postado em 12/06/2019 04:18 / atualizado em 19/10/2020 14:05
Edílson Machado, 70 anos, não esquece o dia 28 de fevereiro de 1988. Naquela data, um anúncio no jornal mudou sua vida. Ele não achou uma casa para alugar, como queria, nem um carro novo ou uma oportunidade de emprego. Encontrou o amor. “Você que está só e procura um relacionamento sério, que tenha de 36 a 46 anos, seja sincero, honesto, leal. Estou a tua procura… Sou solteira, 33 anos, 1,65m, 60 kg, olhos e cabelos castanhos”, diziam as palavras impressas. O comunicado não tinha nome nem telefone. Quem quisesse se candidatar deveria confiar na descrição da mulher e enviar uma carta para a Caixa Postal 14.2301. Edílson não pensou duas vezes. Hoje, ele se orgulha em contar que foi assim que conheceu a companheira de vida.
A dona do anúncio era Luseni do Espírito Santo, hoje 64. “Eu não tinha muita vida social, minha vida era trabalho e casa, só. Era difícil conhecer alguém assim. Então, me veio essa ideia”, conta ela, que trabalhava como gerente financeira em uma empresa. Mas o atual companheiro, então gerente de recursos humanos, não foi o único pretendente. A aposentada recusou 13 cartas que chegaram ao seu endereço, algumas oferecendo ótimas condições financeiras. “Teve até um capitão do exército, bem de vida, que queria uma companheira para ficar em casa, mas eu não ia largar meu emprego para isso. Aí eu li a carta do Edílson e ela me chamou a atenção. Não sei se foi pela letra, que era bem bonita, mas senti que era ele que eu queria.” O homem brinca: “Eu era mais esperto, por isso ela não escolheu os outros”.
Os dois começaram a conversar por correspondências, muito formais e respeitosos. Falavam sobre os trabalhos de cada um, o que gostavam de fazer e o que pensavam sobre a vida. Ela começou a sentir mais liberdade nos diálogos e eles deram um passo a mais semanas depois: começaram a se telefonar. O primeiro encontro só veio um mês após o anúncio, mas se engana quem acha que os dois tiveram paciência para esperar. “Não me aguentei e mandei um funcionário meu entregar uma carta pessoalmente para ela. Vai que era uma senhora de 70 anos se passando por uma novinha? Mas aí ele voltou e disse ‘pode confiar!’”, lembra o aposentado. Edílson diz até que correu muito risco, pois seu enviado poderia ter se apaixonado pela beleza que viu.
À primeira vista
Como nas histórias de amor da literatura clássica, o romance dos dois também teve “tragédias”. No primeiro encontro, planejado durante muito tempo, nada saiu como o previsto. O pretendente morava em Valparaíso e ela, no Guará, cidade desconhecida para ele. “Era um domingo e eu não tinha carro, então peguei um ônibus, desci na parada errada e fiquei totalmente perdido lá”, conta. Em uma época em que o celular era artigo de luxo, objeto exclusivo de estrangeiros, ele não conseguiu comunicar o atraso. Luseni achou que o relacionamento teria um fim antes mesmo do começo.
“A gente tinha marcado de ele ir lá em casa às 16h, mas demorou muito e aquilo foi me desanimando demais. Fiquei tão decepcionada que me desarrumei toda e fui para o quarto. Coloquei uma camisola e fiquei lá, triste, toda bagunçada”, lembra. Minutos depois de se deitar, a campainha dela tocou. “Era o Edílson! Eu o vi pela primeira vez e o achei tão lindo. Mas eu estava lá daquele jeito, desleixada.” A roupa de dormir não assustou o homem, mas ele também não estava pronto para o que viu. “Cheguei à casa dela e estava a família toda reunida. Os pais, irmãos, amigos dos parentes... todo mundo. Parecia que tinham preparado uma recepção para eu entrar e não escapar mais de lá”, conta.
O casal manteve a calma nos outros encontros. Quando se viam, andavam de mãos dadas, conversavam e se abraçavam quando queriam demonstrar que o amor estava crescendo. Antes do primeiro beijo, ele foi até o futuro sogro e pediu Luseni em namoro. “Aí, uns três ou quatro meses depois, quando menos esperava, apareceu o Edílson lá em casa de mala e cuia”, lembra ela. O companheiro se defende: “Era um sofrimento danado sair de Valparaíso para o Guará para me encontrar com ela, então, não era melhor a gente parar de ser besta e morar juntos logo? Fiz minha trouxinha de roupas e fui mesmo”.
Paciência e respeito
Passaram-se 31 anos desde o anúncio e a mudança. Hoje, os dois dão aula de como manter o amor mesmo depois de décadas de convivência. Com um filho de 25 anos, o casal se divide entre uma chácara no interior de Goiás e a casa em Samambaia. Brincando um com o outro quase o tempo todo, eles só ficam sérios quando explicam o motivo de a relação ter dado certo. “Eu sempre a respeitei e nunca a tratei mal. Relacionamento não tem receita, mas isso fez bem para a gente. Agora, eu me considero um cara rico, mesmo com pouco dinheiro”, declara ele. Luseni completa: “Quando escrevi o anúncio, eu queria alguém para me amar. E encontrei!”.