Cidades

Mais de 300 cobras foram encontradas em residências do DF este ano

Em sofás, armários ou churrasqueiras, serpentes de várias espécies têm feito visitas surpresas a moradores. Batalhão de Polícia Ambiental resgatou 315 serpentes em casas de Brasília apenas nos primeiros cinco meses de 2019

Juliana Andrade, Mariana Machado
postado em 06/06/2019 06:00
Um das serpentes resgatadas em residência pela PM neste ano: orientação é nunca tentar pegar ou matar o animal, mas acionar a corporaçãoImagine estar em casa e, de repente, encontrar uma cascavel ou uma coral rastejando. A cena assustadora tem se tornado recorrente no Distrito Federal. Só nos cinco primeiros meses do ano, o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) resgatou 315 serpentes em residências. O número corresponde a 73,6% do total para todo o ano passado, quando militares capturaram 428 espécimes.

;As chuvas prolongadas contribuíram. Nessa época, os répteis saem à procura de lugares mais quentes para se abrigar;, explicou o major José Gabriel Souza Júnior, do BPMA. Mas ele ressalta: a população não deve tentar fazer a captura por conta própria, muito menos matar o animal. ;As cobras têm instinto de defesa, se alguém tentar tocá-la, tendência é ela morder;, alerta.

Mas há quem se arrisque. A bancária Ana Carolina de Carvalho, 38 anos, conta que viu ao menos cinco cobras em casa. Uma delas, em cima do sofá. ;Eu estava com a faxineira, a gente entrou em desespero. Por sorte, o piscineiro chegou e a tirou de lá;, lembra. Ela mora em um condomínio no Jardim Botânico, perto de uma área de preservação. A bancária tem bastante medo, principalmente por causa do filho, de 7 anos. Para evitar novas visitas, reformou a residência. ;A gente tinha um deck de madeira e eu percebi que elas gostavam de se esconder lá, então,, mandei tirar.;

Quem também levou um susto foi a professora Juliana Cândida Pereira, de 33 anos. Moradora do Lago Norte, ela conta que, no inverno, sempre se depara com serpentes. ;É comum vê-las do lado de fora de casa, mas já achei dentro também, enrolada na janela ou procurando um abrigo;, diz.

Acolhimento

Uma vez resgatadas, as serpentes são levadas ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), onde passam por triagem. Coordenador geral de gestão da biodiversidade, florestas e recuperação ambiental do órgão, Rodrigo Dutra explica que o primeiro passo é identificar se a espécie é nativa ou exótica e avaliar o estado de saúde do animal. ;Se for típica do cerrado e estiver saudável, ela é reintroduzida na natureza, longe de áreas urbanas;.

Quando é exótica, é necessários investigar como foi parar ali e, normalmente, o bicho é levado para instituições de pesquisa ou ao Jardim Zoológico de Brasília. Dutra conta que há casos em que o próprio morador leva a serpente ao Cetas. ;A entrega voluntária de animais silvestres a órgãos ambientais é prevista na legislação, no entanto, isso expõe a pessoa a riscos, porque, se na estrada ela for fiscalizada, como vai explicar?;, pondera.

As serpentes que precisam de cuidados médicos também são levadas ao zoo para avaliação. Diretor de répteis e artrópodes do Jardim Zoológico, Carlos Eduardo Nóbrega, explica que os animais sem condições de serem devolvidos à natureza passam por quarentena antes de se juntarem a outros para evitar transmissão de possíveis doenças. ;Depois da quarentena, as cobras vão para o plantel e, por fim, para o serpentário.;

O zoo de Brasília tem 60 serpentes de 12 espécies diferentes. ;O cerrado é uma área com grande diversidade. Acredita-se que haja mais de 220 tipos de cobras no bioma, mas poucas são nocivas ao ser humano;, esclarece Carlos Eduardo. Ele explica que, como o habitat delas vem sendo cada vez mais destruído, é natural que procurem as zonas urbanas. ;Quem encontrar uma em casa deve se afastar e jamais tentar fazer a contenção. O ideal é acionar a Polícia Militar;, destaca. Caso alguém capture uma serpente, o zoológico não pode receber o réptil diretamente. É preciso que ele antes passe pelo Ibama.

Socorro

Apesar de crenças populares citarem borra de café, alho e até teia de aranha como ;medicações; em caso de picada de cobra, a médica toxicologista do Centro de Informações e Assistência Toxicológica da Secretaria de Saúde, Andrea Magalhães deixa claro que nada disso adianta. ;A primeira coisa a fazer é procurar atendimento médico o mais rápido possível. A ferida pode ser lavada com água e sabão mas em hipótese alguma deve-se fazer torniquete porque causa isquemia no lugar. A circulação vai ficar presa, o que pode causar necrose e até a perda do membro (caso a mordida tenha sido em uma perna ou braço);.
Os profissionais de saúde vão avaliar os sintomas, identificar o tipo de veneno (se a cobra for peçonhenta) e aplicar o soro adequado. ;O soro é disponibilizado dentro das unidades públicas e não existe outra alternativa.; Em alguns casos, também é aplicada vacina antitetânica. ;O paciente também deve ficar internado e em observação para que os médicos acompanhem o quadro.;

Memória

Confira alguns dos casos de apreensões de serpentes em 2019

21 de janeiro
Uma jiboia de 1,5 metro foi encontrada por moradores de uma casa do Lago Sul, que chamaram a polícia. A serpente apareceu quando o avô e o neto brincavam na área externa da casa.

16 de março
Um morador de um condomínio na área rural de Samambaia acionou o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) ao ver duas cobras em um quiosque onde ficam as churrasqueiras. Eram duas cascavéis que escolheram o lugar para acasalar.

21 de maio
O BPMA resgatou quatro serpentes da espécie corre-campo, no Park Way. As cobras estavam em um armário de uma empresa de telecomunicações. Elas foram encaminhadas ao Centro de Triagem Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Cetas-Ibama).

Como agir

Saiba o que fazer caso encontre uma serpente
; Não mate o animal.
; Não se aproxime nem
tente capturar o animal por conta própria.
; Ligue para o Batalhão de Polícia Militar Ambiental
(99351-5736 ou 190).

Caso seja picado

; Não tente sugar o veneno nem faça torniquetes.
; Não passe nada no lugar da ferida.
; Lave o local com água e sabão.
; Tire uma foto da cobra (isso ajudará o médico a identificar rapidamente se a espécie é peçonhenta).
; Vá imediatamente a uma unidade de saúde.
; Entre em contato com o Centro
de Informações e Assistência Toxicológicas para orientações sobre o que fazer e para onde ir (0800 6446-774).

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