Cidades

Prisão de mãe de crianças espancadas foi motivada por 15g de drogas

Além dos entorpecentes, a mulher foi filmada supostamente vendendo crack e maconha. Enquanto estava presa, deixou os filhos aos cuidados da tia adolescente e do namorado, acusados de matarem uma das crianças

Alan Rios, Sarah Peres
postado em 07/06/2019 16:22
Terreno onde as vítimas moravam com os agressores, na periferia de Planaltina de Goiás: barraco de madeira de 10 m² e um só cômodo
A mãe das crianças espancadas pela tia e o namorado dela em Planaltina de Goiás foi presa porque carregava 1,4g de crack e 14g de maconha, além de dinheiro oriundo, segundo suspeitavam investigadores da Polícia Civil, de tráfico de drogas. A ação dela e do marido foi filmada por uma equipe de investigação da 13; Delegacia de Polícia (Sobradinho 1). Em razão da prisão, ela deixou as quatro crianças aos cuidados do casal, que mais tarde mataria uma delas.
A mulher de 26 anos passou para o regime domiciliar em 31 de maio, após o segundo pedido do Ministério Público. O delegado-chefe Hudson Maldonado afirma que a prisão não aconteceu baseada somente na apreensão. "Nós tínhamos duas filmagens em que ela e o marido apareciam vendendo porções de droga para dois usuários. Nós abordamos estes clientes, que prestaram esclarecimentos na delegacia e confirmaram que tinham adquirido o produto com o casal. Então prendemos traficantes, que de pedra em pedra geram prejuízos enormes à população", explica.

"Quando os prendemos, eles estavam com R$ 174, dinheiro que estava trocado em vários valores diferentes, como em notas de R$ 2 e R$ 5. Mas não realizamos prisão por causa disso ou para destruir uma família. A mãe estava com a bebê de 1 ano e quatro meses, a alimentou na delegacia e, para que a criança não ficasse sob tutela do Estado, acionou a tia e o namorado dela", detalha o delegado.
Para Juliana Cardoso, conselheira tutelar de Sobradinho, esse procedimento é recomendado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. "Claro que cada caso é um caso, mas o ECA fala que o comportamento padrão da delegacia nessa situação é manter a criança no seio da família, para que ela fique próxima às pessoas com que tem vínculo."

A tia de 17 anos e o companheiro, de 19, foram até a unidade policial em Sobradinho. Ali, se apresentaram no balcão e falaram com a mãe e o pai. "Não é como se nós tivéssemos entregado as crianças para os lobos. Os pais concordaram e, como a tia e o namorado não tinham passagem por maus-tratos infantis, eles levaram a bebê mais nova. Ainda na delegacia, todos acordaram de que os tios ficariam com as quatro crianças", afirma Hudson Maldonado.
A tia, de 17 anos, e namorado dela, de 19, levaram as crianças para a casa onde moravam, em Planaltina de Goiás. "Eles são um casal composto por alguém maior de idade e que não apresentaram risco aparente. Se fossem pessoas alcoolizadas, sujas ou em condições precárias, nós acionaríamos o Conselho Tutelar e não deixaríamos o bebê com os familiares, mas não foi o caso", explicou o delegado. As três meninas, de 1, 3 e 7 anos, e o menino mais velho, de 9, passaram a viver no novo endereço. Em 29 de maio, o casal matou a garota mais velha espancada.
Os sobreviventes foram encontrados em situação de maus-tratos, machucados e sem comida. "Essa monstruosidade foi cometida tempos após o nosso contato com eles, e, infelizmente, não tínhamos como prever", finalizou Hudson.

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