Em volta de uma multidão, cada fiel presente no último dia de Pentecostes fechou os olhos e sentiu o mesmo: a presença do Espírito Santo é marca dos domingos da celebração de três dias que teve fim ontem. Em uma missa que começou às 16h e seguiu até as 21h, o público de 1 milhão de presentes — segundo os organizadores — pôde cantar louvores, ouvir a palavra de Deus pela voz do padre Moacir Anastácio e presenciar testemunhos de quem teve a vida transformada pela fé.
Transformação é a palavra-chave de um dos momentos mais emocionantes de Pentecostes. Em cada um dos três dias de evento comemorado no Taguaparque, em Taguatinga, os católicos levaram uma vela, que simbolizam Pai, Filho e Espírito Santo, a Santíssima Trindade da Igreja. O objeto é abençoado ao final das missas para que quem acenda essa chama possa receber uma graça divina.
As bênçãos alcançadas pelas velas surpreende. Carlos Roberto Monteiro, 40 anos, conta que foi por elas que teve a maior felicidade de sua vida, depois de um dos momentos mais difíceis: “Minha filha nasceu com uma fenda na boca e passou por muitas complicações. Teve parada cardíaca, foi entubada e a situação piorou tanto que os médicos chegaram a chamar um padre para batizá-la, acreditando que ela não teria mais chance de sobreviver.” Mas ele e toda a família confiaram no poder das orações.
“Acendemos as velas de Pentecostes e as coisas mudaram. Nunca esqueço que minha cunhada estava assistindo à missa do padre Moacir pela internet, no hospital, no dia da cirurgia dela. O padre disse, naquela cerimônia, que Deus tinha dado a ele uma revelação de que uma mulher estava acompanhando a missa do celular, porque aguardava um procedimento cirúrgico muito delicado de um familiar. Mas contou que ela poderia ficar tranquila, pois teria a graça da melhora”, garante Monteiro. A operação foi um sucesso e deixou os médicos surpresos. Hoje, a bebê de 34 dias está em casa, “melhor do que nunca”, segundo o pai.
Os problemas de saúde curados motivam grande parte dos testemunhos. Marisete da Silva, 43, foi uma das primeiras fiéis a chegar ao parque, às 8h. Ela carregou a filha, Manuela, de oito meses, nos braços até o final da missa à noite. “Quando lembro que minha mãe acabou curada de um câncer no intestino por conta das velas de Pentecostes, vejo que passar esse tempo todo na celebração não é sacrifício, mas uma bênção”, diz a secretária. De acordo com ela, quem atendia a paciente no hospital chegava a dizer que só um milagre a salvaria da doença. “Mas nem quimioterapia ela precisou fazer”, contou.
Maior celebração
O Pentecostes está na sua 21ª edição neste ano, sempre movendo fiéis de dentro e de fora do DF. “Esse é o maior evento de Pentecostes do mundo, então, nós recebemos gente de todo canto. Já vimos gente do Canadá, dos Estados Unidos e até do Japão, que voltam anualmente por conta das graças recebidas”, afirma o coordenador geral, Wberthyer Araújo. Nas contas da produção, foram 3 milhões de pessoas presentes nos três dias de missas. Os números de quem fez tudo acontecer também são altos. Foram mais de 2 mil funcionários trabalhando de forma voluntária na festa cristã.
O tamanho da celebração só não parecia ser maior do que o da fé de cada um. Apesar da dificuldade de se locomover com os dois filhos cadeirantes, Egeni Almeida, 38, fez questão de acompanhar o evento desde sexta-feira, o primeiro dia. “Participar disso tudo faz com que a gente abra ainda mais o coração a Deus e receba sua presença. Então, eu e minha família passamos pelas barreiras com facilidade. Elas acabam sendo menores do que nossa devoção.”
A dona de casa participa todo ano de Pentecostes, mas a missa também recebe quem só ouvia falar das graças, como Ricardo Santos, 29. “Eu sempre tive curiosidade de vir, porque via os adesivos nos carros das pessoas dizendo que foram renovadas, e ouvia muita gente contar dos testemunhos. Apesar de, às vezes, me vir aquela desconfiança em relação às histórias, aqui eu pude alimentar ainda mais minha fé”, declarou. O trabalho para organizar a celebração é tanto que quem está à frente do projeto fica até 10 meses orquestrando tudo. “A gente brinca que, quando acaba uma edição, já pensamos na outra”, diz Wberthyer.