postado em 19/06/2019 04:18
Pela primeira vez, a Polícia Civil identificou criminosos ligados à facção da Família do Norte no Distrito Federal. Eles estavam instalados na Vila Dnocs, em Sobradinho, e faziam parte de uma organização criminosa com ramificações em Brasília e no Entorno. O grupo é suspeito de traficar drogas, comercializar armas, furtar celulares em grandes eventos ; o último ato ocorreu no Funn Festival, no Parque da Cidade ; e praticar roubos. Em uma operação desencadeada ontem por investigadores da 13; Delegacia de Polícia (Sobradinho), 31 pessoas foram presas.
Agentes cumpriram 11 mandados de prisão preventiva, 19 temporárias e um flagrante. Entre os acusados está uma mulher de 26 anos que trabalhava como funcionária terceirizada da 9; Delegacia de Polícia (Lago Norte). Segundo a investigação, Letícia Marques tentou acessar o sistema da Polícia Civil para repassar informações privilegiadas de operações ao grupo criminoso. Ela é prima do líder do bando, Alessandro Melgaço, 25 anos. A mãe e o irmão de Alessandro também foram presos.
As investigações começaram há oito meses, após a prisão de Alessandro, por receptação. Ele respondia ao crime em liberdade, mas teve as ligações telefônicas interceptadas pela polícia, que conseguiu levantar provas de que era ele quem articulava o grupo criminoso. ;Ele deixa bem claro nas ligações a intenção em negociar armas, drogas celulares. Para polícia, já é uma prova suficiente;, explica o delegado Hudson Maldonado, chefe da 13; DP.
;Aqui é Ceará;
Interceptações revelaram a ligação dos suspeitos com a Família do Norte. A polícia, agora, tenta descobrir se eles eram enviados pela facção criminosa ou apenas seguidores do grupo que liderou massacres em cadeias de Manaus (Leia Para saber mais). Um dos diálogos gravados mostra a referência dos criminosos ao grupo: ;Aqui é Ceará. A gente tem que honrar a FDN, a Família do Norte;, disse um dos homens durante conversa entre traficantes e vendedores de armas presos.
Para Maldonado, os contatos demonstram que a FDN atuava para tentar se estabelecer na capital. ;A informação é de que a facção mandava pessoas para o Distrito Federal, sob o pretexto de elas trabalharem com atividades lícitas, no mercado de hortifruti, mas, na verdade, esses ;soldados; teriam a missão de estabelecer um braço da Família do Norte na capital;, afirma o delegado.
Líderes da facção também enviavam seguidores do Nordeste, apontam as investigações. Segundo Maldonado, os criminosos agiam de forma violenta. ;Embora não sejam pessoas bem articuladas, as interceptações telefônicas já demonstraram grau de agressividade de impetuosidade desses criminosos;, revela.
Agora, o delegado quer aprofundar as investigações, mas refuta qualquer relação de presos do sistema carcerário com o grupo. ;Descartamos qualquer ligação das menções feitas à FDN com algum preso que possa estar no sistema carcerário do DF. Não acreditamos no fortalecimento de uma facção, nem dentro do presídio, nem que ali dentro possa influenciar quem está de fora. Nosso sistema é exemplar;, garante.
Audiência de custódia
Todos os presos vão passar por audiência de custódia hoje. A Justiça vai determinar se eles permanecem presos ou se podem ser liberados. Independentemente da decisão, os suspeitos vão ser indiciados por associação criminosa, furto e receptação de celulares, porte e posse ilegal de arma, tráfico de entorpecentes e roubos. Alguns vão responder também por associação criminosa. As penas podem chegar próximo dos 30 anos.
As prisões ocorreram de forma simultânea em Sobradinho I, Sobradinho II, além do Paranoá, São Sebastião, Planaltina e Planaltina de Goiás, a 70Km de Brasília. Policiais também cumpriram duas conduções coercitivas, quando as pessoas são levadas à delegacia para prestar depoimento, mas são liberadas logo em seguida. Com o grupo, policiais apreenderam sete armas de fogo; nove celulares; um notebook; uma balança de precisão; porções de maconha e cocaína e comprimidos de Rophynol.
Para saber mais
Lideranças em Brasília
Reportagem publicada pelo Correio em 30 de maio alertou sobre os riscos da transferência de nove homens apontados como líderes da chacina nos presídios de Manaus (AM) para Brasília. Trata-se de mais uma facção criminosa dentro dos presídios do Distrito Federal. Eles foram transferidos para a Penitenciária Federal de Segurança Máxima em 28 de maio.
A Família do Norte (FDN) é apontada como responsável pela morte de 55 internos em quatro cadeias da capital amazonense, em maio, e da execução de outros 56 detentos, em janeiro de 2017. No extermínio de dois anos atrás, todos os alvos eram integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), que também tem chefes alocados no DF, incluindo o número um, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.