); e ;Muro ainda divide Belfast entre católicos e protestantes (2018);.

Dessa maneira, a proposta abria margem para tratar da questão de refugiados e imigrantes, mas não se restringia a isso. Vai além, também, apenas da questão física ou de divisas territoriais: era possível abordar os muros internos que as pessoas constroem para si mesmas. A professora de redação do Exatas Samarah Souza considerou a proposta adequada para o nível de alunos do ensino médio. ;Achei um tema muito tranquilo;, avalia. ;Há um leque amplo de possibilidades de referência, mas a interpretação era só uma: a de que o muro, nós construímos para delimitar a nossa segurança. Ou seja, você tem medo de algo e vai construir um muro para se proteger;, diz. A partir da leitura dos textos motivadores, a professora concluiu que a banca queria que o candidato abordasse a questão como algo negativo, já que uma divisa representa, muitas vezes, um temor desnecessário que pode levar à segregação e à polarização. ;Acho que colocaram esse tema exatamente pela situação atual do Brasil;, pontua.

;Foi um tema tranquilo, não foi difícil, acho que fui bem;, afirmou, sorridente, Isabela Vitória Tavares Werneck, 16, moradora de Águas Claras, que prestou o vestibular para medicina e acredita que tirou a redação de letra. A jovem avaliou o primeiro dia do vestibular como fácil. ;Fiquei até preocupada porque achei a prova surpreendentemente tranquila. Fiz em duas horas e 30 minutos.;





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