postado em 05/06/2019 04:08
Jaile de Assis Ricardo faz parte daquele seleto grupo de empreendedores taguatinguenses preocupados com a comunidade que o cerca e, principalmente, com a cultura. Conhecido como Kareka, ele mora em Brasília desde 1969 e é proprietário do tradicional Kareka;s Bar, na Comercial Norte (QND 14).
Pelo local passaram e passam artistas dos mais variados gêneros, da MPB ao rock. Nomes como Vander Lee, João Suplicy, Paulinho Pedra Azul, Nasi, Jorge Mautner e Nelson Jacobina se misturam com gente de casa, que mantém carreira consolidada nas noites da cidade. De Gerson Deveras a Bruno Z, Branco Seixas, Ellen Oléria, Alexandre Partes, Beto Sampaio e Paulo Verissimo, para citar alguns dos que marcaram presença no palco do lugar. Duas gerações de fregueses, pelo menos, convivem no amplo espaço para shows ; a casa tem agenda cheia todos os meses.
Como era a cena cultural de Taguatinga nos anos 1970?
Muito mais pulsante, apesar dos poucos equipamentos e espaços à disposição. A galera literalmente botava a arte na rua. Os grupos de artistas ocupavam toda a cidade, independentemente do local, de coretos a praças. Mesmo sem recursos, se fazia muita coisa.
O que mudou para os dias de hoje?
Hoje, as informações circulam mais, porém, há poucas ocupações de praças, por exemplo. A arte precisa chegar às pessoas não só pela internet, é necessário que ela seja orgânica, que faça parte do cotidiano dos taguatinguenses. É importante também a ampliação de políticas públicas que alcancem a população e que façam circular renda na região.
É verdade que a cidade teve um dos primeiros grupos teatrais do DF?
Sim. Conversando com o ator e produtor Bené Setenta (Manuel Benevides Filho), ele enfatizou que o grupo Grutta foi o primeiro da capital. Os atores chegaram a encenar a peça Morte e Vida Severina no Teatro Nacional. Com essa peça, fizeram uma excursão por alguns estados.
Na época das festas do então Clube dos 200, quais eram as bandas que animavam os bailes?
Todas as bandas da cidade, como Raulino e seus Big Boys, além do Élson 7. Até o movimento da black music, os caras dançavam divinamente bem. A Sarro Disco Show era quem dominava as picapes das domingueiras. Os Pholhas também fizeram um show marcante no Clube dos 200.
A diversidade e a resistência cultural são marcas de Taguatinga desde o começo. O que a cidade precisa hoje para se consolidar como polo cultural?
Precisamos de possibilidades culturais, com um calendário anual de atividades para ocupar espaços como o Teatro da Praça, as salas do Sesc e do Sesi e o Taguaparque, que é um espaço excelente de multiatividades. Mas o principal é a presença efetiva da comunidade. Que ela entenda que cultura é afirmação de identidade, de pertencimento.