postado em 05/06/2019 04:08
Meu pai, também de nome Severino Francisco, parecia um personagem saído diretamente de um folheto de cordel. Desceu de Pernambuco até o Planalto Central fazendo e vendendo almanaques em versos para garantir a sobrevivência. Era autodidata, lia revistas de ciência. Nos anos 1940 e 1950, já indignava-se com a devastação da Amazônia.
No Dia Mundial do Meio Ambiente, instituído pela ONU, escolhi o poema Fim da Amazônia, de autoria do meu pai, para marcar a data, pois não há nada a comemorar. O poema ecoa, equivocadamente, a ideia corrente, na época, de que a Amazônia seria o pulmão da humanidade. Mas, no restante, é tragicamente atual.
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Devastar a Amazônia
é uma calamidade
pode virar um deserto
e para nossa infelicidade
o Brasil perde o oxigênio
que respira a humanidade
porque a sua umidade
circula constantemente
não apenas no Brasil
mas em todos continentes
Ásia, África e Europa
dele vive dependente.
SOS para quem?
onde está a consciência?
onde andam os governantes
o que é feito da presidência?
A fauna, a flora e o clima
ninguém olha com clemência
para a grande devastação
é o maior atentado
do homem sem coração
quem comete tal delito
terá um nome maldito
pela próxima geração.
Tais governos ou empresários
um dia serão julgados
quando pósteros professores
mostrarem os mapas alterados
e contarem a seus alunos
os tesouros devastados
aqui foi a Amazônia
a selva dos alagados
a hiléia brasileira
a selva mais intrincada
o Uirapuru fazia sua morada
o índio viveu aqui
o boto, o puma, o queixada
e agora que coisa feia
um deserto de areia
sem pão, sem vida e sem nada.
O rio dormia na mata
o índio seu habitante
o jacaré, o jaguar,
a capivara e o xavante
a gazela e o campeiro
o cangussú traiçoeiro
e a coruja vigilante
o guariba, o tamanduá
o papa-mel e o tiú
o papa-peixe, o tangará
o carcará e o urubu
a sucuri, a anta e omateiro
o picapau verdadeiro
e a grande abelha uruçú.
No rio, o tucanaré
o peixe- boi, o dourado
a piranha, o pirarucu
o peixe cego , o pintado
o piraquê e outros peixes que
agora estão empilhados.