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Artigo: Rhuan foi vítima de uma mente doentia. Não consigo chamá-la de mãe

Devemos a ele o reconhecimento de que foi um pequeno mártir, um anjo que merece a nossa reverência, a nossa homenagem, o nosso olhar mais atento a todas as crianças que sofrem por este mundo

Ana Dubeux*
postado em 16/06/2019 13:12
O menino RhuanQue difícil é escrever sobre Rhuan! Se existem as palavras certas para abordar o caso desta criança assassinada pela mãe e sua companheira, espero encontrá-las aqui, neste espaço, já que não falar sobre o crime deixou de ser uma opção para mim. Ao menos para purgar a dor a cada momento em que penso nessa história tão cruel, preciso externar meu sentimento, que é também seu, tenho certeza. Não dá para passar a borracha, fingir que não leu, virar a página e seguir adiante. Há dias e dias, o horror me visita.

Tenho agora lembranças que não tinha, desenho imagens de um filme de terror que não vi. As cenas me invadem sem parcimônia, causam repulsa e um sofrimento intenso, como se eu conhecesse Rhuan havia muito tempo. Uma criança sofrendo o máximo de dor que seu corpo físico era capaz de suportar. Violentada, emasculada, torturada, esfaqueada, esquartejada quando ainda tinha sinais vitais. Rhuan passou seus nove anos de vida como a vítima preferencial de uma mente doentia. Não consigo chamá-la de mãe.

Como tudo no Brasil atualmente, a história de Rhuan tem ganhado contornos impróprios, a meu ver. Nas redes sociais, o foco se perde e as interpretações voam, ganhando trajetos imprevistos. Discussão sobre gênero? Feminismo? E lá vem toda sorte de argumentos e o velho discurso raivoso contra a mídia tomando o espaço do fato, que é sórdido o suficiente para permanecer como é. Que seja: a terrível história de perseguição, violência, tortura e morte de uma criança chamada Rhuan.

Por nove anos, ele resistiu a toda sorte de violência. Devemos a ele o reconhecimento de que foi um pequeno mártir, um anjo que merece a nossa reverência, a nossa homenagem, o nosso olhar mais atento a todas as crianças que sofrem por este mundo. Se as autoras dessa barbaridade são lésbicas, fanáticas, pactuadas com o demônio e odeiam homens, pouco importa. Que sejam punidas pelo que fizeram, como manda a lei, ainda que só isso não nos conforte. Deixemos a explicação para os estudiosos da mente humana. Por aqui, a exigência deve ser de justiça e os pensamentos devem ser para que Rhuan encontre descanso e luz. Brasília ganhou mais um capítulo tristíssimo da sua história. E não devemos esquecê-lo.

*Ana Dubeux é diretora de Redação do Correio Braziliense

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