Sarah Peres
postado em 15/06/2019 20:03 / atualizado em 11/09/2020 18:17
Francisco de Assis, 41 anos, foi velado e enterrado na manhã deste sábado (15/6), na cidade natal, Teresina. O estudante de gastronomia foi morto em um apartamento da Quadra 1405 do Cruzeiro Novo, na quarta-feira (12). O assassino confesso, sargento reformado da Aeronáutica Juenil Bonfim de Queiroz, 56, o executou a tiros. , alegando que as vítimas mantinham um relacionamento amoroso. Francisco, no entanto, era homossexual assumido e casado há cinco anos com Marcelo Soares Brito, 40, que presenciou o crime.
A cerimônia foi marcada por indignação. Mais de 100 pessoas participaram do enterro, entre elas os familiares da vítimas, amigos e conhecidos. Os parentes mais próximos de Francisco não quiseram falar com a imprensa, por ainda estarem muito abalados com a morte abrupta do homem. O viúvo, Marcelo, acompanhou a despedida do estudante pela internet.
;Esse é o pior momento da minha vida. Todo aquele horror ainda ecoa na minha mente. É claro que a revolta ainda existe, mas a minha vontade é de ver a justiça feita, para que aquele assassino possa pagar por tudo o que fez. Eu só temo que, por ele ser militar, o tratamento do processo seja diferenciado e a justiça não seja feita plenamente;, disse.
Para o único sobrevivente da tragédia, Juenil não deveria ser indiciado apenas pelo feminicídio de Francisca e o homicídio de Francisco. ;Nós fomos coagidos, sob mira de uma arma de fogo, a subirmos ao apartamento dele (o sargento). Também fomos obrigados a permanecermos na sala (onde ocorreu os assassinatos), porque ele nos trancou ali. A todo momento estávamos acuados, pois ele estava armado. Ele tinha que responder ainda por tentativa de homicídio, pois desceu armado atrás de mim. Só não fui morto porque a polícia chegou e o prendeu;, afirma Marcelo.
"Francisco era gay assumido e, enquanto moramos no prédio (do crime), o Juenil tratava meu marido com desprezo, se negando até a cumprimentá-lo nas áreas comuns do edifício;, relato Marcelo. ;Eu e o Francisco já o achávamos homofóbico por causa dessa atitude de desprezo. Nada faz sentido em toda essa história. Se ele sabia que o Francisco era gay e casado comigo, por que essa acusação irreal?;, finaliza.
O crime
Na noite de quarta-feira (12), Juenil e a mulher chegaram ao prédio onde moravam e o assassino era síndico, no Cruzeiro. Eles tinham passado o Dia dos Namorados na casa do filho deles, na Asa Sul. Francisco e Marcelo estavam no pilotis do edifício, acompanhados de duas familiares, que viviam no apartamento onde o casal havia morado por três anos. Eles decidiram se mudar há cerca de 10 meses para Santa Maria.
Juenil subiu com Francisca para a residência deles, no terceiro andar. A mulher ficou no local e o sargentodesceu novamente para a área comum do prédio. Armado com a pistola calibre .380, ameaçou o casal homoafetivo a subir até a casa dele. As familiares dos homens ligaram para a polícia. No apartamento, eles e a mulher do assassino foram coagidos a se sentarem no sofá da sala de estar. Marcelo usou o telefone celular para filmar a conversa e flagrou todo o crime. O Correio teve acesso ao material em primeira mão.
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Apesar de Marcelo e Francisco negarem qualquer acusação realizada por Juenil, foi tudo em vão. Foram mais de 10 minutos de terror que eles e Francisca viveram no apartamento. O militar atirou cinco vezes: duas em Francisco e três na mulher. Depois de cometer os assassinatos, se voltou para Marcelo e disse: ;Pronto. É assim que a gente resolve. Pode chamar a polícia agora. Não sai, não (falando a Marcelo). É assim, beleza? Acabei com a minha vida. Mas acabei com quem me acabou."
Marcelo conseguiu escapar do apartamento após testemunhar o duplo homicídio. Ele correu e gritou por socorro. Para não ser morto, se escondeu de Juenil, que desceu atrás dele. A Polícia Militar estava na área e prendeu o homem em flagrante. Ele foi encaminhado à 5; Delegacia de Polícia (Área Central), onde confessou tudo. Na quinta-feira (13), a Justiça converteu a prisão para preventiva. Ou seja, Juenil aguardará o julgamento atrás das grades.