Cidades

FRIO, CRUEL E PRESO por tempo indeterminado

Sargento da Aeronáutica alegou ter atirado na esposa e em ex-vizinho por suspeitar que os dois tivessem um caso, mas o homem mantinha um relacionamento homoafetivo há mais de cinco anos e o companheiro dele testemunhou o crime

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 14/06/2019 04:18
Sargento da Aeronáutica alegou ter atirado na esposa e em ex-vizinho por suspeitar que os dois tivessem um caso, mas o homem mantinha um relacionamento homoafetivo há mais de cinco anos e o companheiro dele testemunhou o crime

Assassino confesso, o sargento reformado da Aeronáutica Juenil Bonfim de Queiroz, 56 anos, alega ter matado a mulher, Francisca Náidde de Oliveira Queiroz, 57, e o ex-vizinho Francisco de Assis, 41, em um prédio na Quadra 1405 do Cruzeiro, na noite de quarta-feira, por ciúmes. Síndico do edifício, ele acreditava que as vítimas mantinham um relacionamento. No entanto, o ex-morador do edifício era casado havia cinco anos com Marcelo Soares Brito, 40, que presenciou o crime e escapou de também ser assassinado devido à ação de policiais militares, que prenderam o atirador em flagrante. Esse é o 15; caso de feminicídio no Distrito Federal em 2019.

Ontem, a Justiça do Distrito Federal decidiu manter Juenil preso por tempo indeterminado. A prisão preventiva foi decretada pela juíza Maria Cecília Batista Camposa, durante audiência de custódia. Casados há 32 anos Juenil e Francisca tiveram dois filhos. O militar tem histórico de violência doméstica (Leia Para saber mais).

Marcelo e Francisco moraram no prédio onde Juenil era síndico, no Cruzeiro Novo. Há 10 meses, o casal homoafetivo deixou o imóvel, quando se mudou para Santa Maria. Na quarta-feira, Marcelo e Francisco foram ao cenário do duplo homicídio para buscar um computador no antigo apartamento deles, onde, agora, moram duas primas de Marcelo.

Crime filmado
Sobrevivente da tragédia, Marcelo usou o telefone celular para filmar a conversa no apartamento de Juenil, que os abordou no pilotis do prédio, quando ele e Francisco se despediam das primas de Marcelo. Armado com uma pistola calibre .380, o militar os obrigou a subir para o apartamento dele, no terceiro andar, onde estava a companheira, Francisca.

O Correio teve acesso às imagens do celular de Marcelo. Com 10 minutos de duração, elas mostram toda a discussão, as vítimas acuadas e os quatro disparos efetuados por Juenil. Antes de atirar, o sargento obrigou o casal homoafetivo a se sentar em um sofá, enquanto Francisca estava atrás dele. Ela caminhou em direção a um telefone celular, que estava em um rack, no intuito de pedir socorro.

;Se você pegar esse telefone, ele (Francisco) morre agora, estou te falando!”, ameaçou Juenil. Marcelo tentou acalmá-lo, mas o militar aumentou o tom de voz: ;Você (Francisco) desgraçou a nossa vida. Para mim, tanto faz matar ou morrer, é a mesma coisa. (...) Desde que te coloquei aqui em casa, você veio de safadeza. Pegou a minha mulher, certo? Eu queria te pegar sozinho. Mas Deus é tão bom que mandou o Marcelo aqui.;

Francisco negou qualquer envolvimento com a mulher de Juenil. Marcelo interveio, em uma tentativa de evitar a tragédia. ;Seu Queiroz, calma. Pode estar acontecendo um mal-entendido. O senhor tem que procurar, averiguar os fatos, entendeu? Para chegarmos a um consenso;, pediu. Mas o sargento não quis escutar os argumentos de ninguém.

Juenil ainda pediu para Francisco telefonar para o celular dele. Como a ligação não completou, o militar concluiu ser uma prova do suposto relacionamento extraconjugal. ;Está tão bem-arrumado que nem chamando tá. Certo?;, respondeu.

Pânico e tiros
Os últimos minutos do vídeo mostram o terror vivido pelas vítimas. Juenil tirou a arma da cintura, pegou projéteis e carregou a pistola. Algumas balas caíram. ;Eu gosto de resolver assim, pau no pau. Meu negócio é com esse safado e com ela, que é um anjinho;, falou, ironicamente.

Marcelo colocou a mão na câmera. ;Avisa os meus pais, Marcelo;: Estas foram as últimas palavras de Francisco. A partir de então, só é possível escutar o barulho dos tiros e o pânico na sala do imóvel. Juenil disparou primeiro em Francisco, atingido por dois projéteis.

O terceiro feriu Francisca, que começou a gritar de dor. ;Não morreu? Toma!”, disse Juenil ao disparar outras duas vezes na mulher. ;Pronto. É assim que a gente resolve. Pode chamar a polícia agora. Não sai, não (falando a Marcelo). É assim, beleza? Acabei com a minha vida. Mas acabei com quem me acabou;, completou o síndico.

Marcelo ainda tentou manter a calma. Fingiu procurar pelas chaves e, quando o sargento se distraiu, correu para fora do apartamento, batendo a porta. ;Foram momentos de terror. Quando ele atirou, o sangue manchou toda a parede. Quando consegui correr (do apartamento), me escondi e liguei para um amigo pedindo ajuda. Queiroz veio atrás para me matar, tenho certeza. Ele foi pego me cercando;, contou Marcelo ao Correio.

Acionada pelas primas de Marcelo, logo após Juenil obrigar as vítimas a subir com ele, uma equipe da PM prendeu o sargento em flagrante, com a arma em punho, e o levou para a 5; Delegacia de Polícia (Área Central).

Francisca morreu na hora. Francisco foi levado para ao Hospital de Base, mas não resistiu aos ferimentos e veio a óbito na madrugada de ontem. O corpo dele vai ser velado e enterrado hoje, na cidade natal, Teresina (PI). Até o fechamento desta edição, não havia informações sobre o sepultamento da mulher. O assassino confesso estava preso na Ala 1 do Comando da Aeronáutica, em Brasília.

Colaborou Mariana Machado





O autor

Juenil Bonfim de Queiroz, 56 anos

; Nascido em Alto Paraguai (MT)
; Sargento reformado da Aeronáutica e motorista de aplicativo
; Síndico do prédio onde ocorreu o crime
; Assassino confesso



As vítimas



Francisco de Assis, 41 anos

; Nascido em Teresina (PI)
; Morava em Santa Maria
; Estudante de gastronomia e informática
; Casado havia cinco anos com Marcelo Soares Brito, 40, que testemunhou o crime





Francisca Náidde de Oliveira Queiroz, 57 anos

; Natural de Martins (RN)
; Mulher caseira e religiosa, produzia peças de artesanato, vendidas em feiras
; Tinha dois filhos com Juenil, com quem era casada havia 32 anos




Para saber mais

Injúria, dano e agressão
Em função de ameaças do marido, Francisca Naídde de Oliveira Queiroz teve medidas protetivas deferidas pelo 2; Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Brasília em outubro de 2018. Juenil Bonfim de Queiroz foi acusado de injúria, dano e agressão. Em janeiro último, as medidas foram revogadas a pedido de Francisca. Em abril, houve uma audiência em que Francisca afirmou não ter interesse em oferecer queixa-crime contra Juenil.

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