postado em 19/06/2019 04:19
Quadras 500 do SudoesteÉ preciso ficar atento ao meio ambiente, pois estamos envolvidos em mutações dramáticas. A natureza está transtornada. Mudou até a canção de Tom Jobim, que, de Águas de março, se transmudou em águas de junho: ;São as águas de junho fechando o verão;.
Apesar de toda onda obscurantista em relação ao tema, 21 projetos relativos ao meio ambiente são discutidos na Câmara Legislativa. É um sinal positivo em uma Casa que constituiu histórico de escândalos e vexames ao longo do tempo. Os efeitos do descaso com o tema não são distantes nem nos deixa imunes. Podem ser experimentados cotidianamente.
Nos últimos anos, durante o estio, sofremos com um calor insuportável, que, algumas vezes, não dá trégua sequer de madrugada. Fiquei assustado, há três anos, comprei uma dúzia de bananas no mercado no período da manhã e, quando cheguei à minha casa, à noite, as bananas estavam com manchas negras na casca. Sem amadurecerem, apodreceram. Foi um sinal claro de desarmonia da natureza.
E, mesmo assim, aprovaram, de maneira absurda, a construção de 22 prédios residenciais e seis comerciais nas quadras 500 do Sudoeste, próximo ao Parque Ecológico das Sucupiras. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) barrou, mais uma vez, na Justiça, em decisão liminar, as licenças que liberavam o empreendimento. É inexplicável que o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) tenha autorizado as edificações em abril.
Agora está, momentaneamente, proibida qualquer alteração ambiental, sob pena do pagamento de multa de R$ 100 milhões. A liminar concedida pelo juiz Carlos Frederico Maroja, da Vara do Meio Ambiente, toca no ponto crucial do problema. A cidade sofre com problemas de crise hídrica e com a expansão da malha urbana: ;Tal situação impõe aos órgãos fiscalizadores uma atenção especial para com os últimos espaços remanescentes de vegetação, de modo a não se agravar ainda mais o deficit ambiental do DF e violar o princípio da proibição de proteção insuficiente ao meio ambiente;, declarou.
Autorizar a expansão da área residencial no Sudoeste é uma decisão inteiramente insensata. Os estudos de impacto ambiental estão desatualizados. No entanto, mesmo sem qualquer aferição mais rigorosa, é possível perceber claramente que o bairro sofre com um terrível fluxo de carros, principalmente nos horários de pico, no início da manhã, na hora do almoço e no fim da tarde.
Se o projeto das quadras 500 for edificado, serão mais de 3 mil veículos circulando pela região, segundo cálculo de especialistas. O regime das chuvas, o movimento de veículos e os efeitos no clima precisam ser reavaliados por novos estudos. A Câmara Legislativa precisa entrar nesse debate. É isso o que os brasilienses esperam dela para reverter a imagem negativa. O preço da omissão será pago por várias gerações. Quem vai nos proteger?