Sarah Peres, Bruna Lima
postado em 12/06/2019 06:00
O Distrito Federal passa pela pior epidemia de dengue da história. Os casos notificados da doença na capital do país chegaram a quase 27,7 mil, com mais de 24 mil pacientes classificados como prováveis infectados pelo vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Os dados da Secretaria de Saúde vão até 1; de junho, quando foram registradas 26 mortes.
O levantamento mais recente mostra um acréscimo de 12% em relação ao boletim epidemiológico anterior, de 25 de maio, quando o número de pacientes prováveis era de 21,4 mil. Também houve aumento de cinco mortes pelo vírus: em maio, o governo confirmou 21 casos fatais, o que representa um crescimento de 23,8%. Trata-se do segundo maior número de óbitos por dengue nos últimos cinco anos, conforme apuração do Correio. O recorde do período era de 2015, com 28 mortes. No entanto, o número pode ser superado, pois a Secretaria de Saúde investiga o óbito de nove pessoas.
A servente Karen Figueiredo, 38 anos, perdeu o sogro, Francisco José Roque de Almeida, 64, para a doença. ;A gente sabe que dengue mata, mas nunca imagina que será alguém tão próximo. O meu sogro, mesmo sendo um homem forte e saudável, foi para o hospital e não resistiu. Essa poderia ter sido a minha realidade e de outras oito pessoas da nossa família que também contraíram a doença;, alerta.
A família de Francisco mora no Setor de Chácaras do Guará, área com muita vegetação e pouca atuação do Estado, segundo Karen. ;Foi um absurdo o número de moradores da região que ficaram doentes. O filho da vizinha, de 9 anos, teve de lutar pela vida depois de pegar a forma hemorrágica da doença. O pior é que a gente aciona o governo para passar o fumacê, recolher o lixo em lotes abandonados e ninguém vem. Nem repelente nos postos de saúde a gente consegue com facilidade. A gente faz a nossa parte dentro de casa, mas, às vezes, o problema está do outro lado do muro;, lamenta.
Segundo a servente, mesmo após a retomada do fumacê, que ficou 24 dias suspenso por determinação do Ministério Público do Trabalho da 10; Região (MPT-10), o serviço nunca passou perto da casa dela. ;A comunidade está bastante assustada e não é para menos. O jeito é viver com repelente na bolsa e proteger os meus filhos para que outra tragédia não aconteça;, afirma.
Hiperpopulação
O aumento na quantidade de casos é reflexo das questões climáticas e do tipo de vírus em circulação, avalia o subsecretário de Vigilância em Saúde, Divino Valero Martins. ;Choveu muito mais e, consequentemente, houve crescimento no número de mosquitos em todo o Distrito Federal. A hiperpopulação do Aedes aegypti, em conjunto com um dos tipos mais agressivos da dengue, trouxe uma resposta que é vista nos dados;, esclarece.
No entanto, Divino ressalta que o papel da sociedade é fundamental no combate ao mosquito. ;O Brasil tem quase 80 milhões de imóveis e, na contramão, pouco mais de 50 mil agentes. É humanamente impossível atribuir toda a responsabilidade apenas ao governo, que faz a parte dele. O nosso serviço no DF será intensificado, mas a própria população precisa entender que o combate à dengue é coletivo;, explica.
Apesar de os números mostrarem alta de 12% em uma semana, o subsecretário explica que isso se deve a dados que não foram computados nas datas corretas. ;A explosão dos casos foi um registro das semanas epidemiológicas anteriores, e o que realizamos foi a consolidação desses dados. Primeiro, acompanham-se e conferem-se resultados para, depois, publicar. A tendência é a desaceleração;, avalia Divino.
Descaso
Em 6 de maio, o MPT-10 interrompeu o fumacê no Distrito Federal. A proibição decorreu de uma diligência na Diretoria de Vigilância Ambiental do Distrito Federal (Dival), em Taguatinga. Segundo o MPT, faltavam itens básicos de treinamento, de higiene, de segurança e de proteção ao meio ambiente e ao trabalhador. Os veículos que espalham o inseticida voltaram a rodar em 30 de maio, após ser aprovada a reforma no espaço e o cumprimento das exigências.