Cidades

Crônica da Cidade

postado em 11/06/2019 04:16
Quem vai nos proteger?

Parece que alguns brasileiros estão se antecipando ao decreto que libera e flexibiliza as armas para os cidadãos. Embora ainda não tenha sido aprovado pelo Congresso Nacional, já agem como se estivessem sob a vigência de uma nova regulação que acirra os ânimos e nos joga no território da barbárie institucionalizada.

No fim de semana, fomos atingidos por mais uma tragédia. O ator Rafael Henrique Miguel, 22 anos, a mãe e o pai, foram executados, sumariamente, pelo comerciante Paulo Cupertino, de 48 anos.

O motivo é fútil. Rafael namorava a filha de Cupertino desde março de 2018 e o comerciante não aceitava a relação. O ator e seus pais se dirigiram até a casa de Paulo na tentativa de estabelecer um diálogo para superar o problema. No entanto, logo depois de se apresentarem, foram atingidos pelos disparos de Paulo Cupertino.

Essa chacina é um trailer do que poderá acontecer em escala ainda mais ampla se o projeto insensato de liberação indiscriminada das armas for aprovado pelo Congresso Nacional. Qualquer desavença banal tende a se degenerar em uma série de atos bárbaros gratuitos. O Correio publicou, na edição de ontem, reportagem mostrando que o governo atual despreza pesquisas, estatísticas ou estudos.

As decisões de políticas públicas são fundadas exclusivamente em caprichos, idiossincrasias e veleidades pessoais, que desconsideram inteiramente as consequências sociais. Antes mesmo de serem implementadas, já insinuam os efeitos nocivos para milhões de brasileiros.

É óbvio que a liberação das armas terá como consequências imediatas o aumento da violência, o crescimento dos arsenais nas mãos dos meliantes, o estímulo às milícias armadas e o incremento do feminicídio. A ideia de que a sociedade seja um braço armado do Estado é um atestado da incompetência em garantir a segurança aos cidadãos e uma temeridade social.

Esse projeto vai na contramão de todas as pesquisas e evidências. É algo de enorme irresponsabilidade. Pesquisa do Instituto Data Folha mostrou que 61% dos brasileiros desaprovam a liberação das armas.

Desavenças cotidianas triviais, como foi o caso da que envolveu a família de Rafael e a de Paulo Cupertino, podem se transformar em tragédias, da maneira mais gratuita. O que poderia ser uma conversa se degrada na violência mais estúpida e covarde.

Essa catástrofe social é plenamente evitável. O projeto de liberação e flexibilização das armas conspira contra a vida, transcende direita ou esquerda. Ele legaliza, legitima e amplia a barbárie que já impera no país.

Pelo contrário: precisamos interromper esse ciclo e defender o direito à vida, o que temos de mais precioso. Espero que o Congresso Nacional tenha a lucidez e a coragem de barrar tal insensatez, evitando o desperdício estúpido de vidas. Quem vai nos proteger?




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