Ana Dubeux
postado em 02/06/2019 20:57
O ser humano se une a semelhantes por motivos diversos. Afeto, afinidade, parentesco, ideologia, interesses, vontades. Também pode se agregar por uma causa. Dar as mãos, protestar, falar e ouvir em nome de lutas coletivas. Proponho novamente a união de todos para alertar sobre a cultura do machismo, a maior e mais potente causa da violência doméstica. Só no primeiro semestre deste ano, o Distrito Federal registrou 3.752 casos de agressões contra mulheres. São mais de 40 ocorrências de Lei Maria da Penha por dia. É ou não é uma epidemia social?O feminicídio é fruto de relacionamentos abusivos e desestruturados que afetam todo o núcleo familiar. Destrói famílias; deixa crianças órfãs; acaba com o futuro de mulheres, que são mortas apenas pelo fato de serem mulheres e virarem presas nas mãos de homens violentos e machistas. Na edição de hoje, publicamos uma reportagem que mostra como o ciclo de violência doméstica ganha corpo e falamos sobre como quebrar essa corrente, por meio de vigilância, prevenção, conscientização e proteção do Estado.
Projetos como o Provid, Programa de Assistência da Prevenção Orientada à Violência Doméstica, desenvolvido pela Polícia Militar do DF desde 2014, e o Grupo Reflexivo para Homens, do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), criado em 2016, ajudam a entender, prevenir e interromper processos destrutivos de violência doméstica.
O Provid visitou 10 mil casas e atendeu 200 mil vítimas, interferindo em ações violentas e requisitando órgãos do Estado para garantir justiça e assistência para as famílias. Já o projeto do TJDFT atendeu 1.900 pessoas detidas por agressões, encaminhando os homens para cursos e rodas de conversa com especialistas para que entendam como se forma uma cultura machista e como ela é responsável por agravar conflitos ao ponto de culminarem em mortes.
Além da garantia de justiça e a devida punição, ações assim levam a uma reflexão sobre as causas de tamanha violência. São trabalhados temas como a conscientização sobre a cultura machista, que leva à agressão e também fragiliza o homem, a necessidade de diálogo para solucionar conflitos, o autocontrole, a comunicação eficiente.
Projetos assim ajudam a interromper ciclos destrutivos de relacionamento e prevenir agressões e mortes. Mas precisamos de muito mais. A educação para o amor e a disposição para ouvir o próximo deveriam estar presentes desde a mais tenra idade. É preciso começar esse processo na escola, ensinando a respeitar diferenças e o espaço do outro. Ajude como puder, educando seus filhos de forma mais humanista e igualitária. Por aqui, continuaremos a dedicar linhas e linhas para alertar e exigir providências contra a violência doméstica.